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Empresários atacam juro e pedem corte de gastos do governo
No 6º Fórum Empresarial, Jorge Gerdau diz que reformas e logística não são "favor" dado, mas isonomia competitiva
Paulo Skaf, da Fiesp, critica
falta de investimento, gasto público e serviços prestados pelo Estado; ministro vê mais dificuldade na gestão
JANAÍNA LEITE
ENVIADA ESPECIAL A COMANDATUBA (BA)
Diminuir gastos governamentais, tirar as reformas estruturais do papel, criar mecanismos que permitam a valorização do dólar e a aceleração do
corte nos juros básicos, além de
investir pesado na educação
fundamental. Essa foi a receita
defendida ontem pelos maiores
empreendedores do país, reunidos no 6º Fórum Empresarial de Comandatuba.
"Não quero favor, quero isonomia competitiva. E ela passa
por juro, [reformas] tributária
e judiciária, logística. É isso ou
vamos perder a guerra da produtividade", afirmou Jorge
Gerdau, presidente do conselho da siderúrgica Gerdau,
aplaudido de pé por uma platéia de cerca de 500 pessoas.
Segundo ele, é preciso conseguir que, por melhoria de gestão, pelo menos 15% do orçamento público seja destinado a
investimentos. Isso permitiria
uma adequação da carga tributária brasileira, uma das mais
elevadas do mundo.
No ano passado, a soma da
arrecadação de impostos foi
equivalente a 44% do PIB (Produto Interno Bruto). Em países
emergentes, a média é de 20%.
Gerdau comparou a dificuldade de um empresário brasileiro enfrentar seus concorrentes estrangeiros com dois mochileiros - um que carrega 20
quilos e outro que leva consigo
40 quilos. "É óbvio que o segundo não vai conseguir correr na
mesma velocidade", resumiu.
"O Estado gasta e não gasta
bem. Não temos boa saúde,
educação ou segurança. A carga
tributária, mais que causa, é
efeito. A causa é o gasto público", concordou o presidente da
Fiesp, Paulo Skaf.
O dirigente da maior entidade patronal brasileira lembrou
que o grosso dos dispêndios governamentais são destinados
ao pagamento de juros. "Nos
últimos quatro anos foram pagos mais de R$ 500 bilhões em
juros", afirmou Skaf.
Escalado como zagueiro pelo
governo, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, rebateu. "Existem diferenças [entre a esfera pública e a
privada]. A capacidade do empresário de decidir sobre seu
recurso é muito diversa daquele que tem de gerir recursos públicos", defendeu.
Pelo governo, estavam ainda
o presidente do BC, Henrique
Meirelles, e o senador Aloísio
Mercadante (PT-SP) - impassíveis com as farpas.
Questionado após a apresentação pelos jornalistas, Meirelles manteve a diplomacia. "Ouvi muitos elogios, à política monetária particularmente. Não
encontrei nenhum empresário
aqui que me disse que a situação dele piorou", disse. "O crescimento médio do país tem sido
de 4,1% -o melhor índice em
décadas", afirmou Mercadante.
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, também atuou
como bombeiro, mas reconheceu que as brigas políticas atrapalham a votação das reformas.
"Faz parte do senso comum criticar o Congresso", lamentou.
"No entanto, não há como pensar em diminuir a carga tributária e tirar serviços, como o
SUS, da população."
A resposta veio, mais uma
vez, com Gerdau. Ao falar sobre
a necessidade das reformas trabalhista e previdenciária, o empresário afirmou considerar
que as condições econômicas
do país fazem com que um
apoio de um salário mínimo para os menos abastados seja necessário e justificado. "Temos
de carregar isso. Mas não me
sinto responsável, por exemplo, por pagar pelo resto da vida
um coronel que recebe R$ 16
mil, R$ 17 mil e que, ao longo da
vida, dificilmente fez uma contribuição acima de R$ 6.000."
A jornalista JANAÍNA LEITE viajou a convite do
Lide (Grupo de Líderes Empresariais).
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