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Crise custa US$ 107 bi a emergentes
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM BRUXELAS
Evitar crises financeiras, a "chibata" dos tempos modernos, renderia US$ 107 bilhões por ano aos
países emergentes ou, pelo menos, evitaria que perdessem esse
portentoso volume de recursos.
O cálculo é de Barry Eichengreen, professor da Universidade
da Califórnia, no primeiro de uma
série de estudos para o "Consenso
de Copenhague", uma iniciativa
do Instituto Dinamarquês para a
Avaliação Ambiental, em cooperação com a revista britânica "The
Economist". A meta é analisar e
estabelecer as propostas para "fazer avançar o bem-estar global".
As áreas avaliadas serão mudança climática; doenças "comunicáveis"; conflitos armados; educação; instabilidade financeira;
governança e corrupção: desnutrição e fome; população e migração; saneamento básico e água;
subsídios e barreiras comerciais.
No mês que vem, na capital dinamarquesa, os especialistas convocados a participar da iniciativa
se reúnem e discutem os textos
apresentados pelos responsáveis
de cada área. Daí deve surgir o
"Consenso de Copenhague".
O nome, por si só, indica que as
receitas até agora seguidas pelos
países emergentes, entre elas o
"Consenso de Washington", ou
são incorretas ou são insuficientes
para o "bem-estar global".
As contas de Eichengreen sobre
os efeitos da turbulência financeira fazem parte do pacote a ser discutido em Copenhague.
Escreve Eichengreen: "A crise
financeira típica consome 9% do
PIB [Produto Interno Bruto, medida da renda nacional], e as crises mais graves, como as que recentemente afetaram a Argentina
e a Indonésia, apagaram mais de
20% do PIB, uma perda maior do
que a sofrida como resultado da
Grande Depressão", a crise mundial ocorrida a partir de 1929.
O especialista cita, entre outros,
o fato de que a crise asiática de
1997 empurrou para a pobreza 22
milhões de pessoas da região.
Uma resposta para evitar tais
crises, de resto óbvia, é melhorar
os sistemas financeiros nos países
emergentes. Eichengreen diz que,
se os bancos e o mercado de valores da Índia fossem tão desenvolvidos quanto os de Cingapura, o
país cresceria dois pontos percentuais a mais por ano.
Mas o especialista não chega a
dar uma resposta à pergunta-chave nessa área, por ele próprio formulada: "Esses países [em desenvolvimento] devem abrir seus
mercados financeiros ao capital
externo, dessa forma expondo-se
ao risco de crises cambiais? Ou
deveriam impor controle de capitais, confinando a perversidade
dos mercados financeiros às fronteiras nacionais, nas quais o Banco Central mantém o poder de enfrentá-las?".
Na resposta, Eichengreen lembra que, embora a China ainda seja um mercado financeiro em
grande medida fechado ao capital
externo, "não há falta de crédito".
Para outros países, no entanto,
"a evidência é mista". Para a
maioria, abrir-se ao capital externo aceleraria o crescimento econômico na maior parte do tempo,
mas a cada dez anos, na média,
haveria uma danosa crise.
Eichengreen aponta como o
problema central o fato de que,
"nos países mais suscetíveis [a crises financeiras], empresas e bancos tomam pesados empréstimos
em dólares, mas emprestam dinheiro em moeda local. Se o valor
da moeda local cai, esse descasamento entre ativos domésticos e
compromissos em moeda estrangeira é cruelmente exposto". A
descrição não está longe do que
aconteceu com empresas brasileiras (e com o próprio Estado) que
se endividaram em dólares, mas
têm receitas em reais.
Soluções
Propostas para solucionar o
"descasamento" são duas:
1) Ou criar uma moeda mundial, que possa ser usada por ricos
e pobres da mesma forma.
2) Ou inventar "um mercado internacional líquido para bônus
denominados em pesos, bahts
[moeda tailandesa] e outras que
os mercados emergentes são obrigados a usar".
Ou, posto de outra forma, criar
um mercado para tomar e fazer
empréstimos em uma unidade de
conta virtual, com base em uma
cesta de moedas de países emergentes (de alguma forma, assemelha-se à URV, que precedeu o lançamento do real no Brasil).
Eichengreen calcula que pôr de
pé esse novo mercado de títulos
custaria inicialmente algo em torno de US$ 545 milhões por ano
-"uma pequena quantia se comparada com os US$ 107 bilhões
que seriam poupados se crises
cambiais pudessem ser evitadas".
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