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LUÍS NASSIF
O preço do Banespa
As discussões em torno da
privatização do Banespa
demonstram a dificuldade que
há, ainda, para tratar de temas
técnicos.
Na avaliação de uma empresa, há dois elementos de análise.
Um é a rentabilidade do negócio em si. Avalia-se quanto a nova empresa poderá render, sob
nova administração, monta-se
um fluxo estimado de lucros em
determinado prazo e se traz a
valor presente de acordo com a
taxa de desconto que o comprador está disposto a pagar -taxa
de desconto equivale à rentabilidade esperada do investimento.
O segundo elemento é o estratégico. O comprador admite pagar mais (e ter uma rentabilidade menor) por razões estratégicas. O Bradesco toparia pagar
mais do que acha que o Banespa
vale, se houvesse risco de o Itaú
adquirir o Banespa e se transformar no maior banco brasileiro. Ou -o que acabou ocorrendo- o Santander topa pagar
muito mais do que seus concorrentes, porque pretende ampliar
substancialmente sua posição
no mercado brasileiro.
Quando entram fatores dessa
natureza na disputa, o preço
mínimo deixa de ter importância, mas a boa avaliação continua sendo relevante.
Há dois trabalhos dos avaliadores. O primeiro é levantar o
maior número possível de informações objetivas sobre o banco
-sua rentabilidade atual, sua
carteira de ativos, seu passivo
trabalhista e atuarial etc. O segundo é, em cima desses dados,
aplicar uma determinada metodologia de avaliação, utilizando
taxas de desconto para calcular
o valor presente dos resultados
futuros.
O trabalho fundamental é o
primeiro. Mais que uma avaliação, é um levantamento e organização de todas as informações
relevantes para estimar o valor
do banco. Dispondo desses dados, cada comprador vai trabalhar o seu cenário específico, colocando as variáveis que pretender -taxas de desconto menores (que levam a um preço
maior), se estiver disposto a correr mais risco, taxas maiores, se
pretender correr menos riscos.
O que o TCU (Tribunal de
Contas da União) fez foi identificar dados relevantes incorretos
no trabalho dos avaliadores. Foi
um trabalho técnico complexo e
dos mais respeitáveis. Já o trabalho no qual o Ministério Público Federal de Brasília se baseou consistiu simplesmente em
pegar os dados levantados e alterar a taxa de desconto utilizada.
Tendo os dados disponíveis,
cada candidato vai utilizar a
sua taxa de desconto, independentemente daquela escolhida
para a avaliação. Teria sentido
considerar outras taxas de desconto se não houvesse disputa
pelo banco.
Em relação ao preço final, não
resta dúvida de que os fatores
estratégicos conferiram ao Banespa um valor muito maior do
que o do mero retorno do capital. Tanto assim que os bancos
americanos saíram da competição antes da hora e as ações do
Santander caíram 5% assim
que foi revelado o resultado da
compra.
Antes do Banespa, coube ao
Santander igualmente o lance
mais extravagante já feito por
um portal latino-americano
-a compra do Patagon por
mais de US$ 700 milhões. Aliás,
é provável que a privatização do
Banespa seja responsável por
um paradoxo curioso: internamente, os mesmos procuradores
de sempre sustentando que,
qualquer que seja o preço pago,
estará abaixo do valor do banco; e, na Espanha, os acionistas
do Santander questionando o
preço pago, por ter sido muito
maior que o preço justo.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail - lnassif@uol.com.br
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