São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O PIB potencial e a cama elástica

Novas estimativas de PIB potencial ficam em torno de 4%, mas medida é frágil e não representa uma maldição

O IPEA apresentou sua estimativa de crescimento potencial do PIB: 3,8%. A conta é do pesquisador José Ronaldo de Castro Souza Júnior, publicada no Boletim de Conjuntura do Ipea (grátis em www.ipea.gov.br, clicar "Publicações" e depois "Boletins").
Isto é, no longo prazo, dadas as tendências recentes de produtividade e da oferta de capital e trabalho, se o país crescer muito além disso teria problemas como inflação. Já estaríamos, aliás, no limite do nosso PIB potencial, dado o último balanço do IBGE do PIB real (3,8%).
Nesta década, a estimativa do PIB potencial variou de 2% a 3,5%. Depois que a economia começou a crescer um pouco mais, com inflação baixa, e que o IBGE, ao revisar os dados do PIB, mostrou mais um naco da nossa grande ignorância sobre a economia brasileira, tais cálculos de potencial foram revistos. Têm variado de 3,5% a 4,2%.
O PIB potencial não é uma maldição. Pode crescer, a depender do volume de novos investimentos produtivos, da qualidade desses investimentos, da oferta de força de trabalho e de sua produtividade. Mas imagine-se um bioeconometrista (sim, é piada) a calcular o que ocorre consigo caso pule de um prédio. "Tudo mais constante", o bioeconometrista conclui que, a partir do terceiro andar, fraturas de pernas são bem prováveis (95,78% de chances). A partir do quarto andar, a fratura é certa. Mas o que ocorre se, antes da queda, aparecer um colchão inesperado? Uma cama elástica de circo? Uma rede de bombeiros? O econometrista de PIB ou fratura potenciais não lida bem com isso.
O problema é que, na economia brasileira, podem aparecer (ou não) colchões de modo mais inesperado do que é o costume em economias mais regulares e onde existem mais e melhores dados econômicos.
Além do mais, pode ser que a gente se estatele sobre um supercolchão duplo de hotel americano ou sobre um mero saco fino de palha. Isto é, os investimentos podem ser mais ou menos capazes de aumentar a produtividade média da economia (a depender de câmbio, juros, política industrial, criação de setores econômicos inovadores etc). Ou trabalhadores aparentemente incapazes de atender às exigências de fábricas modernas podem surpreender e serem produtivos após escasso treinamento (aconteceu no México).
O fator de produção escasso ainda é o capital fixo (máquinas e instalações produtivos), mas há certa dúvida sobre a mão-de-obra. O desemprego é cronicamente alto, uns 10%, mas há notícias de escassez de gente qualificada em certos setores.
Sim, os investimentos têm aumentado mais que o PIB. Isto é, pode estar crescendo a relação entre o estoque de capital fixo e o produto total (o que, em tese, melhora o PIB potencial), embora não saibamos bem o ritmo de depreciação (necessidade de substituição) do capital.
De resto, há tanta areia na máquina econômica que certas medidas podem ser "destampatórias", diga-se de modo pouco científico. Se normas, juros e impostos facilitarem obras de gasodutos, usinas elétricas, concessões de portos e estradas e mais investimento público em infra-estrutura, "voilá", a resposta do investimento privado pode vir num múltiplo maior que o esperado.


vinit@uol.com.br

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