São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2000

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Presidência do Santander na Espanha tomou a decisão de ir ao leilão; banco deu falsas pistas à concorrência
Matriz decidiu compra no fim-de-semana

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente mundial do Santander, Emílio Botín, tomou a decisão de entrar no leilão no final de semana. Reunido com um grupo de executivos na Espanha, Botín ligou para o presidente do banco no Brasil, Gabriel Jaramillo, e lhe deu o sinal verde para participar da privatização, além de dizer o preço que deveria ser levado ao leilão.
A decisão foi tomada na última hora, no estilo tradicional do Santander, centralizado nas mãos de Botín. Apesar de dividir a presidência do banco em escala mundial com outro executivo, herdado do banco Central Hispano, que se fundiu recentemente com o Santander, Botín é quem dá a última palavra.
As idas e vindas do Santander confundiram ou despistaram os concorrentes ao Banespa, dependendo de quem conte a história. Na semana passada, executivos de bancos brasileiros telefonaram para diretores do Santander para sondar o interesse pelo Banespa.
A resposta dos diretores do Santander era que o banco estava fora ou quase não tinha apetite pelo Banespa. Segundo eles, havia um veto do Banco de España (o BC espanhol) ao negócio.
Além disso, argumentavam os executivos, as agências de classificação de risco rebaixariam a nota do Santander caso o banco comprasse um banco estatal sujeito a disputas políticas e a um tiroteio sobre os números de sua contabilidade.
Pelo menos um presidente de um dos concorrentes ao Banespa conversou com diretores do Santander sobre o leilão na semana passada. Ele ouviu dos executivos que o espanhol era carta fora do baralho, estava fora do leilão.
Além das conversas entre executivos, o Santander emitiu outros sinais de que estava deixando a briga pelo Banespa para os brasileiros. No início da semana passada, o banco desmontou toda a estrutura armada para se preparar para o leilão.
Ao longo da semana passada, o mercado financeiro e os concorrentes ao Banespa apostaram na versão que se, o Santander fosse ao leilão, seria no papel de mero figurante, enquanto os brasileiros Bradesco, Itaú ou Unibanco levariam a disputa até as últimas consequências.
Executivos espanhóis desembarcaram em Brasília para uma conversa com o presidente do BC, Armínio Fraga, na semana passada. Ninguém levou a história muito a sério. A versão que circulou é que o BC fazia um apelo para que os espanhóis não desistissem da disputa. Na verdade, os espanhóis vieram conversar sobre a contabilidade do Banespa.
A aparência de desinteresse confundiu quem imaginava que o Santander manteria a lógica agressiva que adotou nas suas investidas recentes na América Latina. Mas a verdade é que, desde que chegou ao Brasil, o Santander persegue o objetivo de ter pelo menos 5% do mercado financeiro nacional.
Esse é o recado que tem sido repetido insistentemente pelo presidente no Brasil, Gabriel Jaramillo. Os espanhóis querem estar entre os três maiores bancos em todos os países latino-americanos em que estão presentes.
No Brasil, eles já haviam feito quatro grandes aquisições. Em novembro de 1997, o Santander comprou 51% do Banco Geral do Comércio por US$ 220 milhões. Ainda em 1997, os espanhóis completaram a compra pagando mais R$ 257 milhões para chegar a 100% do capital do banco.
A escalada continuou em março de 1998, quando o banco desembolsou US$ 480 milhões pelo Noroeste. Num negócio ainda sujeito a ajustes de preço, o Santander pagou mais US$ 250 milhões pelos bancos Meridional e Bozano, Simonsen.
Com a compra do Banespa, o Santander passa a ter 8,5% do mercado financeiro brasileiro, excluindo o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o BNDES. Além disso, o banco se credencia a disputar mercado em escala nacional com os grandes concorrentes nacionais.
A grande dúvida no mercado financeiro é se o Santander pagou caro demais (R$ 7,05 bilhões) pelo seu projeto de expansão no Brasil. "Eles erraram na mão, foi um exagero", diz Erivelto Rodrigues, diretor da consultoria financeira Austin Asis.
Segundo as contas de Erivelto Rodrigues, o preço pago pelo Santander por um terço do Banespa indica um valor total de R$ 23 bilhões pelo banco. É mais do que os investidores pagam na Bolsa de Valores pelo Itaú, o banco brasileiro melhor avaliado, com ações no total de R$ 19 bilhões.
"O Santander vai precisar de pelo menos dez anos para começar a ter retorno sobre o investimento", diz o diretor da Austin Asis.


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