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São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Para analistas, BC já descartou obter 8,5% em 2003 e manteria aperto para viabilizar 5,5% no ano que vem

BC define juro hoje de olho na meta de 2004

SANDRA BALBI
FABRICIO VIEIRA

DA REPORTAGEM LOCAL

O que vai definir se o Copom (Comitê de Política de Política Monetária do Banco Central) cortará ou não a taxa de juros hoje é a meta de inflação ser alcançada em 2004, segundo economistas ouvidos pela Folha.
Isso porque o governo, assim como os analistas, considera impossível cumprir a meta para o IPCA deste ano (8,5%). Para o ano que vem, o alvo ajustado pelo BC é de 5,5%.
Apenas nos quatro primeiros meses de 2003, o IPCA acumulado é de 6,15%. Restam apenas 2,21% para o cumprimento da meta nos próximos oito meses. Ou seja, a taxa média mensal dos próximos meses não poderia ultrapassar 0,27%.
Diante da impossibilidade de uma brecada desse tamanho nos preços, a meta deste ano virou apenas uma "referência" para balizar a inflação que se quer atingir em 2004, segundo Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Unibanco. Na sua opinião, para cumprir a meta do ano que vem, o BC terá de puxar o IPCA para 0,5% ao mês no final do ano.
Ele considera que "não é nada impossível" atingir tal patamar. Mas isso tem um custo: "Manter a economia desaquecida, com juros altos, até que a inflação dê sinais consistentes de que nos próximos meses estará rodando dentro da meta de 2004", diz.
Esses sinais são aferidos por vários critérios técnicos. Segundo Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), o BC, ao analisar as tendências da inflação, fica de olho na taxa como um todo. A inflação está em queda e as taxas atuais são bem inferiores às do final do ano passado, quando chegaram a 3% ao mês, o que justificaria a queda nos juros.
Mas o BC olha também o comportamento futuro da taxa. Nesse caso, alguns itens importantes do núcleo, como os preços oligopolizados, mantêm tendência de alta. Um exemplo são os alimentos industrializados, que estão com taxa contínua de elevação desde o início de abril. Produtos de higiene e de limpeza também estão com forte pressão nos preços.

Núcleo

Esses produtos são componentes do chamado núcleo da inflação. O núcleo é composto pelos itens e produtos que dão a tendência da taxa. Não são produtos sazonais e, portanto, sempre caminham em uma direção -de alta ou de queda. Em geral, o núcleo da inflação é formado por 60% do total dos itens que compõem o índice. Ficam fora do núcleo alimentos não-industrializados, tarifas públicas e combustíveis.
O núcleo da inflação ainda está alto, entre 14% e 10%, anualizado, dependendo da metodologia de cálculo usada. Heron lembra, no entanto, que a alta dos produtos do núcleo ocorre devido a um repique do dólar no início do ano. Para os próximos meses, quando os preços começarem a incorporar a queda da moeda norte-americana, o cenário será diferente.
O economista da Fipe diz que a inflação vai mostrar claramente que as estimativas de taxas de 12 meses vão despencar a partir de julho, quando já forem conhecidos os reajustes das tarifas de energia e de telefone. Aí, então, os juros altos ficarão insustentáveis.

Expectativa

Mas o Copom também considera nas suas análises, para definir o rumo dos juros, a chamada "expectativa de inflação". Ela tem como referência as projeções feitas pelo mercado para os próximos 12 meses e divulgadas pelo boletim Focus, do BC. De acordo com esse critério, a inflação projetada ainda está acima do desejado.
O último boletim, divulgado na sexta-feira passada, revela que o ponto médio das expectativas de mercado é de um IPCA de 8,3% nos próximos 12 meses, isto é, de agora até abril de 2004.
Esse indicador mostra uma melhora evidente -afinal, quatro semanas antes, a estimativa estava em 9,06%. Mas ainda está acima da da meta de 2004.
Para Roberto Padovani, da consultoria Tendências, se a meta não vai ser cumprida, é importante que neste ano o IPCA não fique acima dos 12,5% acumulados no ano passado.


Colaboraram Gustavo Patú, da Sucursal de Brasília, e Mauro Zafalon, da Redação


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