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Obras ligam região isolada nos Andes a litoral rico
Criação de infraestrutura inédita para vilas remotas incentiva novos negócios
Em outra frente, países discutem criação de ponte aérea Rio Branco-Lima; hoje, passageiro do Norte vai a São Paulo para voar ao Peru
DO ENVIADO ESPECIAL AO PERU
Antes de se converter num
instrumento de desenvolvimento, a Rodovia Interoceânica exerce função mais primária: revelar o Peru aos peruanos. A estrada começa a conectar apenas agora o litoral, de nível mais alto de desenvolvimento, a comunidades até agora isoladas na cordilheira dos
Andes e na selva amazônica.
"A rodovia tem nos revelado
surpresas. Nem nós nos conhecemos. Antes de sabermos o
que a Interoceânica pode nos
oferecer com acesso ao Brasil,
estamos descobrindo o que podemos fornecer para nós mesmos", diz Carlos Milla Villagarcia, presidente da Câmara de
Comércio e Turismo de Cusco.
Com economia baseada na
mineração, o país avança para a
industrialização. A maior parte
da agricultura é de subsistência. É essa, em parte, a preocupação dos peruanos. A estrada
ligará regiões de economia arcaica a uma macrorregião com
PIB de US$ 30,8 bilhões, segundo estimativa do Centro de Investigações da Universidade do
Pacífico, de Lima.
O trabalho aponta que a Estrada do Pacífico cruzará nove
departamentos (equivalentes a
Estados) peruanos e estará na
zona de influência de dois departamentos bolivianos (Pando e Beni) e mais quatro Estados brasileiros (Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso).
No total, mais de 12 milhões de
habitantes vivem na região.
Primeiras apostas
São esses números que começam a estimular novos negócios, até então nem sequer
imaginados. As iniciativas vão
da simples ligação rodoviária
para transporte de passageiros
e carga entre o Acre e cidades
no interior do Peru a uma ponte aérea Rio Branco-Lima.
Quem promete reavivar um
antigo projeto é a Expresso
Araçatuba, uma das maiores
transportadoras do país. A empresa estuda retomada de linhas regulares de transporte de
carga entre o Brasil e algumas
áreas no território peruano.
A condição para isso, diz Oswaldo Castro Jr., diretor-geral
da transportadora, é conseguir
operar com produtos de alto
valor agregado (acima de US$
1.500) com frete de retorno.
Além de uma ligação regular,
os dois países discutem a criação de um voo doméstico entre
a capital do Acre e Lima. "Um
voo entre Rio Branco e Lima
não demora mais de uma hora e
trinta minutos. Mas, se alguém
quiser sair daqui e ir para a capital peruana, terá de voar mais
de 3.000 quilômetros até São
Paulo para somente aí embarcar para Lima. Diante da perspectiva de integração regional,
isso não faz o menor sentido",
diz Gilberto Siqueira, secretário de Planejamento do Acre.
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