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OPINIÃO ECONÔMICA
As agências reguladoras e a terceirização do governo
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Termino hoje esta trilogia
em defesa das agências reguladoras dos serviços públicos essenciais. A recente decisão do Diretório Nacional do Partido dos
Trabalhadores de defender a volta aos ministérios setoriais, do poder de regular esses serviços, estimula-me ainda mais nesta missão. É direito do governo atual
procurar impor seus valores e
pontos de vista à forma como o
Estado brasileiro está organizado. Mas terá de fazê-lo via Congresso, discutindo com os representantes da sociedade e com a
opinião pública as vantagens e
desvantagens de seu modelo em
relação ao atual.
Até agora, as críticas de alguns
ministros do governo Lula às
agências reguladoras têm sido feitas em clima de palanque eleitoral. Problemas de natureza conjuntural, como a elevada correção das tarifas em função da variação anual do IGP ou do IGP-M, são citados como provas irrefutáveis de seu fracasso. Nenhuma análise mais profunda sobre
vantagens e desvantagens de um
ou outro modelo veio ainda a público.
Terminei minhas reflexões da
semana passada falando sobre a
necessidade de estabelecer uma
política de tarifas públicas que
atenda dois objetivos quase sempre conflitantes: a demanda dos
consumidores por preços compatíveis com sua renda nominal e a
necessidade de garantir às concessionárias de serviços públicos
um retorno adequado para seus
investimentos.
O modelo implantado durante
o governo FHC procurou lidar
com essa questão trabalhando
com dois conceitos: a correção
anual das tarifas por um índice
de preços e uma revisão desses valores de quatro em quatro anos. O
primeiro mecanismo procura
manter inalterado o valor real
das tarifas, levando em conta os
custos efetivos da concessionária
para realizar suas obrigações. O
segundo procura corrigir desvios
que eventuais ganhos de produtividade e de eficiência ao longo
desse período possam ter sobre a
rentabilidade das empresas. Nesse caso, parte deles deve ser repassada para o consumidor via tarifas reais menores.
No caso do indexador a ser utilizado para a correção das tarifas,
o governo tinha duas opções: o IPCA ou o IGP. O primeiro indexador é perfeito para nivelar o valor
da tarifa com a renda do consumidor residencial; o segundo é
uma "proxy" mais favorável para
o investidor por incorporar, de
maneira mais direta, o impacto
da taxa de câmbio no valor da tarifa.
A maioria dos setores que respondem pelos serviços públicos
essenciais é intensiva de capitais.
Os investimentos, para expandir
ou modernizar sua capacidade
produtiva, exigem financiamentos de longo prazo a fim de financiá-los. Como não existem no
Brasil -com exceção do
BNDES- alternativas de recursos de longo prazo em reais, a obtenção de empréstimos em moeda
forte é essencial. Por isso a importância de considerar o IGP como
indexador das tarifas. Cito o caso
de Itaipu, em que a única forma
de viabilizar sua construção foi a
vinculação de sua tarifa à taxa de
câmbio.
Por esse motivo a decisão tomada em 1996, no caso do setor elétrico, e em 1998, no caso das telecomunicações, foi optar pelos
IGPs. Evidente que naquele momento não se podia prever a crise
cambial do ano passado e a desvalorização do real. De qualquer
forma, a alteração periódica das
tarifas tem a função de corrigir
efeitos exagerados do IGP no retorno dos investimentos.
Outro ponto importante do sistema atual é a questão da universalização dos serviços. Em um
país com distribuição de renda
desigual, como o Brasil, é necessário que a oferta de serviços para
as classes de renda mais baixa seja regulada de forma contratual,
como obrigação dos concessionários. Esses clientes, por serem deficitários em termos econômicos,
não seriam atendidos se prevalecesse apenas a lógica de mercado.
Os contratos atuais são claros ao
tratar essa questão.
Termino aqui estas minhas
ponderações. Espero ter dado ao
leitor a oportunidade de refletir
sobre questões que, apesar de serem técnicas e maçantes, são necessárias para poder participar
das discussões que vão ocorrer, no
futuro, sobre as mudanças no
modelo das agências. Quando isso ocorrer, estaremos diante de
uma alternativa clara: procurar
identificar alguns pontos falhos
na regulação de hoje e corrigi-los
a partir de uma ampla discussão
pública ou entrar no clima de palanque eleitoral, que tem sido a
marca das intervenções recentes
de alguns membros do governo.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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