São Paulo, domingo, 21 de março de 1999

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TELECOMUNICAÇÕES
Crise produz resultado vermelho; em 97, lucro foi de US$ 125, 5 mi
Globopar tem prejuízo de US$ 293, 4 milhões em 98

ELVIRA LOBATO
ANNA LEE
da Sucursal do Rio

De acordo com o balanço divulgado segunda-feira em Nova York, a Globopar (Globo Comunicações e Participações, que controla parte dos negócios da família Marinho) teve prejuízo de US$ 293,38 milhões no ano passado. Em 97, havia lucrado US$ 125,5 milhões.
Todas as empresas do grupo foram afetadas pela crise, embora de formas diferentes. O documento apresentado ao mercado financeiro norte-americano mostra que até a TV Globo foi atingida, apesar de ter fechado o ano com lucro superior ao de 97 (US$ 115,57 milhões contra US$ 105,72 milhões).
A TV não não faz parte da Globopar, mas o relatório faz menção a seus resultados porque ela é garantidora dos títulos de dívida da Globopar no mercado internacional.
A TV Globo enfrentou queda da receita publicitária do mercado de televisão -que encolheu de US$ 4 bilhões em 97 para US$ 3,8 bilhões em 98)- e aumento dos custos de programação e dos direitos de transmissão.
Em razão da crise, a emissora adiou os investimentos que não tinham perspectiva de retorno financeiro no curto prazo, reduziu em 7% o quadro de pessoal e cortou US$ 10 milhões nas despesas administrativas.
A principal causa do prejuízo da Globopar foi a redução da verba que lhe é repassada pela TV Globo, como aluguel dos estúdios de gravação, que estão registrados em nome da holding.
Em 97, a TV Globo transferiu US$ 312,7 milhões para a Globopar como aluguel dos estúdios. No ano passado, reduziu o repasse para US$ 230,28 milhões, que, ainda assim, representaram 97% da receita da holding. Com a crise, os dividendos pagos pelas subsidiárias caíram de US$ 22,8 milhões em 97 para US$ 6,8 milhões em 98.
O balanço mostra que a Globopar fechou o ano com dívidas de US$ 2,04 bilhões, dos quais US$ 1,32 bilhão é débito direto da holding. Ela responde por mais US$ 705 milhões em dívidas referentes a sua participação nas subsidiárias.
Segundo o relatório, 27% das dívidas da holding (US$ 360 milhões) vencem este ano, e, para fazer frente aos pagamentos, as Organizações Globo poderão se desfazer de negócios que não estejam vinculados a sua atividade principal (mídia).
Uma das negociações em andamento é a venda da participação da Globopar na NEC do Brasil . A família Marinho tem a maioria das ações com direito a voto da empresa e quer vendê-las para seu sócio estrangeiro: a NEC, do Japão.
O grupo vem se desfazendo de ativos desde o ano passado. Em novembro, vendeu para a Telecom Italia as ações da Tele Celular Sul e da Tele Nordeste Celular, que havia adquirido no leilão da Telebrás. Como o negócio só foi autorizado pelo governo em janeiro, os US$ 113 milhões obtidos com a venda só se refletirão no balanço de 99.
A extensão da crise vivida pelas subsidiárias da Globopar pode ser avaliada pelo desempenho da NEC do Brasil, uma das maiores fabricantes de equipamentos de telecomunicações do país. A empresa passou de um lucro de US$ 170 milhões em 97 para um prejuízo de US$ 29,7 milhões em 98. Suas dívidas saltaram de US$ 786 milhões para US$ 1 bilhão.
O relatório atribui o mau desempenho da NEC a três fatores: queda dos preços dos equipamentos pela extrema competição entre os fornecedores, atraso nas encomendas por causa da privatização da Telebrás e redução da margem de lucro nos novos contratos.
A Globopar registrou perda de equivalência patrimonial em todas as suas subsidiárias. As perdas foram de US$ 264,8 milhões na Globo Cabo, US$ 6,5 milhões na UGB (União Globo Bradesco, que concentra os investimentos em telefonia celular), US$ 3,7 milhões na Globosat, US$ 7,2 milhões na São Marcos (empreendimentos imobiliários) e US$ 3,9 milhões na NEC.
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Outro lado
A direção da Globopar não quis comentar o balanço. Procurado pela Folha, o diretor-executivo da holding, Mauro Molchansky, disse que todas as informações que o grupo tem a dar estão no balanço.



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