São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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Obras ligam região isolada nos Andes a litoral rico

Criação de infraestrutura inédita para vilas remotas incentiva novos negócios

Em outra frente, países discutem criação de ponte aérea Rio Branco-Lima; hoje, passageiro do Norte vai a São Paulo para voar ao Peru


DO ENVIADO ESPECIAL AO PERU

Antes de se converter num instrumento de desenvolvimento, a Rodovia Interoceânica exerce função mais primária: revelar o Peru aos peruanos. A estrada começa a conectar apenas agora o litoral, de nível mais alto de desenvolvimento, a comunidades até agora isoladas na cordilheira dos Andes e na selva amazônica.
"A rodovia tem nos revelado surpresas. Nem nós nos conhecemos. Antes de sabermos o que a Interoceânica pode nos oferecer com acesso ao Brasil, estamos descobrindo o que podemos fornecer para nós mesmos", diz Carlos Milla Villagarcia, presidente da Câmara de Comércio e Turismo de Cusco.
Com economia baseada na mineração, o país avança para a industrialização. A maior parte da agricultura é de subsistência. É essa, em parte, a preocupação dos peruanos. A estrada ligará regiões de economia arcaica a uma macrorregião com PIB de US$ 30,8 bilhões, segundo estimativa do Centro de Investigações da Universidade do Pacífico, de Lima.
O trabalho aponta que a Estrada do Pacífico cruzará nove departamentos (equivalentes a Estados) peruanos e estará na zona de influência de dois departamentos bolivianos (Pando e Beni) e mais quatro Estados brasileiros (Acre, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso). No total, mais de 12 milhões de habitantes vivem na região.

Primeiras apostas
São esses números que começam a estimular novos negócios, até então nem sequer imaginados. As iniciativas vão da simples ligação rodoviária para transporte de passageiros e carga entre o Acre e cidades no interior do Peru a uma ponte aérea Rio Branco-Lima.
Quem promete reavivar um antigo projeto é a Expresso Araçatuba, uma das maiores transportadoras do país. A empresa estuda retomada de linhas regulares de transporte de carga entre o Brasil e algumas áreas no território peruano.
A condição para isso, diz Oswaldo Castro Jr., diretor-geral da transportadora, é conseguir operar com produtos de alto valor agregado (acima de US$ 1.500) com frete de retorno.
Além de uma ligação regular, os dois países discutem a criação de um voo doméstico entre a capital do Acre e Lima. "Um voo entre Rio Branco e Lima não demora mais de uma hora e trinta minutos. Mas, se alguém quiser sair daqui e ir para a capital peruana, terá de voar mais de 3.000 quilômetros até São Paulo para somente aí embarcar para Lima. Diante da perspectiva de integração regional, isso não faz o menor sentido", diz Gilberto Siqueira, secretário de Planejamento do Acre.


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