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MP que ajuda empresas após apagão cria mais subsídio e financiamento e também beneficia indústrias
Lei de perdas dá ganho extra ao setor elétrico
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Passou uma boiada pela porteira da MP 14, a medida provisória
aprovada na terça-feira passada
pelo Senado e que regulamentou
a compensação das perdas reclamadas pelas empresas do setor
elétrico com o racionamento.
Alguns desses "bois" entraram
na última hora, tangidos pelas
mãos do relator da MP, deputado
José Carlos Aleluia (PFL-BA). Total da fatura, segundo especialistas do setor ouvidos pela Folha:
R$ 22,6 bilhões [veja quadro".
Esses especialistas dizem que na
conta que está sendo paga pelos
consumidores -via aumento de
tarifas em vigor desde 1º de janeiro- entraram subsídios à conta
de luz de setores da indústria, o financiamento dos gasodutos a serem construídos para alimentar
as termelétricas do programa
emergencial e uma conta que é
uma caixa-preta, a da energia "livre" comercializada no MAE
(Mercado Atacadista de Energia).
Na última hora
Parte dos custos inseridos na
MP para serem cobertos pelos aumentos de 2,9% para os consumidores residenciais e 7,9% para os
industriais e comerciais foram introduzidos na última hora pelo
relator do projeto, afirmam especialistas.
Uma das mudanças é um subsídio de duas mãos aos setores industriais grandes consumidores
de energia (fabricantes de cimento, alumínio, ferroligas e siderurgia). "Os benefícios às indústrias
eletrointensivas entraram na última hora, não constavam da versão original da MP, isto é, o acordo firmado em dezembro pelo setor", diz Ildo Sauer, professor de
pós-graduação em energia da
USP (Universidade de São Paulo).
Enquanto toda a indústria teve
um reajuste de 7,9% nas tarifas, os
eletrointensivos foram premiados com um reajuste de 2,9%. Pelas contas de Sauer, Aleluia promoveu um alívio de R$ 120 milhões por ano ou R$ 720 milhões
em seis anos (tempo que deverá
durar o reajuste tarifário extraordinário) só para os setores siderúrgico, de alumínio e ferroligas.
Além desse "desconto" nas contas de luz, esses setores industriais
ainda têm uns trocados a receber.
Segundo Sauer, de acordo com o
artigo 1º, parágrafo 8º da medida
provisória aprovada, a CBEE (Comercializadora Brasileira de
Energia Emergencial), estatal
criada no ano passado, poderá recomprar a energia não usada por
essas indústrias se elas se dispuserem a reduzir seu consumo em
determinados horários.
Detalhe: a recompra seria feita
pelo preço da energia gerada pelas
termelétricas, que é de R$ 150 o
megawatt/hora. "Trata-se de um
ótimo negócio: as indústrias compram energia por um preço entre
R$ 20 e R$ 40 o megawatt/hora e a
revenderão à CBEE por R$ 150 o
megawatt/hora", observa Sauer.
Outra alteração feita pelo relator,
segundo James Correia, professor
da Universidade Federal da Bahia,
foi a introdução no artigo 13, parágrafo 7º, de mecanismos que
viabilizam os investimentos na
construção de gasodutos para
movimentar as termelétricas a serem construídas dentro do programa emergencial.
Segundo Correia, que participou da elaboração do plano do racionamento, a construção de termelétricas vem sendo dificultada
pela inexistência de gasoduto em
diversas regiões. "Como as térmicas entram como energia complementar no sistema, se chover e
elas forem pouco acionadas, consumirão menos gás", diz.
O construtor do gasoduto acabará transportando menos e terá
um déficit. Pela MP 14, esse déficit
será pago pela rede básica de
transmissão e irá para a tarifa.
"Foi um mecanismo inteligente,
pois os gasodutos não eram construídos devido à falta de garantias
do retorno do investimento", defende Correia.
Na MP 14 entrou também uma
conta que será apresentada no futuro aos pagadores de sempre -
os consumidores. O artigo 3º da
MP 14 cria o Proinfa (Programa
de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia), que pretende aumentar a participação da energia
eólica (gerada por ventos), de biomassa (que usa o bagaço de cana)
e de pequenas usinas hidrelétricas
na matriz energética do país.
O objetivo pode ser nobre -garantir que pelo menos 10% do
consumo do país seja de energia
"limpa", sem risco ambiental.
Mas a conta é salgada: o Proinfa
define que a Eletrobrás, a gigante
estatal, garantirá a compra e o
preço das energias alternativas.
Só na primeira etapa do programa serão implantados, até 2006,
projetos capazes de gerar 3.300
megawatts. Essa energia terá um
custo de produção estimado em
US$ 1,3 bilhão por ano, segundo
cálculo do diretor-executivo da
Apine (Associação Brasileira dos
Produtores Independentes de
Energia Elétrica), Régis Martins.
"O programa só garante que a
Eletrobrás irá comprar essa energia, não diz de onde virão os recursos", diz Martins, que representa o setor interessado em implantar projetos nesse segmento.
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