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Não há consenso, porém, sobre se a redução da taxa Selic sustentará a retomada do consumo
Para empresários, pessimismo diminui
FÁTIMA FERNANDES
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
A queda de 2,5 pontos percentuais na taxa básica de juros diminuiu o pessimismo de parte de
empresários e economistas sobre
o desempenho da economia em
2003. Mas ainda não há consenso
se isso resultará na retomada do
crescimento e do consumo.
Dentro do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), por exemplo, as opiniões se chocam. "Finalmente, o
Papai Noel passou a fazer parte do
governo Lula", afirma Julio Gomes de Almeida, diretor do instituto. Para ele, a queda de 2,5 pontos percentuais nos juros deve ter
impacto "especialmente nos consumidores que estavam reprimidos desde o apagão".
Já Ivoncy Ioschpe, presidente
do Iedi, considera "positiva" a decisão do Copom, mas acha que a
taxa ainda está "muito longe" do
necessário para reativar o país.
Para ele, o impacto do corte sobre o crescimento não será "nada
extraordinário". "Além de considerar a inflação interna, o BC tem
de levar em consideração a taxa
de juros paga pelos nossos competidores no exterior, que é próxima de 5%." Ioschpe quer que no
próximo mês o BC reduza os juros entre três e quatro pontos percentuais. "Caso contrário, não haverá retomada do crescimento."
A queda maior na Selic é defendida por representantes da indústria e do comércio. Mas a decisão
de ontem, dizem alguns, já pode
esquentar os motores do país.
Entre os empresários que acreditam numa retomada das compras, há a opinião de que o processo deve começar pelos setores
de bens de consumo duráveis
(carros e eletroeletrônico) e semiduráveis (vestuário e calçados),
que potencialmente serão vendidos com prestações menores, devido à queda nos juros.
"A partir de setembro, devemos
ver alguma recuperação nas vendas. Se os juros caírem para 18% a
20%, o mercado pode até voltar
ao normal", diz Paulo Saab, presidente da Eletros, associação da indústria eletroeletrônica.
Paulo Skaf, presidente da Abit
(Associação Brasileira da Indústria Têxtil), afirma que a queda
nos juros deve incrementar os negócios do setor. Mas diz que, se a
taxa cair mais 2,5 pontos percentuais, a retomada será para valer.
As encomendas do comércio
para o setor, informa Skaf, representam cerca de 30 dias de produção, em média. Nesta época do
ano, diz, o normal seria os pedidos equivalerem a 60 dias de produção das fábricas. "Essa situação
deve começar a mudar agora."
A indústria de brinquedos deve
reavaliar a expectativa de que haveria demissões em um dos períodos mais fortes de produção. "O
governo teve juízo e homologou
uma taxa de juros que o mercado
já sinalizava. Também desarmou
o gatilho da demissão em massa
que haveria no Brasil até dezembro", diz Synésio Batista da Costa,
presidente da Abrinq, associação
dos fabricantes de brinquedos.
A redução dos juros trouxe ao
mercado, afirma, a sensação de
que vai ser possível vender neste
final de ano. A Abrinq, diz, decidiu ontem mesmo lançar uma
campanha de R$ 2,5 milhões para
vender mais brinquedos.
Para Gustavo Loyola, ex-presidente do BC, com o corte feito pelo Copom nos juros "começa a se
formar uma expectativa melhor
entre as empresas e os consumidores". Essa mudança de humor,
diz, permitirá que já neste semestre comece uma gradual recuperação do consumo. "E a recuperação da economia virá pela recuperação do consumo", afirma.
Para Alexandre Schwartsman,
economista do Unibanco, a redução dos juros deve resultar numa
positiva reação de mercado, apesar de achar que a meta de inflação para 2004 não deva mudar.
Opinião distinta
Outros empresários e economistas, porém, acham que a redução dos juros ainda não terá impacto sobre o consumo.
Fábio Silveira, economista da
MB Associados, acredita que só a
partir de novembro a economia
sentirá os efeitos da queda nas taxas de juros. E, ainda assim, de
forma bem amena. "Até lá não
haverá mudança na massa salarial. Só com aumento de renda o
consumidor voltará a comprar."
A Associação Comercial de São
Paulo acredita que só as vendas a
prazo se recuperam a partir de
outubro, informa Emílio Alfieri,
economista da associação.
Abram Szajman, presidente da
Fecomercio-SP (Federação do
Comércio do Estado de São Paulo), concorda que haverá reação
nas vendas no final do ano porque
as categorias com data-base no
segundo semestre vão recuperar
parte da inflação, o que deve estimular o consumo.
Para o deputado Antonio Delfim Neto, apesar do corte de 2,5
pontos percentuais, a taxa de juro
real ainda é muito alta -de 14,6%
ao ano. Na sua opinião, o país deve perseguir um juro real entre
6% e 7% ao ano para sustentar o
crescimento econômico. "Mas o
importante é a mudança de atitude do BC, pois o desenvolvimento
é um estado de espírito", diz.
Ele diz que "se o processo de
queda das taxas prosseguir, se o
Congresso aprovar uma reforma
tributária minimamente inteligente e o presidente da República
estimular o crescimento, em 2004
a economia poderá crescer de
3,5% a 4%".
Colaboraram Sandra Balbi e
Claudia Trevisan, da Reportagem Local
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