São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

Com vocês, lady Meredith


A historinha da analista que fritou o Citibank, casou com um campeão de luta-livre e azedou o mercado ontem

MEREDITH WHITNEY deu ontem um tapinha na Bolsa americana. Talvez o petróleo tenha dado um tapão, blablablá e outras cascatas de mercado. Mas quem é Meredith, que azedou Wall Street, já fritou o Citibank e é casada com um campeão de luta-livre?
No final do ano passado, Meredith virou estrela nos EUA. Analista de mercado do então relativamente obscuro banco de investimentos Oppenheimer & Co., Meredith afirmou que o Citi estava micado em relatório publicado no dia 31 de outubro de 2007. Dizia que o banco precisava vender ativos, aumentar o capital e cortar dividendos. Que teria baitas prejuízos e que distribuía aos acionistas dinheiro que não tinha.
No dia 1º de novembro, o diagnóstico de Meredith foi seguido pelo Morgan Stanley e pelo Credit Suisse.
A ação do Citi caiu 7%. O presidente do banco, "Chuck" Prince, cairia três dias depois. O banco anunciava prejuízos monstruosos com derivativos imobiliários. Prince ficara notório por dizer que, enquanto a música da bolha de crédito continuasse a tocar, o Citi dançaria. Dançou. Meredith acertou na mosca o rolo do Citi.
Meredith, 38, loura ligeiramente oxigenada, não estudou finanças ou economia. Graduou-se em história na elegante mas discreta Universidade Brown, da Ivy League, onde até outro dia FHC dava aulas. Em 2003, participou do tour de Natal do USO, ONG semi-oficial que apóia tropas americanas no exterior e diverte os soldados do Império com celebridades, conhecida pelos shows de Bob Hope. Meredith visitou tropas no Iraque, no Kuait e no Afeganistão.
É casada desde 2005 com John Layfield, ex-jogador profissional de futebol americano, expoente da luta-livre de fantasia, radialista conservador, comentarista de finanças e vice-presidente de uma corretora.
Conheceram-se na Fox News, onde debatiam notícias do mercado. Um amor americano da era Bush.
O texano Layfield, 1,97 m, viveu no ringue tipos como o Máscara da Morte e JBL, paródia de JR, o empresário petrolífero malvado do velho seriado "Dallas" (encarnado por Larry Hagman, o major Nelson de "Jeannie é um Gênio"). Uma empresa do lutador vende a bebida energética Mamajuana, o "viagra líquido".
Na nota de casamento que saiu no "New York Times", Layfield disse que Meredith o ensinou a usar garfos e a não beber cerveja no gargalo.
Bem, o que Meredith dizia mesmo sobre o mercado? Em nota, ela e colegas avaliam que a crise de crédito dura até 2009, pelo menos. Que os bancos vão perder mais dinheiro até lá (US$ 184 bilhões em baixas contábeis de ativos podres). Baixaram as estimativas de lucro de Bank of America, Citi, JPMorgan, Wachovia e Wells Fargo, os maiores dos Estados Unidos. As ações do JPMorgan caíram 4,8%. As do Citi, 3,8%.
Meredith vai acertar de novo? Ontem, a diferença entre os juros de títulos americanos e a Libor em dólares (juro interbancário), para empréstimos de três meses, caiu para o menor nível desde o estouro da crise. Bom sinal? O varejo americano coloca a língua para fora, assim como o consumidor, endividado e mais desempregado. O S&P 500 e o Dow Jones estão no vermelho neste ano e nos últimos 12 meses. E o lucro das empresas americanas cai desde o terceiro trimestre do ano passado.

vinit@uol.com.br


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