São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Presidente do Santander se reúne com executivos do Real

"Esqueçam os meses de incerteza", diz Botín, em referência à negociação entre os bancos

Santander desembolsou US$ 17 bilhões pelo Real; executivo espanhol não cita demissões e diz que "pagou caro" pelo Banespa

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Santander fez ontem, em São Paulo, a primeira reunião com executivos do banco ABN Real, cuja compra foi selada na semana passada. Com um "buenos dias", o presidente do Real, Fabio Barbosa, abriu uma apresentação dirigida a executivos de alto escalão do banco, convocados em pleno sábado, às 8h30, para uma conversa nada informal com o novo dono.
A apresentação foi feita pelo presidente mundial do banco, Emilio Botín, que chegou ao Brasil na quinta-feira à noite para conhecer de perto sua mais nova aquisição no país, pela qual pagou US$ 17 bilhões. O ABN mundial foi comprado por US$ 100 bilhões por um consórcio de bancos, que tinha ainda o escocês RBS e o belga-holandês Fortis. O Santander ficou com as partes brasileira e italiana do grupo.
Com sua habitual gravata vermelha Hermés, Botín abriu a apresentação pedindo aos executivos que "esqueçam os meses de incerteza" vividos durante a negociação, que levou quase sete meses e à qual os dirigentes do ABN eram publicamente contrários.
"Bem-vindos ao Santander, um dos maiores bancos do mundo. Precisamos de todos vocês para nos tornar o maior e o melhor grupo financeiro do Brasil. Para atender bem o cliente, sabemos que os funcionários têm de estar muito, mas muito, satisfeitos", disse.
Botín elencou as vantagens dos funcionários do Real de participarem do que chama de uma instituição líder no mundo. Disse que o crescimento do Santander está apoiado na valorização dos profissionais, que são reconhecidos por meio de bônus, participação nos lucros e mesmo por ações do banco, que são distribuídas não apenas aos dirigentes e gerentes mas a todos os bancários.
Botín foi ouvido atentamente pelos executivos, todos de ternos e gravata, num clima inicialmente pouco descontraído. Para quebrar o gelo, Barbosa disse aos colegas que foi ele quem insistiu em que todos viessem de gravata. "Pedi que vocês viessem de gravata porque não sabia o que falar. [Pelo menos] Serviu para diferenciar dos turistas que vieram ver a Fórmula 1." Hoje, o executivo assiste ao GP, em Interlagos.
Em nenhum momento, Botín mencionou a palavra "demissão", assunto cujo impacto o banco tem procurado minimizar por conta do que chama de complementaridade geográfica e de segmentos de atuação de ambas instituições. Sindicatos afirmam que pelo menos 1.500 vagas devem ser cortadas. O Santander emprega 22.646 funcionários, e o Real, outras 32.302 no Brasil.
Botín afirmou que tanto Santander quanto o Banco Real seguirão com administrações independentes, mas não disse até quando. Aos acionistas, o banco afirmou que pretende integrar as operações em até três anos e que seguirá a estratégia de marca única na América Latina.
Disse ainda que fará reuniões mensais com a participação do atual presidente do Real para discutir a integração. Na sexta, Botín teve o primeiro encontro com o presidente do Real e os principais diretores do banco.
Botín disse que o Santander apostou no Brasil muito antes do bom momento vivido hoje pelo país. Disse que manteve sangue-frio mesmo quando o risco-país passou de 2.000 pontos, em 2002.
"Pagamos caro pelo Banespa. Esses negócios caros depois se mostram baratos porque foi o preço de não perder uma oportunidade [estratégica]", disse.

Socioambiental
Botín afirmou que o Santander dá importância para a sustentabilidade ambiental e para a educação, bandeiras mundiais do ABN Amro -e do Real, em particular. O futuro dos produtos socioambientais ficou em xeque após a compra pelo Santander, visto como de pouco interesse no setor. O presidente do Santander elencou iniciativas de sustentabilidade, como reciclagem de papel e reaproveitamento de água na Espanha. Apresentou o Universia, espécie de Fundação do Santander voltada à educação.
A fala de Botín durou pouco mais de 30 minutos. Normalmente, após essas apresentações, há um tempo para os participantes tirarem eventuais dúvidas, mas não houve espaço para perguntas.
"Conto com cada um de vocês. Quero que continuem fazendo o que sempre fizeram, um banco de sucesso. Não liguem para a concorrência, que vai mostrar sua pressão", disse.
Botín deixou o local da mesma forma como apareceu, cercado por um grupo enorme de assessores e de seguranças.


Texto Anterior: Brasil terá 1º crédito de carbono por plantar mata nativa
Próximo Texto: Brasil pode crescer 5% sem inflação, diz FMI
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.