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VINICIUS TORRES FREIRE
O PIB potencial e a cama elástica
Novas estimativas de PIB potencial ficam em torno de 4%, mas medida é frágil e não representa uma maldição
O IPEA apresentou sua estimativa de crescimento potencial do PIB: 3,8%. A conta é
do pesquisador José Ronaldo de
Castro Souza Júnior, publicada no
Boletim de Conjuntura do Ipea (grátis em www.ipea.gov.br, clicar "Publicações" e depois "Boletins").
Isto é, no longo prazo, dadas as
tendências recentes de produtividade e da oferta de capital e trabalho,
se o país crescer muito além disso
teria problemas como inflação. Já
estaríamos, aliás, no limite do nosso
PIB potencial, dado o último balanço do IBGE do PIB real (3,8%).
Nesta década, a estimativa do PIB
potencial variou de 2% a 3,5%. Depois que a economia começou a
crescer um pouco mais, com inflação baixa, e que o IBGE, ao revisar os
dados do PIB, mostrou mais um naco da nossa grande ignorância sobre
a economia brasileira, tais cálculos
de potencial foram revistos. Têm variado de 3,5% a 4,2%.
O PIB potencial não é uma maldição. Pode crescer, a depender do volume de novos investimentos produtivos, da qualidade desses investimentos, da oferta de força de trabalho e de sua produtividade.
Mas imagine-se um bioeconometrista (sim, é piada) a calcular o que
ocorre consigo caso pule de um prédio. "Tudo mais constante", o bioeconometrista conclui que, a partir
do terceiro andar, fraturas de pernas
são bem prováveis (95,78% de chances). A partir do quarto andar, a fratura é certa. Mas o que ocorre se, antes da queda, aparecer um colchão
inesperado? Uma cama elástica de
circo? Uma rede de bombeiros? O
econometrista de PIB ou fratura potenciais não lida bem com isso.
O problema é que, na economia
brasileira, podem aparecer (ou não)
colchões de modo mais inesperado
do que é o costume em economias
mais regulares e onde existem mais
e melhores dados econômicos.
Além do mais, pode ser que a gente se estatele sobre um supercolchão
duplo de hotel americano ou sobre
um mero saco fino de palha. Isto é,
os investimentos podem ser mais ou
menos capazes de aumentar a produtividade média da economia (a
depender de câmbio, juros, política
industrial, criação de setores econômicos inovadores etc). Ou trabalhadores aparentemente incapazes de
atender às exigências de fábricas
modernas podem surpreender e serem produtivos após escasso treinamento (aconteceu no México).
O fator de produção escasso ainda
é o capital fixo (máquinas e instalações produtivos), mas há certa dúvida sobre a mão-de-obra. O desemprego é cronicamente alto, uns 10%,
mas há notícias de escassez de gente
qualificada em certos setores.
Sim, os investimentos têm aumentado mais que o PIB. Isto é, pode estar crescendo a relação entre o
estoque de capital fixo e o produto
total (o que, em tese, melhora o PIB
potencial), embora não saibamos
bem o ritmo de depreciação (necessidade de substituição) do capital.
De resto, há tanta areia na máquina econômica que certas medidas
podem ser "destampatórias", diga-se de modo pouco científico. Se normas, juros e impostos facilitarem
obras de gasodutos, usinas elétricas,
concessões de portos e estradas e
mais investimento público em infra-estrutura, "voilá", a resposta do
investimento privado pode vir num
múltiplo maior que o esperado.
vinit@uol.com.br
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