São Paulo, domingo, 21 de abril de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Presidente afirma que feriado foi decretado para evitar sangria de recursos com decisões judiciais

Sistema bancário pode explodir, diz Duhalde
Reuters
Cliente do Scotiabank faz protesto com roupa de vampiro e cartaz escrito 'politico argentino'


FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES

O presidente Eduardo Duhalde tentou justificar a imposição de mais um feriado bancário e cambial e afirmou que se a sangria de recursos dos bancos por meio de decisões judicias continuasse no ritmo das últimas semanas o sistema financeiro quebraria.
"Corremos o risco de o sistema [financeiro" explodir se os juízes continuarem autorizando a devolução do dinheiro depositado apenas com a apresentação do recurso dos correntistas", afirmou o presidente em seu programa de rádio nacional.
"Temos de encontrar uma solução para o curralzinho urgentemente. Um país não pode sobreviver sem atividade bancária," disse Duhalde. Enquanto o Congresso não aprovar o projeto que prevê a troca dos depósitos a prazo fixo por títulos públicos o feriado bancário e cambial vai continuar em vigência.
O chefe de Gabinete, Jorge Capitanich, estima que o Congresso tenha aprovado o projeto até quarta-feira. Para o presidente do bloco peronista no Senado, José Luis Gioja, há um consenso entre os senadores para aprovar o projeto ainda na noite de segunda e enviá-lo à Câmara dos Deputados na terça-feira de manhã.
O Banco Central argentino enviou um informe para Duhalde com os dados sobre a saída de recursos dos depósitos bancários para justificar a decretação do feriado. Duhalde teria se recusado a aprovar a imposição do feriado bancário ainda na quinta, como queria o BC. Os números da autoridade monetária mostram que entre os dias 8 e 17 deste mês saíram dos bancos US$ 700 milhões devido a 3,5 mil decisões judiciais a favor de poupadores. Entre 1º de fevereiro e 5 de abril havia saído outro US$ 1,8 bilhão por meio de 16,5 mil decisões.
O primeiro banco a não agüentar a fuga de recursos foi o Scotiabank Quilmes. O BC suspendeu as atividades do banco por 30 dias por falta de liquidez.
Há aproximadamente 30 bilhões de pesos em depósitos a prazo fixo nos bancos. Quem tem depósitos a prazos fixos presos pelo curralzinho terá de optar por dois títulos públicos, um em pesos e outro em dólares, com prazos de resgate de 5 e 10 anos, respectivamente. Os títulos poderão ser negociados no mercado secundário, pagarão juros anuais e teriam amortização de capital de 12% ao ano. Cadernetas de poupança e contas corrente devem ficar livres da troca obrigatória.
"O governo decidiu confiscar as economias da população para salvar os bancos. Duhalde está fazendo o que pode para trazer de volta a convulsão social", diz Aldo Abram, economista e diretor da consultoria Exante.
Para o economista José Luis Espert, "os poupadores confiaram no sistema financeiro e vão receber agora um papel pintado de um governo em "default" que não terá valor nenhum no mercado". O governo manteve reuniões ontem desde a manhã para terminar de definir os detalhes do plano. O ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, que está em Washington, acompanha as definições do projeto por telefone.



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