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Presidente do Santander se reúne com executivos do Real
"Esqueçam os meses de incerteza", diz Botín, em referência à negociação entre os bancos
Santander desembolsou US$ 17 bilhões pelo Real; executivo espanhol não
cita demissões e diz que "pagou caro" pelo Banespa
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Santander fez ontem, em
São Paulo, a primeira reunião
com executivos do banco ABN
Real, cuja compra foi selada na
semana passada. Com um
"buenos dias", o presidente do
Real, Fabio Barbosa, abriu uma
apresentação dirigida a executivos de alto escalão do banco,
convocados em pleno sábado,
às 8h30, para uma conversa nada informal com o novo dono.
A apresentação foi feita pelo
presidente mundial do banco,
Emilio Botín, que chegou ao
Brasil na quinta-feira à noite
para conhecer de perto sua
mais nova aquisição no país,
pela qual pagou US$ 17 bilhões.
O ABN mundial foi comprado
por US$ 100 bilhões por um
consórcio de bancos, que tinha
ainda o escocês RBS e o belga-holandês Fortis. O Santander
ficou com as partes brasileira e
italiana do grupo.
Com sua habitual gravata
vermelha Hermés, Botín abriu
a apresentação pedindo aos
executivos que "esqueçam os
meses de incerteza" vividos durante a negociação, que levou
quase sete meses e à qual os dirigentes do ABN eram publicamente contrários.
"Bem-vindos ao Santander,
um dos maiores bancos do
mundo. Precisamos de todos
vocês para nos tornar o maior e
o melhor grupo financeiro do
Brasil. Para atender bem o
cliente, sabemos que os funcionários têm de estar muito, mas
muito, satisfeitos", disse.
Botín elencou as vantagens
dos funcionários do Real de
participarem do que chama de
uma instituição líder no mundo. Disse que o crescimento do
Santander está apoiado na valorização dos profissionais, que
são reconhecidos por meio de
bônus, participação nos lucros
e mesmo por ações do banco,
que são distribuídas não apenas aos dirigentes e gerentes
mas a todos os bancários.
Botín foi ouvido atentamente pelos executivos, todos de
ternos e gravata, num clima inicialmente pouco descontraído.
Para quebrar o gelo, Barbosa
disse aos colegas que foi ele
quem insistiu em que todos
viessem de gravata. "Pedi que
vocês viessem de gravata porque não sabia o que falar. [Pelo
menos] Serviu para diferenciar
dos turistas que vieram ver a
Fórmula 1." Hoje, o executivo
assiste ao GP, em Interlagos.
Em nenhum momento, Botín mencionou a palavra "demissão", assunto cujo impacto
o banco tem procurado minimizar por conta do que chama
de complementaridade geográfica e de segmentos de atuação
de ambas instituições. Sindicatos afirmam que pelo menos
1.500 vagas devem ser cortadas.
O Santander emprega 22.646
funcionários, e o Real, outras
32.302 no Brasil.
Botín afirmou que tanto Santander quanto o Banco Real seguirão com administrações independentes, mas não disse até
quando. Aos acionistas, o banco
afirmou que pretende integrar
as operações em até três anos e
que seguirá a estratégia de marca única na América Latina.
Disse ainda que fará reuniões
mensais com a participação do
atual presidente do Real para
discutir a integração. Na sexta,
Botín teve o primeiro encontro
com o presidente do Real e os
principais diretores do banco.
Botín disse que o Santander
apostou no Brasil muito antes
do bom momento vivido hoje
pelo país. Disse que manteve
sangue-frio mesmo quando o
risco-país passou de 2.000 pontos, em 2002.
"Pagamos caro pelo Banespa.
Esses negócios caros depois se
mostram baratos porque foi o
preço de não perder uma oportunidade [estratégica]", disse.
Socioambiental
Botín afirmou que o Santander dá importância para a sustentabilidade ambiental e para
a educação, bandeiras mundiais do ABN Amro -e do Real,
em particular. O futuro dos
produtos socioambientais ficou em xeque após a compra
pelo Santander, visto como de
pouco interesse no setor. O
presidente do Santander elencou iniciativas de sustentabilidade, como reciclagem de papel
e reaproveitamento de água na
Espanha. Apresentou o Universia, espécie de Fundação do
Santander voltada à educação.
A fala de Botín durou pouco
mais de 30 minutos. Normalmente, após essas apresentações, há um tempo para os participantes tirarem eventuais
dúvidas, mas não houve espaço
para perguntas.
"Conto com cada um de vocês. Quero que continuem fazendo o que sempre fizeram,
um banco de sucesso. Não liguem para a concorrência, que
vai mostrar sua pressão", disse.
Botín deixou o local da mesma forma como apareceu, cercado por um grupo enorme de
assessores e de seguranças.
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