São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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EM TRANSE

Investimento estrangeiro em fundos de ações cai para o menor nível desde 93; Brasil puxa deterioração na América Latina

Fundos latinos têm maior perda desde 92

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O dinheiro aplicado por investidores internacionais em fundos de ações das Bolsas da América Latina não era tão baixo desde 1993, segundo relatório de pesquisa divulgado pela corretora norte-americana Merrill Lynch.
No final da semana passada, o valor dos ativos (das ações desses fundos) era de US$ 861 milhões. No final de 1997, durante o auge dos investimentos dedicados em Bolsas da América Latina, havia US$ 4,36 bilhões em tais fundos.
A média de saques desses investimentos nas quatro semanas anteriores a 14 de agosto foi a maior desde 1992, quando a corretora começou a realizar esses levantamentos. Somente na última semana, US$ 23,8 milhões saíram desses fundos.
"É uma situação de quase pânico", disse à Folha Robert Berges, estrategista-sênior do Latin American Equity da Merrill Lynch.
Segundo o relatório, "pela primeira vez há uma sensação de pânico entre os investidores de varejo nos Estados Unidos com relação aos ativos na América Latina". As turbulências no Brasil teriam sido a principal causa do movimento verificado nas últimas semanas nesses fundos.
"O contínuo desempenho negativo (desses fundos) e a visibilidade crescente do Brasil na mídia explicam a aceleração (dos resgates) que vimos nas duas últimas semanas", diz o relatório.
O relatório da Merrill Lynch mostra que o resgate líquido desses fundos (calculados com base na porcentagem dos ativos sob administração) estão mais altos do que durante a crise do peso mexicano, no final de 1994, do que nas semanas posteriores aos ataques de 11 de setembro e depois do colapso da economia argentina, em dezembro passado.
O estudo não cita dados específicos de cada país. No entanto, um estudo publicado recentemente pela Thomson Invest Tracker mostrou que os resgates por investidores locais no Brasil alcançaram US$ 11,6 bilhões na primeira metade deste ano.
Fundo dedicados são "clubes" de investimento criados para investimentos exclusivos em uma região específica. Os da América Latina foram criados no começo dos anos 90, quando as reformas de mercado na região indicavam um retorno econômico positivo.
Existem outros fundos com perfil semelhante, só que para todos os países emergentes -chamados de GEM (Mercados Emergentes Globais). Não são restritos a uma região específica e, diferentemente dos fundos dedicados à América Latina, que sofreram desvalorização de 30% em dólar durante 2002, os GEM tiveram desempenho positivo no ano.
Berges disse à Folha que é difícil saber se os investidores voltarão em breve às Bolsas da região. "Não sei se esse processo é de curto ou longo prazo."


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