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Real forte leva indústria a importar item acabado
Estratégia é usada devido à longa queda do dólar
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Começou com a importação
crescente de insumos, mas a
apreciação prolongada do real
levou segmentos tradicionais
da indústria a jogar a toalha e
recorrer à importação de bens
acabados.
Dessa forma, algumas empresas reduziram sua atuação
ao papel de importadoras de
parte da linha de produtos enquanto o governo ainda avalia
como evitar que o dólar teste
novos pisos abaixo de R$ 2.
É o caso da Suggar, tradicional fabricante de exaustores.
No passado, chegou a exportar
14 mil secadoras de roupas por
mês. Com a valorização do real,
Lúcio Costa, dono da empresa,
optou por importar bens acabados. Com isso, passou a oferecer 40 produtos -34 importados, sendo 28 chineses.
"Cada produto custaria, no
mínimo, R$ 10 milhões para ser
fabricado no Brasil. Estou nesse ramo desde 1966, já passei
por superinflação, confisco da
poupança, meus principais
clientes pediram concordata.
Decidi pegar minhas ferramentas, passar graxa e guardar.
Quem sabe amanhã começo a
produzir mais novamente."
Segundo Costa, a estratégia
tem sido adotada por todas as
empresas de eletrodomésticos
de pequeno volume. "Só não fazem isso com a máquina de lavar porque o frete não vale a pena. O contêiner ainda é caro",
disse. Com a nova estratégia,
teve de cortar 104 empregos.
Cenário indefinido
Segundo Antonio Licha, professor do Grupo de Conjuntura
da UFRJ, é difícil distinguir no
atual cenário o que é resultado
da apreciação cambial e o que é
sinônimo da nova especialização do trabalho decorrente do
efeito China. Na prática, o processo poderia resultar até mesmo no desaparecimento de alguns segmentos industriais.
"A apreciação cambial pode
ser revertida em algum momento. Os setores que estão
importando bens não vão mais
conseguir importar e terão fechado as unidades domésticas.
Isso cria uma incógnita sobre o
futuro da indústria."
Para Licha, a taxa de câmbio
atual já prejudica as montadoras de veículos que vieram para
o Brasil durante a década de 90.
O eventual fechamento de unidades poderia acentuar ainda
mais as desigualdades regionais e estimular o fluxo de mudanças entre as regiões. "Se fecha uma fábrica na Bahia, a tendência é o operário procurar
emprego em outras regiões."
Enquanto o cenário cambial
não se define, o presidente da
fabricante de brinquedos Estrela, Carlos Tilkian, afirma
que traçou uma estratégia que
permite produzir ou importar
de acordo com o cenário.
Em 2007, a fabricante de
brinquedos estima que as importações responderão por
40% do faturamento. A Estrela
criou uma campanha de relançamento dos brinquedos mais
tradicionais. Quem brincou de
Genius (jogo de teste de memória, na década de 80) verá um
produto agora produzido integralmente na China.
Câmbio ideal: R$ 2,70
Para José Augusto de Castro,
vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do
Brasil), o dólar ideal para os exportadores seria na faixa de R$
2,70. O razoável para contentar
80% dos exportadores seria na
faixa de R$ 2,40 a R$ 2,50, patamar ainda distante do atual.
Outra estratégia adotada para driblar o real forte é acelerar
o processo de internacionalização. A Marcopolo, fabricante de
carrocerias de ônibus, aumentou a produção em unidades no
México, na África do Sul e na
Colômbia para enfrentar a concorrência. Além disso, reduziu
a exportação de insumos e de
componentes brasileiros para
essas unidades.
"Passamos a aproveitar os insumos e os componentes locais", afirma Nelson Gehrke,
diretor de operações comerciais do mercado externo. A
maior parte (74%) das exportações da Marcopolo está concentrada na América do Sul.
A Azaléia, fabricante de calçados, adotou estratégia similar. Decidiu focar no mercado
interno. No primeiro trimestre,
as exportações caíram 40,3%
com a valorização do real. A
meta é mesclar o abastecimento do mercado externo com exportações do Brasil e da China.
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