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Investidor leva cultura de poupança para a Bolsa
Pequeno aplicador investe um pouco todo mês com objetivo de longo prazo
Mesmo com risco maior, cresce a cada dia o número de investidores que usam
a internet para comprar ações sem intermediários
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Promessa do mercado de
ações desde 2000, a negociação
de ações pela internet vive neste ano seu aguardado boom.
Com alta acumulada de 17,1%
no ano, nunca a Bolsa despertou tanto o interesse do brasileiro que investe na poupança e
nos fundos de DI, que perdem
rendimento pela baixa do juro.
Mesmo com o risco que a
aplicação traz, os investimentos de pessoa física na Bovespa
cresceram de janeiro a abril pelo menos R$ 5,13 bilhões, dinheiro movimentado quase
que integralmente por meio
dos chamados "homebrokers",
as corretoras on-line da Bolsa.
Segundo Helio Pio, gerente
comercial da corretora Ágora, a
maior negociadora on-line da
Bovespa, além da diminuição
no rendimento do DI e dos recordes da Bolsa, dois outros fatores explicam o "agora vai" do
mercado acionário virtual: as
facilidades na negociação de
ações pela internet e a confiança na segurança dos sites.
As corretoras on-line já contam com 243 mil investidores
pessoa física e movimentam
pouco menos de 10% do volume de negócios da Bovespa. Só
neste ano entraram na Bolsa
23,4 mil novos clientes. São
pessoas que decidiram investir
sozinhas em ações, sem "contratar" a proteção e a experiência de fundos ou de clubes de
investimento. A vantagem é
não pagar taxas de administração, que hoje variam de 1% a 4%
do patrimônio, e poder entrar e
sair das aplicações com apenas
um clique no mouse. O risco é
perder (pouco ou muito) dinheiro (leia texto ao lado).
O ambiente virtual dos "homebrokers" é território essencialmente masculino, já que
78% dos associados são homens. A maioria tem entre 20 e
40 anos -mas até criança tem
conta na Bovespa, que conta
com 1.758 menores de dez anos
cadastrados. Dinheiro mesmo
quem tem são os maiores de 50
anos, com quase 50% dos R$
58,79 bilhões em ações em poder de pessoas físicas.
Quase metade -49,38%-
dos investidores mora em São
Paulo, mas há pessoas negociando ações pela internet em
todos os Estados do país. Segundo as corretoras, os novatos
trazem uma cultura de investidor de poupança para a Bolsa,
uma vez que estão acostumados a esperar um longo mês para embolsar rendimento de
0,65%. "O pequeno investidor
pensa no longo prazo e investe
em papéis sólidos, como Vale e
Petrobras. São na maioria jovens ou recém-formados que
têm apetite maior pelo risco.
Começa a operar com pouco,
mas tende a aumentar o apetite
conforme vai ganhando", disse
Roberto Lee, da corretora Win.
"Vemos clientes comprar todos os meses, no mesmo dia, R$
500 em ações da Vale. É uma
cultura de acumulação de poupança de longo prazo", diz Anibal César dos Santos, diretor da
corretora do Bradesco.
"Sangue frio"
No Bradesco, os investidores
costumam negociar entre R$
5.000 e R$ 6.000 no "homebroker". O banco, que soma 18 milhões de correntistas, tem em
sua corretora 70 mil clientes
cadastrados e figura como a segunda maior corretora on-line
da Bovespa. Para atender o
crescente interesse dos correntistas, a corretora decidiu colocar profissionais próprios em
algumas agências para explicar
o funcionamento do site.
A Ágora Senior foi uma das
que mais investiram em "homebroker" desde 1999, época
anterior ao estouro da bolha da
internet, que estancou os investimentos no setor. No site, a
Ágora criou chats, canal de TV,
sugere carteiras e oferece análises para os clientes.
As corretoras on-line afirmam que os novos investidores
mostraram "sangue frio" para
lidar com momentos de perdas,
como aconteceu na terça-feira,
27 de fevereiro, quando a Bolsa
de Xangai desabou 9% e provocou pânico nos mercados internacionais. "Vimos poucas retiradas naquele dia, provavelmente menores do que as feitas
pelos profissionais de mercado.
Estamos aprendendo muito
com a serenidade desses investidores", diz Santos.
Mais do que os momentos de
histeria, a corretora Win adverte para a ingenuidade desses investidores devido à falta de experiência e de informação.
Em novembro passado, a Petrobras divulgou lucro acumulado no ano de R$ 20 bilhões, o
maior de sua história. A notícia
levou investidores a comprar
ações da estatal. "Acontece que
o mercado esperava lucro
maior, de US$ 21 bilhões. As
ações caíram e muitos aprenderam que deviam saber mais
sobre os balanços", diz Lee.
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