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LUÍS NASSIF
A qualidade total em Divinópolis
A gestão pela qualidade total está começando a ganhar corações e mentes de alguns municípios pioneiros na
matéria. É o caso de Divinópolis,
município mineiro que decidiu
implementar o método depois
que uma coalizão que ia do PFL
ao PT elegeu prefeito o tucano
Domingos Sávio.
A cidade está a oeste de Belo
Horizonte, tem 180 mil habitantes e receita anual de R$ 50 milhões. Sávio assumiu a prefeitura com uma dívida quase impagável, uma relação receita/despesa impraticável e com promessas de campanha.
Com assessoria da Fundação
de Desenvolvimento Gerencial
(FDG), o programa foi iniciado
em 1997. O primeiro passo foi
uma reforma na administração
que reduziu os cargos de livre
nomeação de 300 para 100 e os
níveis hierárquicos, de seis para
dois, resultando em uma economia mensal de R$ 100 mil.
A implementação da qualidade total foi precedida de uma
ampla discussão para convencer
a equipe de governo e torná-la
coesa, na defesa da proposta. O
segundo passo foi convencer os
servidores. O terceiro, a mobilização de lideranças comunitárias e entidades de classe, ajudando a identificar e a priorizar
as necessidades do município.
Nova estrutura
Após a reforma administrativa, a prefeitura ficou com cinco
secretarias: de Administração e
Recursos, de Educação, de Obras
e Serviços Urbanos, de Planejamento e Desenvolvimento e de
Saúde. Traçado o plano geral,
cada secretaria definiu seu plano de ação e dois problemas a ser
atacados com as ferramentas da
qualidade.
No caso da Secretaria de Administração e Recursos, foi estipulada a meta de aumentar a
arrecadação própria em 45% no
período 1996/2000. Na Educação, a meta proposta foi aumentar a aprovação de 70% para
90%. Na Secretaria de Obras e
Serviços, a meta era baixar os
acidentes de trabalho, o tempo
de ligação da rede e ampliar o
sistema de esgoto em 20% até
dezembro de 2000.
O caso bem-sucedido foi na Secretaria da Saúde. Primeiro,
houve mudança radical do paradigma de saúde. Em lugar de
aumentar a demanda pelo setor,
buscou-se reduzir a procura, por
meio da redução da doença.
Por meio de levantamentos estatísticos, a secretaria passou a
identificar os focos de doença.
Identificados, equipes -constituídas de médico, psicólogo, assistente social e enfermeiro-
são enviadas às comunidades
para estudar as causas.
Em 1998, as estatísticas revelaram que a mortalidade estava
concentrada em pontos da periferia. Uma análise dos locais
identificou que o problema estava no saneamento. Em 1999 o
perinatal representou o ponto
mais elevado de mortalidade.
Era ausência de estrutura hospitalar adequada. A população foi
mobilizada, e foi construído um
CTI infantil, montado pela comunidade e mantido pelo SUS.
Todas essas ações foram reforçadas por programas e campanhas com forte apelo de marketing. A Vigilância Sanitária, por
exemplo, criou o selo "Tá Limpo" -colocado em todo estabelecimento vistoriado e aprovado.
A meta foi a de o selo ser concedido a 75% dos restaurantes. Em
cada um, é providenciada uma
comemoração. A campanha
odontológica ganhou o título de
"Divinópolis de sorriso novo". A
de aleitamento materno foi batizada de "Nascer Divino", com a
entrega de diplomas para as
mães que amamentam.
A implantação do programa
de qualidade permitiu que o laboratório municipal passasse a
ser demandado até pelas organizações privadas de saúde, ajudando no seu financiamento. A
farmácia municipal conseguiu
baixar o custo por atendimento
de R$ 3,49 para R$ 2,40, por
meio da análise e padronização
de medicamentos.
É importante que os candidatos a prefeito, nas próximas eleições, abracem essa bandeira da
gestão pela qualidade: é bom para eleger prefeitos e melhor ainda para atender aos cidadãos.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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