São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Brasil terá 1º crédito de carbono por plantar mata nativa

Projeto de reflorestamento da AES Tietê em SP, pioneiro do tipo no mundo, ganha aval da ONU para vender crédito ambiental

Empresa prevê retirar da atmosfera 3 milhões de toneladas de CO2, o que representaria R$ 130 mi em Bolsas internacionais

FABÍOLA SALANI
DA REDAÇÃO

O primeiro projeto de reflorestamento de matas nativas do mundo com direito a gerar créditos de carbono -a "moeda" que ajuda a frear o aquecimento global- foi aprovado sexta-feira pela comissão da ONU (Organização das Nações Unidas) responsável pelo tema. E ele fica no Brasil.
É um projeto de reflorestamento de matas à beira de rios e de reservatórios de água que geram energia da AES Tietê, no Estado de São Paulo.
A empresa já reflorestou 1.450 hectares, mas o projeto prevê o plantio de espécies nativas em uma área total de 10 mil hectares.
A aprovação pela ONU significa que os créditos ambientais gerados com esse projeto valem como parte das metas de redução de emissões de gases que aceleram o efeito estufa dentro do Protocolo de Kyoto, acordo assinado por 175 países para redução da geração de tais gases. Deles, 36 têm metas de corte a cumprir até 2012.
"Nossa expectativa é que o projeto retire 3 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera", afirmou Demóstenes Barbosa da Silva, diretor de gestão de meio ambiente e créditos de carbono da AES Tietê.
Por que retirar? Porque a árvore, para crescer, usa o CO2 presente na atmosfera. Ele é a sua "comida", que, ao ser absorvido pela planta, desenvolve e forma seu tronco.
Cada tonelada de gás carbônico retirada da atmosfera nesse projeto vira um certificado, que pode ser, com a decisão da comissão da ONU, vendida a países e empresas que tenham metas a cumprir.
Se a previsão do gerente da AES se confirmar, esse projeto vai, então, gerar 3 milhões de créditos de carbono. Hoje, esse montante seria equivalente a cerca de R$ 130 milhões em Bolsas internacionais.
Para levar o projeto adiante e replantar as espécies necessárias ao reflorestamento da área total prevista, Barbosa calcula que seja preciso desembolsar o equivalente a R$ 80 milhões hoje. Ele destaca que são plantadas na área do projeto de 80 a 126 espécies nativas distintas -das quais é necessário coletar a semente e desenvolver a muda antes de colocá-la no solo, para que ela se desenvolva.

Pioneirismo
A decisão do comitê de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da ONU não é benéfica apenas para a AES Tietê, que passa a poder ganhar dinheiro com os créditos de carbono que gera. Ela abre uma nova possibilidade para projetos equivalentes no país.
"É sem dúvida uma grande notícia para o Brasil. Agora precisamos buscar novas matas nativas para recuperar", disse Marco Antonio Fujihara, especialista em créditos de carbono da Key Associados e da Totum.


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