São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

Refundar a nação


O país precisa voltar a ter uma estratégia nacional de desenvolvimento ou de competição na arena externa

POR QUE nos últimos 12 anos o Brasil cresce muito menos do que os países ricos e muito menos do que os países da Ásia?
A essa pergunta dou duas respostas em meu livro "Macroeconomia da Estagnação", que está sendo lançado amanhã: uma resposta política -o Brasil perdeu o conceito de nação-, e uma resposta econômica -aceitamos a política macroeconômica de juros elevados, câmbio não-competitivo e ajustamento fiscal frouxo, proposta pela ortodoxia convencional.
O Brasil foi uma verdadeira nação entre 1930 e 1980, quando tinha uma estratégia nacional de desenvolvimento que, principalmente nos primeiros 30 anos, envolvia grande parte da sociedade nacional brasileira. Conservou essa estratégia, mas com a exclusão de muitos, nos 20 anos seguintes.
Entretanto três fatos novos levaram o Brasil, no início de 1990, a se render aos concorrentes do Norte transformados em benevolentes padrinhos e a adotar a ortodoxia convencional: a crença que se formara nos anos 70, no período do "milagre", de que o desenvolvimento econômico estava assegurado, bastando agora lutar pela democracia e justiça social, a grande crise da dívida externa dos anos 80, e a nova hegemonia neoliberal dos Estados Unidos a partir dessa mesma década.
A ortodoxia convencional não teve nada a nos dizer sobre como acabar com a elevada inflação, mas, desde 1995, em nome do combate à mesma inflação, vem legitimando uma política macroeconômica que garante a estabilidade de preços, mas inviabiliza o desenvolvimento econômico porque:
1) estabelece uma taxa de juros que impede o investimento de quem não conta com financiamento subsidiado e onera gravemente a despesa pública;
2) convive com uma taxa de câmbio sobreapreciada que vai aos poucos matando a indústria nacional (na semana passada a moeda dos Estados Unidos foi cotada ao menor valor desde janeiro de 2001; na sexta-feira, fechou em R$ 1,962); e
3) aceita um superávit primário de 4,25% ao ano, que parece muito alto, mas que esconde o peso dos juros ao mesmo tempo em que mantém o déficit público elevado.
Nos anos 90 era impossível mudar essa política porque a hegemonia norte-americana era grande demais, e os brasileiros acreditavam que a ortodoxia convencional era a única alternativa racional -tudo o mais era populismo ou atraso.
Nos últimos sete anos, porém, esse quadro mudou, porque se tornou evidente o fracasso dessa ortodoxia e o fato de que países asiáticos tinham estratégia alternativa não-populista.
Por isso, a sociedade brasileira -principalmente os empresários do setor produtivo- está se tornando cada vez mais crítica e mais competente em sua crítica. Por isso, o governo federal está aos poucos mudando sua política econômica em uma direção mais correta.
Está claro, entretanto, que o Brasil precisa refundar sua nação. No quadro da globalização, precisa voltar a ter uma estratégia nacional de desenvolvimento ou de competição na arena internacional que conte com o coração e as mentes dos brasileiros.
Para isso, será importante a liderança do presidente da República, mas ele nada poderá fazer -seja o atual ou o futuro- se a própria nação, se a sociedade brasileira, não disser um basta à dependência e à ortodoxia convencional.


LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 72, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia, é autor de "As Revoluções Utópicas dos Anos 60".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser uol.com.br


Texto Anterior: Esforço fiscal cai e abre folga de R$ 33 bi
Próximo Texto: Reajuste do mínimo e obras ficariam com a folga de caixa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.