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OPINIÃO ECONÔMICA
Futuro do Brasil
GESNER OLIVEIRA
No passado, o Brasil era
sempre lembrado como o
país do futuro. Passaram-se anos
e décadas e o Brasil não correspondeu às expectativas. Virou
piada. Parecia destinado a ser
sempre o país do futuro. Atualmente, a situação é ainda mais
grave. A incapacidade de aproveitar a excepcional conjuntura
mundial dos últimos anos acentuou a frustração. Gerou uma perigosa desesperança, uma sensação de país sem futuro.
O mercado financeiro olha apenas o curto prazo. Os detentores
de papéis brasileiros têm razão
para otimismo em relação a 2006.
Parece um ano razoável, bem menos tenso do que o ano eleitoral de
2002. A economia deverá crescer
entre 3% e 4%. Mas e depois?
Qual a perspectiva de médio e
longo prazo? Como o país poderia
assegurar um desempenho razoável em meio a conjunturas externas adversas?
Há diferentes formas de reencontrar o caminho do crescimento sustentado. Há reflexões importantes dentro e fora do país
acerca desse tema. Um exemplo é
o do Centro de Estudos Brasileiros
da Universidade de Columbia, de
onde passo a contribuir semanalmente para esta coluna nos próximos meses. Há um debate intenso
e plural acerca dos rumos da
América Latina e do Brasil.
Não há uma única fórmula para resgatar o crescimento sustentado, para deixar de mirar com
inveja as taxas de crescimento da
China e da Índia. A receita do bolo inclui pelo menos sete ingredientes.
Em primeiro lugar, é preciso
acertar a dose do remédio antiinflacionário. Não se pode errar na
mão com a taxa de juros. É impossível ser campeão mundial de
juros reais e de crescimento ao
mesmo tempo. Pois quem paga a
conta é o Tesouro e a produção.
Em segundo lugar, o país precisa passar por um choque de gestão que reduza significativamente o desperdício. A maior parte
desse dever de casa deve ser feita
pelo setor público. Os menores encargos financeiros aliados ao controle de gastos correntes ensejariam redução em bases sólidas do
endividamento do Estado. Isso
permitiria redução do risco e
maior espaço para desonerar os
investimentos produtivos.
Em terceiro lugar, a possibilidade de recuperação do investimento público teria de vir complementada pela inversão privada.
Infelizmente, ao contrário do investidor financeiro de curto prazo, o investidor de longo prazo está inseguro em relação ao Brasil.
Operadores estratégicos importantes estão deixando o país em
vez de aplicar recursos em mercado tão carente de infra-estrutura.
Isso se deve à falta de regras claras
e de perspectiva de crescimento
sustentado.
Em quarto lugar, o Brasil precisa de um choque de produtividade que passa por um salto educacional. É hora de emprestar um
pouco do legítimo orgulho que
sentimos pela seleção brasileira
para outras áreas, especialmente
de conhecimento. O Brasil não
pode, por exemplo, aceitar a posição de lanterninha em aprendizado de matemática. Países asiáticos estão fazendo o salto para a
economia do conhecimento. O
Brasil não pode ficar marginalizado.
Em quinto lugar, o salto educacional deve repercutir no setor
produtivo mediante estímulo sistemático à inovação e ao empreendedorismo. Chama a atenção a ênfase dada a esse ponto pelo programa da recém-eleita presidente do Chile, Michel Bachelet.
Em sexto lugar, o empreendedorismo só vai deslanchar mediante
um choque de desburocratização
e desoneração da produção e do
investimento. O excesso de carga
tributária sufoca a economia na
atualidade.
Por último, o Brasil precisa procurar de forma prioritária e pragmática o acesso a mercados externos. Para isso, não bastam pomposos acordos internacionais.
Mas é indispensável ter produtos
e serviços melhores, desejados pelos consumidores mundiais e naturalmente mais baratos.
O caro leitor não assiste a novela, mas, se assistisse, teria concordado com a personagem Bia, que,
irada e com a vida que lhe confere
o talento de Fernanda Montenegro, deu um basta no gerundismo
de sua assistente. Chega de "vou
estar fazendo" e, sobretudo, de
"vou estar falando"! É preciso
mudar o tempo do país. E usar o
futuro com a determinação de
quem cumpre metas preestabelecidas e compatíveis com um plano
consistente de desenvolvimento.
Gesner Oliveira, 49, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), presidente do Instituto Tendências e ex-presidente do Cade. Atualmente, é professor visitante do Centro
de Estudos Brasileiros na Universidade
Columbia (EUA).
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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