São Paulo, segunda-feira, 21 de maio de 2007

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Investidor leva cultura de poupança para a Bolsa

Pequeno aplicador investe um pouco todo mês com objetivo de longo prazo

Mesmo com risco maior, cresce a cada dia o número de investidores que usam a internet para comprar ações sem intermediários

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Promessa do mercado de ações desde 2000, a negociação de ações pela internet vive neste ano seu aguardado boom. Com alta acumulada de 17,1% no ano, nunca a Bolsa despertou tanto o interesse do brasileiro que investe na poupança e nos fundos de DI, que perdem rendimento pela baixa do juro.
Mesmo com o risco que a aplicação traz, os investimentos de pessoa física na Bovespa cresceram de janeiro a abril pelo menos R$ 5,13 bilhões, dinheiro movimentado quase que integralmente por meio dos chamados "homebrokers", as corretoras on-line da Bolsa.
Segundo Helio Pio, gerente comercial da corretora Ágora, a maior negociadora on-line da Bovespa, além da diminuição no rendimento do DI e dos recordes da Bolsa, dois outros fatores explicam o "agora vai" do mercado acionário virtual: as facilidades na negociação de ações pela internet e a confiança na segurança dos sites.
As corretoras on-line já contam com 243 mil investidores pessoa física e movimentam pouco menos de 10% do volume de negócios da Bovespa. Só neste ano entraram na Bolsa 23,4 mil novos clientes. São pessoas que decidiram investir sozinhas em ações, sem "contratar" a proteção e a experiência de fundos ou de clubes de investimento. A vantagem é não pagar taxas de administração, que hoje variam de 1% a 4% do patrimônio, e poder entrar e sair das aplicações com apenas um clique no mouse. O risco é perder (pouco ou muito) dinheiro (leia texto ao lado).
O ambiente virtual dos "homebrokers" é território essencialmente masculino, já que 78% dos associados são homens. A maioria tem entre 20 e 40 anos -mas até criança tem conta na Bovespa, que conta com 1.758 menores de dez anos cadastrados. Dinheiro mesmo quem tem são os maiores de 50 anos, com quase 50% dos R$ 58,79 bilhões em ações em poder de pessoas físicas.
Quase metade -49,38%- dos investidores mora em São Paulo, mas há pessoas negociando ações pela internet em todos os Estados do país. Segundo as corretoras, os novatos trazem uma cultura de investidor de poupança para a Bolsa, uma vez que estão acostumados a esperar um longo mês para embolsar rendimento de 0,65%. "O pequeno investidor pensa no longo prazo e investe em papéis sólidos, como Vale e Petrobras. São na maioria jovens ou recém-formados que têm apetite maior pelo risco. Começa a operar com pouco, mas tende a aumentar o apetite conforme vai ganhando", disse Roberto Lee, da corretora Win.
"Vemos clientes comprar todos os meses, no mesmo dia, R$ 500 em ações da Vale. É uma cultura de acumulação de poupança de longo prazo", diz Anibal César dos Santos, diretor da corretora do Bradesco.

"Sangue frio"
No Bradesco, os investidores costumam negociar entre R$ 5.000 e R$ 6.000 no "homebroker". O banco, que soma 18 milhões de correntistas, tem em sua corretora 70 mil clientes cadastrados e figura como a segunda maior corretora on-line da Bovespa. Para atender o crescente interesse dos correntistas, a corretora decidiu colocar profissionais próprios em algumas agências para explicar o funcionamento do site.
A Ágora Senior foi uma das que mais investiram em "homebroker" desde 1999, época anterior ao estouro da bolha da internet, que estancou os investimentos no setor. No site, a Ágora criou chats, canal de TV, sugere carteiras e oferece análises para os clientes.
As corretoras on-line afirmam que os novos investidores mostraram "sangue frio" para lidar com momentos de perdas, como aconteceu na terça-feira, 27 de fevereiro, quando a Bolsa de Xangai desabou 9% e provocou pânico nos mercados internacionais. "Vimos poucas retiradas naquele dia, provavelmente menores do que as feitas pelos profissionais de mercado. Estamos aprendendo muito com a serenidade desses investidores", diz Santos.
Mais do que os momentos de histeria, a corretora Win adverte para a ingenuidade desses investidores devido à falta de experiência e de informação.
Em novembro passado, a Petrobras divulgou lucro acumulado no ano de R$ 20 bilhões, o maior de sua história. A notícia levou investidores a comprar ações da estatal. "Acontece que o mercado esperava lucro maior, de US$ 21 bilhões. As ações caíram e muitos aprenderam que deviam saber mais sobre os balanços", diz Lee.


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