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"Precisamos de um novo Bretton Woods"
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Parece uma idéia que o presidente francês, Nicolas Sarkozy,
conhecido por sua hiperatividade política e o gosto pelos
grandes eventos diplomáticos,
adoraria pôr em prática: uma
conferência mundial, por iniciativa da Europa, para discutir
regras para as desgovernadas
finanças globais. A sugestão é
de alguém próximo do poder
francês, o economista Christian de Boissieu.
Como presidente do Conselho de Análise Econômica, em
Paris, ele é responsável por
orientar os passos do primeiro-ministro, François Fillon. "Precisamos de um novo Bretton
Woods, desta fez para discutir o
sistema financeiro", disse Boisseu em entrevista à Folha, em
referência à conferência de
1944 que estabeleceu as regras
das relações comerciais e econômicas no pós-guerra.
FOLHA - O plano anunciado pelos
EUA vai conseguir estabilizar os
mercados?
CHRISTIAN DE BOISSIEU - O objetivo foi dar um choque de confiança. A iniciativa se parece
com a que foi implementada no
começo dos anos 90 nos EUA, o
Resolution Trust Corporation
[fundo criado pelo governo para assumir instituições de poupança e empréstimo falidas].
Uma solução semelhante foi
adotada no Japão nos anos 90 e
também na Rússia. É uma forma clássica de separar os bons
dos maus ativos e acho que pode funcionar não só como um
choque mas como uma solução
de longo prazo. Mas esse plano
vai aumentar o déficit americano, depois de envolver totalmente os contribuintes na gestão desta crise.
FOLHA - Estamos vivendo a pior crise financeira da história?
DE BOISSIEU - Esta crise é diferente do Crash de 1929 por
duas razões: primeiro graças à
resiliência dos grandes emergentes em seu crescimento,
China, Índia, Brasil e Rússia. A
outra é a reação das autoridades, que é totalmente diferente
do que ocorreu em 1929, quando o Fed [BC dos EUA] apertou
a política monetária americana, o que foi uma loucura. Temos de reconhecer o fato de
que as reações do Fed e do BCE
[Banco Central Europeu] contiveram os riscos sistêmicos.
Além disso, houve intervenção
direta do Tesouro americano e
do britânico. Apesar disso, minha sensação é de que as turbulências ainda vão continuar.
FOLHA - Uma ação global é possível?
DE BOISSIEU - O mundo precisa
de um Bretton Woods financeiro. A conferência de Bretton
Woods, em 1944, foi monetária,
não financeira. O grande objetivo foi restaurar o comércio e
criar um sistema de câmbio para facilitar o renascimento do
comércio após a guerra. Hoje
não é possível fazer nada sobre
o câmbio. Levará um bom tempo até voltarmos à estabilidade
cambial em termos mundiais.
Por isso é que precisamos de
um Bretton Woods, para dar
respostas consistentes a vários
tópicos, como o desempenho
das agências de rating, os padrões de contabilidade, as normas de conduta dos fundos soberanos, limites de liquidez para os bancos, e outros. Precisamos de respostas globais para
um desafio global. Acho que a
Europa poderia tomar a iniciativa de convocar uma reunião.
Essas não são decisões que possam ser tomadas apenas entre
EUA e Europa. Precisamos de
um novo formato com a abertura para os grandes emergentes: Índia, China, Brasil.
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