São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2006

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ECONOMIA GLOBAL

Ministro defende rigor fiscal e vê Fundo "desatualizado"

Na condição de "credor", Mantega faz crítica ao FMI

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Em sua estréia em Washington como titular do Ministério da Fazenda brasileiro, Guido Mantega afirmou que o FMI (Fundo Monetário Internacional) está "desatualizado" em suas previsões de crescimento para o Brasil em 2006. Refutando previsões feitas pelo Fundo anteontem, o ministro disse que 2006 "vai ser o melhor ano do ponto de vista econômico do nosso governo e o início de longo ciclo de crescimento".
Mantega também fez críticas indiretas a comentários do FMI sobre quais políticas cambiais os países deveriam adotar. "Não sei se cabe ao fundo fazer um monitoramento maior", disse. "É bom lembrar que no passado o Fundo chegou a apoiar o cambio fixo ou semifixo, apoiou aquilo que aconteceu na Argentina, cujos resultados negativos todos nós sabemos, então eu não sei se o Fundo deve ser um conselheiro em matéria cambial", provocou.
Mantega se considerou à vontade na posição inédita de ministro da Fazenda de um país que não deve mais nada ao FMI. "Você fica numa posição confortável de credor", disse, sorrindo. "Agora, estamos aqui ajudando a transformar o Fundo em um instrumento eficaz para os países."
O ministro também rebateu as cobranças do Fundo pela manutenção da política de superávits primários para pagar juros da dívida brasileira. Ontem, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato, voltou a cobrar superávits como forma de reduzir o endividamento. Mantega disse que o Brasil cumprirá a meta de superávit de 4,25% do PIB e repetiu que quem apostar em algo diferente disso "vai quebrar a cara".
No relatório "Perspectivas para a Economia Global", o FMI previu que o Brasil crescerá 3,5% neste ano e em 2007. A estimativa é a mais baixa entre as principais economias emergentes e ficou aquém da média prevista para o desempenho mundial (4,9% em 2006 e 4,7% em 2007).
Para Mantega, o Brasil crescerá, no mínimo, 4% neste ano. "Talvez o FMI não esteja acompanhando tão de perto o que está acontecendo na economia brasileira. Porque ela já está crescendo neste ritmo (4%). Não é apenas uma projeção que temos. É constatação de movimento de crescimento que começou desde o início do ano."
Em seguida, o ministro elencou uma série de indicadores que sustentariam suas previsões. "A indústria está crescendo, o mercado está se robustecendo e o crédito está abundante. Os investimentos também estão aumentando hoje no Brasil. Temos projeções que confirmam esse resultado de uma previsão acima de 4%", afirmou.
Sobre os 3,5% previstos, disse: "O Fundo talvez tenha feito uma previsão desatualizada, conservadora, olhando dados já superados. Não tem esse conhecimento que nós temos do que está acontecendo. Além do que, a inflação está sob controle e até um pouco abaixo do centro da meta."
Mantega afirmou que o controle nos preços vem abrindo um espaço maior para a queda de juros no Brasil. "Os juros caindo, a inflação sob controle, o salário real crescendo, o emprego subindo, o mercado se fortalecendo. Todos os indicadores, todas as forças convergem para crescimento robusto na economia brasileira."

Seguro
Mantega disse ainda que considera "inapropriado comparar o Brasil com outras economias como Índia e China, que estão em estágios diferentes de desenvolvimento" Aproveitou a visita para sugerir uma espécie de "seguro", a ser oferecido pelo FMI.
"Os países que têm demonstrado seriedade e responsabilidade fiscal, que estão com as contas equilibradas, que estão com crescimento econômico, que é o caso do Brasil, teriam direito a, numa emergência, poder sacar do fundo sem maiores burocracias, sem ter de apresentar um plano, uma carta de intenções ou algo assim."
Mantega voltou a frisar que o país cumprirá sua meta de superávit primário. "Quem decide o superávit primário é o governo brasileiro. Nosso compromisso é fazer o superávit de 4,25%, pois é suficiente para dar sustentabilidade à dívida pública. A meta será obtida, tanto de superávit quanto de redução da dívida."


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