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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Refundar a nação
O país precisa voltar a ter uma estratégia nacional de desenvolvimento ou de competição na arena externa
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POR QUE nos últimos 12 anos o
Brasil cresce muito menos do
que os países ricos e muito
menos do que os países da Ásia?
A essa pergunta dou duas respostas em meu livro "Macroeconomia
da Estagnação", que está sendo lançado amanhã: uma resposta política
-o Brasil perdeu o conceito de nação-, e uma resposta econômica
-aceitamos a política macroeconômica de juros elevados, câmbio não-competitivo e ajustamento fiscal
frouxo, proposta pela ortodoxia
convencional.
O Brasil foi uma verdadeira nação
entre 1930 e 1980, quando tinha
uma estratégia nacional de desenvolvimento que, principalmente nos
primeiros 30 anos, envolvia grande
parte da sociedade nacional brasileira. Conservou essa estratégia, mas
com a exclusão de muitos, nos 20
anos seguintes.
Entretanto três fatos novos levaram o Brasil, no início de 1990, a se
render aos concorrentes do Norte
transformados em benevolentes padrinhos e a adotar a ortodoxia convencional: a crença que se formara
nos anos 70, no período do "milagre", de que o desenvolvimento econômico estava assegurado, bastando agora lutar pela democracia e justiça social, a grande crise da dívida
externa dos anos 80, e a nova hegemonia neoliberal dos Estados Unidos a partir dessa mesma década.
A ortodoxia convencional não teve nada a nos dizer sobre como acabar com a elevada inflação, mas, desde 1995, em nome do combate à
mesma inflação, vem legitimando
uma política macroeconômica que
garante a estabilidade de preços,
mas inviabiliza o desenvolvimento
econômico porque:
1) estabelece uma taxa de juros
que impede o investimento de quem
não conta com financiamento subsidiado e onera gravemente a despesa
pública;
2) convive com uma taxa de câmbio sobreapreciada que vai aos poucos matando a indústria nacional
(na semana passada a moeda dos Estados Unidos foi cotada ao menor
valor desde janeiro de 2001; na sexta-feira, fechou em R$ 1,962); e
3) aceita um superávit primário de
4,25% ao ano, que parece muito alto,
mas que esconde o peso dos juros ao
mesmo tempo em que mantém o
déficit público elevado.
Nos anos 90 era impossível mudar
essa política porque a hegemonia
norte-americana era grande demais,
e os brasileiros acreditavam que a
ortodoxia convencional era a única
alternativa racional -tudo o mais
era populismo ou atraso.
Nos últimos sete anos, porém, esse quadro mudou, porque se tornou
evidente o fracasso dessa ortodoxia
e o fato de que países asiáticos tinham estratégia alternativa não-populista.
Por isso, a sociedade brasileira
-principalmente os empresários do
setor produtivo- está se tornando
cada vez mais crítica e mais competente em sua crítica. Por isso, o governo federal está aos poucos mudando sua política econômica em
uma direção mais correta.
Está claro, entretanto, que o Brasil
precisa refundar sua nação. No quadro da globalização, precisa voltar a
ter uma estratégia nacional de desenvolvimento ou de competição na
arena internacional que conte com o
coração e as mentes dos brasileiros.
Para isso, será importante a liderança do presidente da República,
mas ele nada poderá fazer -seja o
atual ou o futuro- se a própria nação, se a sociedade brasileira, não
disser um basta à dependência e à
ortodoxia convencional.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 72, professor emérito
da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da
Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia, é autor de
"As Revoluções Utópicas dos Anos 60".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser uol.com.br
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