São Paulo, sábado, 21 de abril de 2007

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Empresários atacam juro e pedem corte de gastos do governo

No 6º Fórum Empresarial, Jorge Gerdau diz que reformas e logística não são "favor" dado, mas isonomia competitiva

Paulo Skaf, da Fiesp, critica falta de investimento, gasto público e serviços prestados pelo Estado; ministro vê mais dificuldade na gestão


JANAÍNA LEITE
ENVIADA ESPECIAL A COMANDATUBA (BA)

Diminuir gastos governamentais, tirar as reformas estruturais do papel, criar mecanismos que permitam a valorização do dólar e a aceleração do corte nos juros básicos, além de investir pesado na educação fundamental. Essa foi a receita defendida ontem pelos maiores empreendedores do país, reunidos no 6º Fórum Empresarial de Comandatuba.
"Não quero favor, quero isonomia competitiva. E ela passa por juro, [reformas] tributária e judiciária, logística. É isso ou vamos perder a guerra da produtividade", afirmou Jorge Gerdau, presidente do conselho da siderúrgica Gerdau, aplaudido de pé por uma platéia de cerca de 500 pessoas.
Segundo ele, é preciso conseguir que, por melhoria de gestão, pelo menos 15% do orçamento público seja destinado a investimentos. Isso permitiria uma adequação da carga tributária brasileira, uma das mais elevadas do mundo.
No ano passado, a soma da arrecadação de impostos foi equivalente a 44% do PIB (Produto Interno Bruto). Em países emergentes, a média é de 20%. Gerdau comparou a dificuldade de um empresário brasileiro enfrentar seus concorrentes estrangeiros com dois mochileiros - um que carrega 20 quilos e outro que leva consigo 40 quilos. "É óbvio que o segundo não vai conseguir correr na mesma velocidade", resumiu.
"O Estado gasta e não gasta bem. Não temos boa saúde, educação ou segurança. A carga tributária, mais que causa, é efeito. A causa é o gasto público", concordou o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
O dirigente da maior entidade patronal brasileira lembrou que o grosso dos dispêndios governamentais são destinados ao pagamento de juros. "Nos últimos quatro anos foram pagos mais de R$ 500 bilhões em juros", afirmou Skaf.
Escalado como zagueiro pelo governo, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, rebateu. "Existem diferenças [entre a esfera pública e a privada]. A capacidade do empresário de decidir sobre seu recurso é muito diversa daquele que tem de gerir recursos públicos", defendeu.
Pelo governo, estavam ainda o presidente do BC, Henrique Meirelles, e o senador Aloísio Mercadante (PT-SP) - impassíveis com as farpas.
Questionado após a apresentação pelos jornalistas, Meirelles manteve a diplomacia. "Ouvi muitos elogios, à política monetária particularmente. Não encontrei nenhum empresário aqui que me disse que a situação dele piorou", disse. "O crescimento médio do país tem sido de 4,1% -o melhor índice em décadas", afirmou Mercadante.
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, também atuou como bombeiro, mas reconheceu que as brigas políticas atrapalham a votação das reformas. "Faz parte do senso comum criticar o Congresso", lamentou.
"No entanto, não há como pensar em diminuir a carga tributária e tirar serviços, como o SUS, da população." A resposta veio, mais uma vez, com Gerdau. Ao falar sobre a necessidade das reformas trabalhista e previdenciária, o empresário afirmou considerar que as condições econômicas do país fazem com que um apoio de um salário mínimo para os menos abastados seja necessário e justificado. "Temos de carregar isso. Mas não me sinto responsável, por exemplo, por pagar pelo resto da vida um coronel que recebe R$ 16 mil, R$ 17 mil e que, ao longo da vida, dificilmente fez uma contribuição acima de R$ 6.000."


A jornalista JANAÍNA LEITE viajou a convite do Lide (Grupo de Líderes Empresariais).

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