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Pacote não garante crescimento maior
Aumento do investimento para 25% do PIB é condição para o país ter expansão anual próxima de 5%, dizem economistas
Fiesp defende redução do gasto público, dos juros e da carga tributária para liberar mais recursos que poderiam ser destinados à produção
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Para crescer a taxas próximas de 5%, o Brasil precisa de
muito mais do que as medidas
do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do que a
melhoria dos indicadores macroeconômicos registrada nos
últimos anos, na opinião de
empresários e economistas ouvidos pela Folha.
A primeira condição adicional é a continuidade do processo de redução da taxa básica de
juros, a Selic. Dois dias depois
do anúncio do PAC, o Banco
Central decidirá se mantém o
ritmo de corte dos juros e reduz a taxa em 0,5 ponto percentual, para 12,75%, ou se pisa
no freio e opta por uma queda
de 0,25 ponto percentual.
A diferença numérica é mínima, mas o peso simbólico de
uma decisão do Banco Central
nunca foi tão grande aos olhos
do setor privado.
"Se o pacote sair com boas
notícias e os juros caírem só
0,25 [ponto percentual], mostrará o quanto o governo não
está afinado na direção do crescimento", diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp (federação das
indústrias de São Paulo).
Em sua opinião, a expansão
do PIB a taxas mais elevadas
decorrerá de um conjunto de
medidas coerentes, e não de
decisões isoladas e contraditórias. "Não adianta fazer um
bem aqui com o pacote e um
mal ali com os juros."
Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), avalia que um corte
de 0,5 vai referendar o PAC,
enquanto um de 0,25 será um
"balde de água fria".
"A sinalização da taxa de juros é muito importante: forma
expectativas quanto ao crescimento, afeta o consumo e mostra a convergência do Banco
Central em relação ao estímulo
ao crescimento que o governo
está dando", afirma Pereira.
Investimento
Mas a queda de juros também não é suficiente. "O Brasil
teve taxas de juros negativas
durante quase toda a década de
80 e não cresceu", observa o
economista Eduardo Giannetti
da Fonseca, professor do Ibmec-SP. Para Gianetti, a alta taxa de juros não é causa, mas
sintoma dos problemas do país.
Quando instados a apontar a
condição sem a qual o crescimento não ocorre, todos elegem o aumento dos investimentos. A experiência internacional mostra que os países detentores de altas taxas de expansão possuem elevados índices de investimento.
O exemplo mais atual é o da
China, que cresce em média
9,6% ao ano desde 1978. A taxa
de investimento da China ficou
acima de 30% do PIB em todos
os últimos 28 anos e superou os
40% desde 2004. Nos anos 60,
70 e parte dos 80, quando era o
que a China é hoje, o Japão investia cerca de 35% do PIB.
No Brasil, a taxa de investimento é historicamente mais
baixa e estacionada há anos na
faixa dos 20% do PIB. "Taxa de
investimento de 20% serve para crescer 2%, 3%. Para crescer
5%, o Brasil precisa investir
25% do PIB ao ano", afirma
Sérgio Vale, economista da MB
Associados. A relação entre
25% de investimento e 5% de
crescimento é apontada por todos os entrevistados.
"Investir é transferir recursos do presente para o futuro. O
Brasil vive pendurado no presente", ressalta Gianetti, autor
do livro "O Valor do Amanhã".
Produção
Quando investe, um país destina recursos para atividades
como construção de fábricas,
compra de máquinas, abertura
de estradas e modernização de
portos. Isso aumenta a capacidade de produção e, em conseqüência, eleva o crescimento.
Mas, para ocorrer, o investimento também requer condições, que não se esgotam em
uma taxa de juros mais baixa.
A mais elementar é a existência de recursos disponíveis na
economia. No caso brasileiro,
grande parte do dinheiro que
poderia ser usado para investimentos termina tragada pelo
setor público, que consome
39% do PIB por meio da carga
tributária e ainda precisa tomar emprestados mais 3% do
PIB para fechar suas contas.
O problema é agravado pelo
fato de o setor público investir
apenas 1,5% do PIB, incluindo
União, Estados e municípios.
Os restantes 18,5% do PIB para
fechar a conta dos 20% são investidos pelo setor privado.
Metade do que o governo federal arrecada é destinada ao
custeio da máquina administrativa. Cerca de um terço vai
para a Previdência e uma fatia
de quase 20% é usada no pagamento de juros da dívida.
"O PAC ajuda, é positivo, mas
o Brasil não vai desengessar
com medidas pontuais. Precisamos de um conjunto de medidas que inclua a redução do
gasto público, a diminuição da
carga tributária, a desoneração
do investimento e a desburocratização", ressalta Skaf.
A diminuição do gasto público e da carga tributária seria o
caminho para liberar recursos
que poderiam ser destinados ao
aumento do investimento.
Outras condições são regras
claras e estáveis e expectativas
favoráveis de obtenção de lucro. É aí que entra outra variável importante: a taxa de câmbio. Quanto mais valorizada estiver a moeda local, maior será
a possibilidade de importação
de produtos que vão competir
com os fabricados no país.
Tanto a Fiesp quanto o Iedi
sustentam que a atual taxa de
câmbio desestimula investimentos, ao reduzir o preço dos
produtos importados. E apontam de novo para a taxa de juros, considerada um dos fatores
de atração de dólares que pressionam o real.
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