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Presidência do Santander na Espanha tomou a decisão de ir ao leilão; banco deu falsas pistas à concorrência
Matriz decidiu compra no fim-de-semana
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente mundial do Santander, Emílio Botín, tomou a decisão de entrar no leilão no final
de semana. Reunido com um grupo de executivos na Espanha, Botín ligou para o presidente do
banco no Brasil, Gabriel Jaramillo, e lhe deu o sinal verde para
participar da privatização, além
de dizer o preço que deveria ser
levado ao leilão.
A decisão foi tomada na última
hora, no estilo tradicional do Santander, centralizado nas mãos de
Botín. Apesar de dividir a presidência do banco em escala mundial com outro executivo, herdado do banco Central Hispano,
que se fundiu recentemente com
o Santander, Botín é quem dá a última palavra.
As idas e vindas do Santander
confundiram ou despistaram os
concorrentes ao Banespa, dependendo de quem conte a história.
Na semana passada, executivos
de bancos brasileiros telefonaram
para diretores do Santander para
sondar o interesse pelo Banespa.
A resposta dos diretores do Santander era que o banco estava fora
ou quase não tinha apetite pelo
Banespa. Segundo eles, havia um
veto do Banco de España (o BC
espanhol) ao negócio.
Além disso, argumentavam os
executivos, as agências de classificação de risco rebaixariam a nota
do Santander caso o banco comprasse um banco estatal sujeito a
disputas políticas e a um tiroteio
sobre os números de sua contabilidade.
Pelo menos um presidente de
um dos concorrentes ao Banespa
conversou com diretores do Santander sobre o leilão na semana
passada. Ele ouviu dos executivos
que o espanhol era carta fora do
baralho, estava fora do leilão.
Além das conversas entre executivos, o Santander emitiu outros sinais de que estava deixando
a briga pelo Banespa para os brasileiros. No início da semana passada, o banco desmontou toda a
estrutura armada para se preparar para o leilão.
Ao longo da semana passada, o
mercado financeiro e os concorrentes ao Banespa apostaram na
versão que se, o Santander fosse
ao leilão, seria no papel de mero
figurante, enquanto os brasileiros
Bradesco, Itaú ou Unibanco levariam a disputa até as últimas consequências.
Executivos espanhóis desembarcaram em Brasília para uma
conversa com o presidente do BC,
Armínio Fraga, na semana passada. Ninguém levou a história
muito a sério. A versão que circulou é que o BC fazia um apelo para
que os espanhóis não desistissem
da disputa. Na verdade, os espanhóis vieram conversar sobre a
contabilidade do Banespa.
A aparência de desinteresse
confundiu quem imaginava que o
Santander manteria a lógica
agressiva que adotou nas suas investidas recentes na América Latina. Mas a verdade é que, desde
que chegou ao Brasil, o Santander
persegue o objetivo de ter pelo
menos 5% do mercado financeiro
nacional.
Esse é o recado que tem sido repetido insistentemente pelo presidente no Brasil, Gabriel Jaramillo.
Os espanhóis querem estar entre
os três maiores bancos em todos
os países latino-americanos em
que estão presentes.
No Brasil, eles já haviam feito
quatro grandes aquisições. Em
novembro de 1997, o Santander
comprou 51% do Banco Geral do
Comércio por US$ 220 milhões.
Ainda em 1997, os espanhóis
completaram a compra pagando
mais R$ 257 milhões para chegar
a 100% do capital do banco.
A escalada continuou em março
de 1998, quando o banco desembolsou US$ 480 milhões pelo Noroeste. Num negócio ainda sujeito
a ajustes de preço, o Santander
pagou mais US$ 250 milhões pelos bancos Meridional e Bozano,
Simonsen.
Com a compra do Banespa, o
Santander passa a ter 8,5% do
mercado financeiro brasileiro, excluindo o Banco do Brasil, a Caixa
Econômica Federal e o BNDES.
Além disso, o banco se credencia
a disputar mercado em escala nacional com os grandes concorrentes nacionais.
A grande dúvida no mercado financeiro é se o Santander pagou
caro demais (R$ 7,05 bilhões) pelo seu projeto de expansão no
Brasil. "Eles erraram na mão, foi
um exagero", diz Erivelto Rodrigues, diretor da consultoria financeira Austin Asis.
Segundo as contas de Erivelto
Rodrigues, o preço pago pelo Santander por um terço do Banespa
indica um valor total de R$ 23 bilhões pelo banco. É mais do que
os investidores pagam na Bolsa de
Valores pelo Itaú, o banco brasileiro melhor avaliado, com ações
no total de R$ 19 bilhões.
"O Santander vai precisar de pelo menos dez anos para começar a
ter retorno sobre o investimento",
diz o diretor da Austin Asis.
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