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ANÁLISE / MÍDIA
Fim da bolha ameaça futuro da fusão da AOL com Time Warner
RICHARD WATERS
CHRISTOPHER GRIMES
DO "FINANCIAL TIMES"
Será que a AOL Time Warner
será desmantelada? A sugestão
pareceria absurda um ano atrás,
quando o gigante da mídia causava pânico nos rivais.
Mas as percepções às vezes mudam rapidamente. Embora outros conglomerados de mídia se
tenham beneficiado de esperanças quanto ao final da recessão no
setor de publicidade norte-americano, a AOL Time Warner está
afundada em problemas operacionais, financeiros e estruturais.
Comecemos pela America Online. Foi ela a propulsora do crescimento que transformou a antiga
AOL em uma matadora de gigantes, dando a ela a possibilidade de
adquirir a Time Warner, uma empresa de porte muito maior. Era
também a principal fonte de receitas da empresa.
O serviço on-line já não parece
ser o poderoso propulsor de crescimento que foi um dia. Para
agravar as coisas, está também
claro que ele será capaz de realizar
uma transição bem-sucedida para a era da banda larga. Isso é
preocupante, porque foi o potencial da banda larga para unir o
conteúdo de entretenimento e os
sistemas de TV a cabo da Time
Warner com o serviço interativo
on-line que inspirou a fusão.
Atualmente, a maior parte dos
34 milhões de assinantes da AOL
usam conexões discadas para obter acesso a e-mail e serviços de
mensagens instantâneas, mas o
crescimento de assinantes por via
discada está se esgotando. A AOL
depende também da publicidade,
e ninguém tem idéia de quando o
mercado de publicidade on-line
se recuperará.
Avanço retardado
Robert Pittman, o diretor operacional da AOL Time Warner,
insiste em que o segmento de conexões discadas ainda tem bastante a oferecer. No entanto deixa
claro que o futuro do serviço on-line depende de persuadir os consumidores a adotar serviços de internet em banda larga, mais caros.
Poucos analistas acreditam,
agora, que essa transição será rápida. Eles não concordam que se
trate apenas de uma questão de
converter os usuários existentes
em clientes de serviços de alta velocidade.
Como diz Holly Becker, do banco de investimentos Lehman Brothers, o segmento nascente dos
serviços de banda larga na AOL
deve ser visto como "uma área de
investimento, e não simplesmente como uma transição para os
consumidores". Pior, diz ela, os
serviços de banda larga podem
acabar tendo impacto neutro sobre as finanças da empresa, já que
a receita mais elevada terminaria
compensada por margens de lucro inferiores.
Com Wall Street apontando para a AOL como um problema para todo o grupo, o ressentimento
vem crescendo na antiga Time
Warner. Alguns alegam que a melhor coisa seria transformar a
AOL em empresa independente,
ou seja, desfazer a fusão.
Por enquanto, essa conversa é
pouco mais do que uma demonstração de humor sardônico. Steve
Case, o fundador da AOL, continua firme como presidente do
grupo. Desfazer a fusão não faria
muito para resolver algumas das
outras questões que prejudicam
as finanças da AOL Time Warner.
Acordos e alianças, alguns formados durante o período da bolha da internet, começam a ressurgir do passado. A dívida do
grupo atingiu US$ 22,8 bilhões no
final do ano passado, antes ainda
que a AOL Time Warner pagasse
US$ 7 bilhões à Bertelsmann, da
Alemanha, para sair de uma parceria formada no pico da expansão das empresas de internet.
Desintegração
O pagamento à Bertelsmann
deixou à America Online pouco
espaço para realizar mais negócios. Como resultado, ela não
conseguiu ganhar um leilão pelos
sistemas de cabos da AT&T no
ano passado. Se tivesse vencido,
isso lhe daria a plataforma de cabos dominante nos EUA, um posto perfeito para o lançamento do
serviço de banda larga da AOL.
Outras parcerias estão começando a se desfazer, igualmente.
Entre elas está uma sociedade no
setor de cabos com a família Newhouse, proprietária do grupo
editorial Condé Nast.
Enquanto isso, com o final de
sua aliança européia, a AOL Time
Warner terá de incluir em seus resultados uma operação que rendeu prejuízos de US$ 600 milhões
no ano passado. O colapso de
uma parceria formada três anos
atrás com a Sun Microsystems,
que rendeu US$ 320 milhões em
receita em 2001, significa que os
números piorarão em 2002.
Tudo incluído, as parcerias fracassadas poderiam reduzir em
mais de US$ 1,6 bilhão os resultados anteriores aos juros, impostos, depreciação e amortização do
grupo, com base nos números de
2001. Essas dificuldades em si talvez não bastassem para fazer com
que a empresa mude de rumo.
Mas elas a enfraqueceram, e os
predadores estão de olho.
No mês passado, John Malone,
investidor do ramo de mídia que
controla 4% da AOL Time Warner, solicitou às autoridades norte-americanas que cancelassem
uma restrição que o impede de
usar os direitos de voto conferidos por suas ações. Ele poderia
usar sua participação para pressionar por um lugar no conselho
da AOL Time Warner, onde se
uniria ao seu antigo aliado Ted
Turner.
Famoso pelo interesse compulsivo em engenharia financeira,
Malone no passado usou uma posição no conselho da AT&T para
agitar com sucesso pela divisão do
grupo em quatro empresas separadas. A AOL talvez ainda consiga
evitar esse destino. Mas, se as
ações do grupo continuarem
caindo por muito tempo, será
mais difícil resistir aos complôs
das criativas mentes financeiras
envolvidas na história.
Tradução de Paulo Migliacci
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