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Petrobras gasta 36,5% mais com pessoal
Em um ano, mais de 8.000 pessoas são contratadas; aumento de despesas reduziu ganho em 38% no primeiro trimestre
Estatal diz que objetivo é se preparar para expansão
das atividades no futuro; consultor vê contratações como um "fato inédito"
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Uma política agressiva de
contratação de funcionários resultou em forte aumento de
36,5% nas despesas administrativas da Petrobras, que subiram de R$ 832 milhões no primeiro trimestre de 2006 para
R$ 1,136 bilhão em igual período deste ano. Foram contratadas 8.006 pessoas no intervalo
de março de 2006 a março de
2007. A grande maioria (7.720)
foi admitida por meio de concurso público, diz a empresa.
Até o começo do governo Lula, a Petrobras tinha 34,5 mil
empregados próprios no final
de 2002 e mais 5.900 em suas
subsidiárias. Os números saltaram para 49,9 mil e 11,1 mil, respectivamente, ao final de março deste ano. Na holding, a expansão foi de 44,6%. Nas controladas, ficou em 88,1%. Na
média, houve aumento de 60%.
Segundo a gerente de planejamento da área de recursos
humanos da Petrobras, Mariângela Mundi, as contratações têm como objetivo suprir
a expansão das atividades da
empresa no futuro.
Em regra, diz ela, não se trata
de uma política de substituição
de mão-de-obra de empresas
terceirizadas por funcionários
próprios. "O quadro de pessoal
vai dobrar nos próximos anos.
A empresa, que investirá US$
17 bilhões ao ano até 2011, precisa de mais gente para tocar a
internacionalização e os novos
projetos."
Só em gastos com a contratação de novos funcionários, o
aumento nos custos administrativos foi de R$ 304 milhões
entre o primeiro trimestre de
2006 e igual período de 2007.
O incremento é bem maior
do que o de outras fontes de
custos como salários (R$ 92
milhões), serviços prestados
por terceiros (R$ 102 milhões)
ou aluguel e manutenção de artigos de informática e outros
equipamentos (R$ 42 milhões).
Para formar a força de trabalho que foi contratada, a estatal
aumentou as despesas com
cursos de qualificação e aperfeiçoamento em R$ 42 milhões.
Os custos da holding com
pessoal subiram de R$ 1,645 bilhão de janeiro a março de
2006 para R$ 1,938 bilhão no
mesmo período de 2007.
Considerando também as
subsidiárias, as despesas administrativas do Sistema Petrobras cresceram 38,4% -de R$
1,186 bilhão no primeiro trimestre de 2006 para R$ 1,641
bilhão nos primeiros três meses deste ano.
Mundi afirma, porém, que o
aumento no número de funcionários e o conseqüente incremento das despesas ficaram
concentrados na Petrobras holding, controladora de empresas
como a BR e a Transpetro.
"Fato inédito"
Para Adriano Pires, diretor
da consultoria CBIE (Centro
Brasileiro de Infra-Estrutura),
"nenhuma empresa no mundo
contrata mais de 8.000 pessoas
em apenas um ano".
"Isso é inédito. Nunca ouvi
falar. Nunca vi a notícia de que
qualquer empresa no mundo
tenha contratado tanta gente.
Ainda mais em ano eleitoral",
disse, em referência ao fato de
boa parte das contratações ter
sido realizada em 2006, ano da
reeleição do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Segundo Pires, as contrações
atendem a "interesses políticos" e não se justificam. O fato,
diz, é agravado porque os funcionários passam por um longo
período de treinamento, durante o qual não produzem e só
geram gastos.
Já Filipe Cunha, analista do
banco Brascan, diz que a produtividade dos funcionários da
Petrobras está na média das
empresas do setor, embora
afirme que, "no caso de uma estatal, é preciso sempre ficar
atento a esse item". "Não parece que a Petrobras seja uma
empresa ineficiente olhando
para a produção média de seus
funcionários", avalia Cunha.
Na divulgação do balanço do
primeiro trimestre do ano, o diretor financeiro da Petrobras,
Almir Barbassa, ressaltou que o
aumento das despesas administrativas, provocado pelo
crescimento das contratações,
foi um dos fatores que levaram
à queda (de 38%) no lucro da
companhia no primeiro trimestre -para R$ 4,1 bilhões.
Destacou ainda o fato de inicialmente os novos contratados representarem apenas custos para a companhia antes de
começarem a produzir.
Terceirizados
Não foi só o número de funcionários próprios que aumentou. O total de empregados de
empresas terceirizadas subiu
36,4% -de 110 mil no fim de
2002 para 150 mil no fim do
primeiro trimestre de 2007.
Entre os admitidos por concursos, os cargos mais freqüentes foram os de engenheiros de
equipamentos (505), de petróleo (151) e de processamento
(165), além de 1.287 operadores
de nível médio.
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