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País é refém do curto prazo, diz economista
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
A tão esperada estréia do governo petista no Fórum Nacional,
principal arena de discussão de
temas econômicos no país, não
aconteceu. Ontem, primeiro dia
da 15ª edição do evento, os dois
representantes do governo esperados, o senador Aloizio Mercadante (SP) e o secretário de Política Econômica do Ministério da
Fazenda, Marcos Lisboa, não apareceram.
Com as baixas, que provocaram
desconforto entre os participantes, as atenções ficaram centradas
em um confronto entre os economistas Affonso Celso Pastore (ex-presidente do Banco Central) e
Ricardo Carneiro (professor da
Unicamp).
Respectivamente, Pastore e
Carneiro reproduziram os tradicionais embates entre ortodoxia e
heterodoxia que, em fóruns passados, haviam sido protagonizados pelo ex-ministro da Fazenda
Pedro Malan e pelo próprio Mercadante, quando era oposição.
Pastore e Carneiro até concordavam num ponto: o fluxo de capital que o Brasil tem recebido este ano é principalmente de curto
prazo, o que deixa o país vulnerável ao risco de saída repentina
desse dinheiro.
As diferenças entre os dois economistas, no entanto, se referem
às causas da incapacidade de o
país atrair investimentos de mais
longo prazo e, principalmente, às
soluções para isso.
O estudo apresentado por Pastore centrava-se na defesa de que
a solução do problema fiscal brasileiro é a chave para que o risco-país caia, fluxos de investimento
de mais longo prazo voltem e a taxa de câmbio real (câmbio nominal descontada a variação entre a
inflação externa e a doméstica)
atinja um ponto de equilíbrio. Tudo isso reduziria os riscos de novos choques inflacionários e levaria à diminuição da vulnerabilidade externa.
Segundo o economista, foi o temor da insolvência fiscal que, em
2002, fez disparar o risco-país
brasileiro. Isso levou a uma brutal
redução no fluxo de investimentos para a economia, fazendo a taxa de câmbio disparar acompanhada pelo aumento de preços internos e pela relação entre dívida
pública e PIB (Produto Interno
Bruto).
A sugestão de Pastore -encampada por outros participantes
do fórum, como Alexandre
Schwartsman, economista-chefe
do Unibanco, e Raul Velloso, especialista em finanças públicas-
é que o país ataque o problema
fiscal de duas formas.
A primeira, no curto prazo, seria a redução do grande passivo
cambial do governo, que reduziria a vulnerabilidade da dívida. O
segundo passo, de longo prazo, é
a redução significativa do endividamento público por meio de reformas estruturais, como a da
Previdência.
Carneiro diz que o foco deveria
ser transferido da política fiscal
para o câmbio. O economista, que
garantiu a pluralidade do debate,
causou arrepios nos demais palestrantes ao sugerir um controle
da taxa de câmbio.
Para Pastore e Schwartsman, ele
havia dado a entender que propunha a volta de um regime de bandas fixas ajustáveis, praticado no
Brasil até janeiro de 1999.
"Esse regime [de câmbio flutuante] é extremamente eficaz, e
não ineficaz como quer o Ricardo
Carneiro. Ao fazer a proposição
que o Ricardo está fazendo, que se
tire o foco do lado fiscal, ele está
invertendo em 180 graus aquilo
que é a proposta do Plano A, não a
do Plano B. Acredito que ele está
cometendo um erro", diz Pastore.
Carneiro se defendeu. Negou
que tivesse sugerido a volta do regime de bandas fixas cambiais.
Segundo ele, sua proposta é que
haja um regime de controle de capitais com "uma banda de câmbio real não explícita".
"A tributação na entrada e eventualmente na saída [de capitais]
pode tornar o país menos sujeito
à entrada e saída de capitais. Com
isso, elimina-se a instabilidade do
câmbio", afirmou Carneiro, para
quem essa é a forma de transformar os fluxos de curto prazo em
investimentos de longo prazo.
Segundo ele, que é filiado ao PT,
a proposta não é um Plano B, já
que ele nem é do governo. Carneiro chegou a trabalhar na formulação do programa de Luiz Inácio
Lula da Silva tanto na última como em eleições passadas, mas não
participa do governo devido a divergências com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
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