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TRABALHO
Crescem empresas que fornecem serviços de apoio para altos executivos que têm patrimônio e boa qualificação
Desempregado de luxo cria novo mercado
da Equipe de Articulistas
As ondas de demissões e enxugamento em níveis intermediários e
mesmo na alta gerência das empresas cria um novo tipo de desempregado, que tem renda e qualificação. Prosperam também as
empresas que oferecem produtos e
serviços para esse desempregado,
que em geral sai do emprego com
uma poupança razoável ou um
polpudo saque no FGTS.
O desempregado de luxo é um
cliente cobiçado por consultores,
empresas de recolocação profissional, "headhunters" (literalmente, caçadores de cabeças) e psicólogos. Apesar (e por causa) da crise,
surge um interessante nicho de
mercado.
Um executivo de alto padrão
num dos maiores bancos do país,
que prefere não se identificar, estava há mais de um ano trabalhando
no desenvolvimento de uma nova
linha de produtos financeiros.
Com a crise, o banco decidiu suspender totalmente o projeto e demitiu o executivo. Mas ofereceu
um pacote de apoio, por tempo indeterminado, até que ele encontre
uma nova posição.
O pacote foi contratado numa
empresa que presta esse tipo de
serviço e oferece apoio na elaboração de currículo, na sua divulgação
e, durante a transição, um pequeno escritório com telefone, fax, e-mail e secretária.
O executivo afirma ser melhor
assim do que ir para casa e ficar de
pijama, angustiado, gastando a
poupança para bancar o nível de
vida alcançado. Demitido há pouco mais de três meses, ele ainda
não encontrou outra colocação,
mas a possibilidade mais interessante de emprego novo acabou
surgindo por meio de um amigo,
que o indicou para entrevistas numa multinacional.
Aliás, ele conheceu esse amigo
num emprego mais antigo, o que
revela a importância das boas relações em cada emprego como uma
espécie de seguro contra o desemprego futuro.
Serviços
A Saad Fellipelli Recursos Humanos é uma dessas empresas que
atende ao mercado de desempregados de alto nível. Dirigida por
duas psicólogas, Adriana Fellipelli
e Eliane Saad, a empresa opera
com duas divisões, uma para pessoa física e outra para pessoa jurídica. Mantém uma equipe de 34
pessoas em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba e inclui, entre seus
clientes, até mesmo um presidente
de grande empresa.
Adriana afirma que o negócio teve uma primeira onda de crescimento depois do Plano Collor. De
lá para cá, não parou de se expandir e, hoje, inclui serviços não só de
recolocação profissional, mas também de atuação preventiva ("coaching").
Empresas que constatam dificuldades de relacionamento em equipes ou quedas de desempenho
contratam serviços de avaliação
psicológica de seus funcionários. A
Saad Fellipelli aplica um teste importado dos EUA, conhecido como MBTY (Myers Briggs Type Indicator). É uma adaptação da noção de arquétipo de Carl Gustav
Jung (1875-1961).
Uma abordagem semelhante é
adotada pela empresa Lens & Minarelli, que defende a necessidade
de o profissional "tomar conta da
própria carreira". José Augusto
Minarelli é autor do livro "Empregabilidade - Como Ter um Trabalho e Remuneração Sempre" e oferece serviços de recolocação para
empresas que estão em vias de demitir um funcionário.
A alternativa à recolocação profissional é se convencer de que o
mundo do emprego está desaparecendo e que, de agora em diante,
vão predominar formas novas de
trabalho. "O importante é identificar necessidades não atendidas",
define o consultor Dino Mocsányi,
que tem oferecido cursos de "capacitação e aperfeiçoamento de consultores de empresas".
Mocsányi já trabalhou como engenheiro em empresas como Siemens e Motorola, chegando a vice-presidente da empresa de consultoria Phillip Crosby. Em 1993, avaliando que seus caminhos na empresa estavam limitados, ele resolveu abrir uma empresa de consultoria em gestão de empresas e controle de qualidade.
"Mas logo vários amigos e ex-clientes começaram a me procurar, perguntando como era a vida
de consultor, pedindo dicas, vários
aliás ainda bem empregados", relata. Percebendo nessa demanda
um nicho de mercado, ou seja, a
existência de uma necessidade não
atendida, Mocsányi começou a dar
consultoria sobre como é a vida de
um consultor.
Uma de suas referências é o norte-americano William Bridges,
que afirma estarmos no início de
uma época em que haverá cada vez
mais trabalho, porém menos empregos com carteira assinada, previdência social e férias garantidas.
Além da recolocação e da opção
pela consultoria, também têm
crescido os serviços de apoio à formação de micro e pequenas empresas, nicho em que se destaca o
Sebrae (Serviço de Apoio à Pequena e Média Empresa).
Segundo um consultor que faz
atendimento num dos balcões da
instituição, o maior problema entre os candidatos à utilização de
uma poupança ou FGTS levantado
na demissão é a incapacidade de
atuar como autêntico empresário.
Depois de passar vários anos
confinado a um escritório, seguindo uma rotina e obedecendo a uma
hierarquia, o candidato a empresário tem dificuldades para atuar
"por conta própria". Há centenas
de casos de gente que gasta toda a
poupança numa franquia, por
exemplo, que ao quebrar deixa a
pessoa desempregada e sem poupança.
(GILSON SCHWARTZ)
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