São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Brasil pode crescer 5% sem inflação, diz FMI

Diretor afirma, porém, que turbulência nos mercados pode redundar em "alguma redução" no ritmo de expansão da AL

Para Fundo, melhor notícia da atual fase de expansão do país e da América Latina é que ela é acompanhada de queda da pobreza

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetário Internacional) disse ontem que o Brasil pode crescer mais de 5% ao ano sem inflação.
Segundo o diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo, o indiano Anoop Singh, Brasil e região podem estar entrando em um círculo virtuoso: o crescimento e a redução da pobreza e das desigualdades estariam desembocando em mais crescimento. E assim por diante.
Questionado a respeito da contestação feita pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) um dia antes sobre as previsões do FMI para o o crescimento do Brasil (Mantega prevê 4,8% em 2007 e 5% em 2008, contra 4,4% e 4% do FMI, respectivamente), Singh não polemizou.
"Neste segundo semestre, o Brasil está crescendo 5% em uma base anualizada. O país mostra que pode atingir esse patamar de forma sustentada e com uma tendência de diminuição dos índices de pobreza."
O indiano disse, porém, que as recentes turbulências nos mercados devem redundar em "alguma redução" do ritmo de expansão da América Latina e do resto do mundo.
Na sexta, como reflexo de nova sacudida no mercado americano, a Bovespa caiu 3,7% e o risco-Brasil subiu 6%. No mesmo dia, Mantega havia afirmado em Washington que o Brasil vem mostrando que está mais imune aos reflexos da crise.
Para o FMI, a melhor notícia da atual fase de expansão de Brasil e América Latina é que ela é acompanhada de queda da pobreza. Programas como o Bolsa Família, no Brasil, e Jefes e Jefas de Hogar (que paga 150 pesos/mês), na Argentina, estariam por trás da melhora.
O FMI destacou como exemplo o Nordeste do Brasil (mais atendido em termos proporcionais pelo Bolsa Família), onde o ritmo do comércio cresce acima do da média nacional.
"Acredito que estejamos ingressando em um círculo virtuoso em que o crescimento e programas sociais estejam levando a uma diminuição da pobreza que acaba redundando em mais crescimento", disse.
O economista alertou, contudo, para a necessidade de o Brasil ampliar seus níveis de investimento em infra-estrutura para atingir níveis de crescimento maiores e sustentáveis.
Sem fazer a tradicional cobrança por reformas estruturais, Singh disse que os países da região devem ser "soberanos" para tratar desses assuntos e que muitas vezes há "ansiedade" em relação ao tema.
A entrevista foi um divisor de águas em relação a outros momentos em que as fragilidades dos emergentes eram explicitadas (e cobradas) de forma mais veemente pelo Fundo. Singh destacou, por exemplo, que metade do crescimento econômico mundial neste ano (na faixa de 5%) será proporcionada pelos emergentes.
Mesmo a onda de nacionalização de empresas na Venezuela e Bolívia mereceu só uma crítica indireta. "Não somos ideológicos. Onde somos claros é que a região precisa de investimentos. Especialmente em infra-estrutura e energia. E isso não vem ocorrendo."


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