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ECONOMIA GLOBAL
Ministro defende rigor fiscal e vê Fundo "desatualizado"
Na condição de "credor", Mantega faz crítica ao FMI
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Em sua estréia em Washington
como titular do Ministério da Fazenda brasileiro, Guido Mantega
afirmou que o FMI (Fundo Monetário Internacional) está "desatualizado" em suas previsões de
crescimento para o Brasil em
2006. Refutando previsões feitas
pelo Fundo anteontem, o ministro disse que 2006 "vai ser o melhor ano do ponto de vista econômico do nosso governo e o início
de longo ciclo de crescimento".
Mantega também fez críticas indiretas a comentários do FMI sobre quais políticas cambiais os
países deveriam adotar. "Não sei
se cabe ao fundo fazer um monitoramento maior", disse. "É bom
lembrar que no passado o Fundo
chegou a apoiar o cambio fixo ou
semifixo, apoiou aquilo que aconteceu na Argentina, cujos resultados negativos todos nós sabemos,
então eu não sei se o Fundo deve
ser um conselheiro em matéria
cambial", provocou.
Mantega se considerou à vontade na posição inédita de ministro
da Fazenda de um país que não
deve mais nada ao FMI. "Você fica numa posição confortável de
credor", disse, sorrindo. "Agora,
estamos aqui ajudando a transformar o Fundo em um instrumento eficaz para os países."
O ministro também rebateu as
cobranças do Fundo pela manutenção da política de superávits
primários para pagar juros da dívida brasileira. Ontem, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato,
voltou a cobrar superávits como
forma de reduzir o endividamento. Mantega disse que o Brasil
cumprirá a meta de superávit de
4,25% do PIB e repetiu que quem
apostar em algo diferente disso
"vai quebrar a cara".
No relatório "Perspectivas para
a Economia Global", o FMI previu que o Brasil crescerá 3,5% neste ano e em 2007. A estimativa é a
mais baixa entre as principais
economias emergentes e ficou
aquém da média prevista para o
desempenho mundial (4,9% em
2006 e 4,7% em 2007).
Para Mantega, o Brasil crescerá,
no mínimo, 4% neste ano. "Talvez o FMI não esteja acompanhando tão de perto o que está
acontecendo na economia brasileira. Porque ela já está crescendo
neste ritmo (4%). Não é apenas
uma projeção que temos. É constatação de movimento de crescimento que começou desde o início do ano."
Em seguida, o ministro elencou
uma série de indicadores que sustentariam suas previsões. "A indústria está crescendo, o mercado
está se robustecendo e o crédito
está abundante. Os investimentos
também estão aumentando hoje
no Brasil. Temos projeções que
confirmam esse resultado de uma
previsão acima de 4%", afirmou.
Sobre os 3,5% previstos, disse:
"O Fundo talvez tenha feito uma
previsão desatualizada, conservadora, olhando dados já superados. Não tem esse conhecimento
que nós temos do que está acontecendo. Além do que, a inflação está sob controle e até um pouco
abaixo do centro da meta."
Mantega afirmou que o controle nos preços vem abrindo um espaço maior para a queda de juros
no Brasil. "Os juros caindo, a inflação sob controle, o salário real
crescendo, o emprego subindo, o
mercado se fortalecendo. Todos
os indicadores, todas as forças
convergem para crescimento robusto na economia brasileira."
Seguro
Mantega disse ainda que considera "inapropriado comparar o
Brasil com outras economias como Índia e China, que estão em
estágios diferentes de desenvolvimento" Aproveitou a visita para
sugerir uma espécie de "seguro",
a ser oferecido pelo FMI.
"Os países que têm demonstrado seriedade e responsabilidade
fiscal, que estão com as contas
equilibradas, que estão com crescimento econômico, que é o caso
do Brasil, teriam direito a, numa
emergência, poder sacar do fundo
sem maiores burocracias, sem ter
de apresentar um plano, uma carta de intenções ou algo assim."
Mantega voltou a frisar que o
país cumprirá sua meta de superávit primário. "Quem decide o
superávit primário é o governo
brasileiro. Nosso compromisso é
fazer o superávit de 4,25%, pois é
suficiente para dar sustentabilidade à dívida pública. A meta será
obtida, tanto de superávit quanto
de redução da dívida."
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