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Governo "congela" alta de tributo de bebidas
Decreto que atualiza base de cálculo não foi publicado em janeiro; fabricantes regionais dizem que houve pressão de grandes grupos
Para associação de fábricas menores, mudança corrigiria distorção e grandes pagariam mais; tabela tinha problemas, rebate entidade de cervejarias
Juca Varella - 4.mar.02/Folha Imagem
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Linha de produção de cervejas; fabricantes menores querem explicação do governo sobre não atualização de tabela para atributos
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Afrebras (associação que
representa fabricantes regionais de refrigerantes) vai pedir
audiência para que o ministro
da Fazenda, Guido Mantega, e
representantes da Receita Federal expliquem por que o decreto que atualiza a base de cálculo de IPI, PIS e Cofins de refrigerantes e cervejas não foi
publicado em janeiro, como foi
acordado com o setor.
A mudança prevista no decreto implicaria mais pagamento de impostos pelos grandes fabricantes, diz a associação. Isso ocorre porque os preços dos produtos das grandes
indústrias são mais altos, e, assim, a base de cálculo do imposto é maior, segundo a Afrebras.
Desde o ano passado, IPI, PIS
e Cofins incidem sobre o preço
de venda ao consumidor, conforme a lei nº 11.727, de junho
de 2008, que passou a vigorar
em janeiro do ano passado. Antes disso, era estabelecido um
valor fixo por unidade vendida.
A AmBev, a Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas) e o
Sindicerv (sindicato das cervejarias) informam que, em todas
as reuniões que ocorreram com
a Receita e a Fazenda, a Afrebras estava presente e concordou com a manutenção da atual
base de cálculo de impostos.
A Afrebras informa que o que
ficou decidido foi a atualização
dos preços e que o Ministério
da Fazenda não publicou o decreto por pressão dos grandes
fabricantes. "Ao fazer isso, o governo beneficiou as grandes
empresas, principalmente a
AmBev, e prejudicou todo o setor", afirma Fernando Bairros,
presidente da Afrebras. "O
lobby do poder econômico funcionou mais uma vez no país."
O decreto corrigiria, na avaliação da Afrebras, distorções
(com a atualização de preços)
que ocorreram com a publicação do decreto nº 6.707, de dezembro de 2008, que estabelece a base de cálculo dos tributos
federais. O levantamento de
preços foi feito pela FGV (Fundação Getulio Vargas) em outubro e novembro de 2009.
"O que a AmBev constatou,
após as pesquisas da FGV, é que
haveria um sensível aumento
de impostos a recolher por conta dos reajustes de preços dos
produtos no período. A nossa
estimativa é que, sem o decreto,
a AmBev deixa de recolher para
os cofres públicos cerca de R$ 1
bilhão por ano", afirma Bairros.
A AmBev não confirma.
Ele diz que a pressão da AmBev sobre o governo se tornou
mais "explícita" quando a empresa tentou "desqualificar" a
pesquisa de preços feita pela
FGV e coordenada pela Receita
Federal. "Como não conseguiu,
passou a pressionar a Fazenda.
Sabemos que a Receita é favorável ao novo decreto, mas o
ministério brecou a sua publicação. Por que o governo está
abrindo mão dessa receita?"
Ministério
Há um mês, o ministério informou que adiou o aumento
de tributação do setor de bebidas após representantes das
empresas alegarem que este seria um ano "de muitos investimentos" e que, com o aumento
de tributação, teriam de subir
preços de produtos ou reduzir o
ritmo de expansão. Mantega
chegou a marcar uma reunião
do setor com o presidente Lula.
Para a Afrebras, a atualização
da base de cálculo faz "justiça
tributária". É que, segundo estudo apresentado pela Receita
às entidades do setor, 62 itens
da linha de refrigerantes e 45 da
linha de cervejas pagariam menos imposto com novos preços.
Enio Rodrigues, superintendente-executivo do Sindicerv,
afirma que todo o setor concordou com o adiamento da publicação do decreto por entender
que a metodologia da FGV para
apurar preços não estava adequada, pois considerava os preços só em algumas cidades.
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