São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2000


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LUÍS NASSIF

A qualidade total em Divinópolis

A gestão pela qualidade total está começando a ganhar corações e mentes de alguns municípios pioneiros na matéria. É o caso de Divinópolis, município mineiro que decidiu implementar o método depois que uma coalizão que ia do PFL ao PT elegeu prefeito o tucano Domingos Sávio.
A cidade está a oeste de Belo Horizonte, tem 180 mil habitantes e receita anual de R$ 50 milhões. Sávio assumiu a prefeitura com uma dívida quase impagável, uma relação receita/despesa impraticável e com promessas de campanha.
Com assessoria da Fundação de Desenvolvimento Gerencial (FDG), o programa foi iniciado em 1997. O primeiro passo foi uma reforma na administração que reduziu os cargos de livre nomeação de 300 para 100 e os níveis hierárquicos, de seis para dois, resultando em uma economia mensal de R$ 100 mil.
A implementação da qualidade total foi precedida de uma ampla discussão para convencer a equipe de governo e torná-la coesa, na defesa da proposta. O segundo passo foi convencer os servidores. O terceiro, a mobilização de lideranças comunitárias e entidades de classe, ajudando a identificar e a priorizar as necessidades do município.

Nova estrutura
Após a reforma administrativa, a prefeitura ficou com cinco secretarias: de Administração e Recursos, de Educação, de Obras e Serviços Urbanos, de Planejamento e Desenvolvimento e de Saúde. Traçado o plano geral, cada secretaria definiu seu plano de ação e dois problemas a ser atacados com as ferramentas da qualidade.
No caso da Secretaria de Administração e Recursos, foi estipulada a meta de aumentar a arrecadação própria em 45% no período 1996/2000. Na Educação, a meta proposta foi aumentar a aprovação de 70% para 90%. Na Secretaria de Obras e Serviços, a meta era baixar os acidentes de trabalho, o tempo de ligação da rede e ampliar o sistema de esgoto em 20% até dezembro de 2000.
O caso bem-sucedido foi na Secretaria da Saúde. Primeiro, houve mudança radical do paradigma de saúde. Em lugar de aumentar a demanda pelo setor, buscou-se reduzir a procura, por meio da redução da doença.
Por meio de levantamentos estatísticos, a secretaria passou a identificar os focos de doença. Identificados, equipes -constituídas de médico, psicólogo, assistente social e enfermeiro- são enviadas às comunidades para estudar as causas.
Em 1998, as estatísticas revelaram que a mortalidade estava concentrada em pontos da periferia. Uma análise dos locais identificou que o problema estava no saneamento. Em 1999 o perinatal representou o ponto mais elevado de mortalidade. Era ausência de estrutura hospitalar adequada. A população foi mobilizada, e foi construído um CTI infantil, montado pela comunidade e mantido pelo SUS.
Todas essas ações foram reforçadas por programas e campanhas com forte apelo de marketing. A Vigilância Sanitária, por exemplo, criou o selo "Tá Limpo" -colocado em todo estabelecimento vistoriado e aprovado. A meta foi a de o selo ser concedido a 75% dos restaurantes. Em cada um, é providenciada uma comemoração. A campanha odontológica ganhou o título de "Divinópolis de sorriso novo". A de aleitamento materno foi batizada de "Nascer Divino", com a entrega de diplomas para as mães que amamentam.
A implantação do programa de qualidade permitiu que o laboratório municipal passasse a ser demandado até pelas organizações privadas de saúde, ajudando no seu financiamento. A farmácia municipal conseguiu baixar o custo por atendimento de R$ 3,49 para R$ 2,40, por meio da análise e padronização de medicamentos.
É importante que os candidatos a prefeito, nas próximas eleições, abracem essa bandeira da gestão pela qualidade: é bom para eleger prefeitos e melhor ainda para atender aos cidadãos.


E-mail - lnassif@uol.com.br



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