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PACOTE DA DISCÓRDIA
Ministro permanece no cargo após promessa de implementação de medidas que geraram crise com Maciel
FHC convence Tápias a ficar no governo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
E DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, recuou da
ameaça de pedir demissão e decidiu ontem ficar no cargo, mesmo
sem conseguir derrubar o secretário da Receita Federal, Everardo
Maciel, com quem se desentendeu na sexta-feira passada.
Segundo a Folha apurou, Tápias foi ao encontro do presidente
FHC ontem à tarde disposto a pedir demissão, mas foi convencido
a ficar, mediante a promessa de
que as medidas que deram origem à crise com Everardo serão
implementadas "em caráter de
emergência".
Essas medidas fazem parte de
um pacote de estímulo à exportação, lançado na sexta-feira passada por Tápias no Rio. Naquele
dia, Everardo contrariou o ministro do Desenvolvimento ao dizer
que teria "dificuldades técnicas"
para implementar a proposta de
revisão do sistema de ressarcimento dos tributos PIS e Cofins
cobrados durante o processo de
fabricação de produtos de exportação. Maciel chegou a declarar:
"Estou com um pepino na mão".
Depois da reunião entre Tápias
e FHC, que se realizou no Palácio
da Alvorada e que contou ainda
com os ministros Pedro Malan
(Fazenda) e Pedro Parente (Casa
Civil), foi divulgada uma nota sobre o pacote de medidas que deu
origem ao imbróglio.
O comunicado, feito para tentar
agradar a Tápias, diz que as maioria das medidas será implementada "no decorrer deste ano". Promete ainda dar mais poder à Camex (Câmara de Comércio Exterior). Diz que Everardo "encontra-se inteiramente alinhado com
a orientação do governo". E, por
último, nega que Tápias tenha cogitado sair do governo.
Apesar de o final do conflito sugerir vitória de Tápias, a posição
do ministro do Desenvolvimento
nos bastidores é mais frágil do
que a de Everardo.
Fernando Henrique, por exemplo, nunca pensou em demitir o
secretário da Receita por causa de
Tápias. O presidente, de acordo
com assessores, julga o secretário
"naturalmente atrevido", mas um
técnico competente.
Everardo contou ainda com o
reforço de Malan, que reservadamente descrê da eficácia das medidas do pacote de Tápias, e do vice-presidente, Marco Maciel, de
quem é afilhado político.
O presidente fez questão de
manter Tápias apenas para não
trocar pela quarta vez um ministro do Desenvolvimento em menos de dois anos. Isso sepultaria
politicamente a pasta que decidiu
criar para seu segundo mandato a
fim de agradar a empresários descontentes com a política da equipe econômica. O Desenvolvimento, porém, nunca foi o prometido
contrapeso à Fazenda.
FHC também não gostou do estilo "ou ele ou eu" de Tápias. No
Panamá, disse "esse negócio de
"ou ele ou eu" não se põe ao presidente da República".
Exagero
Para auxiliares de FHC, a reação
de Tápias foi exagerada. Segundo
eles, o ministro se sente cobrado
pelos empresários e resolveu
mostrar que não podia ser desautorizado justamente quando conseguiu convencer o governo a
adotar medidas pontuais em benefício dos exportadores.
Na prática, o confronto com
Everardo serviu para que Tápias
obtivesse uma sinalização maior
de que as medidas sairão do papel. As declarações de Everardo,
no dia em que lançava o pacote,
colocavam isso em xeque.
Amigos de Tápias avaliam que
ele não está satisfeito com o ministério e acreditam que a paz
acertada ontem é temporária. O
ministro já teria visto que será difícil se impor à Fazenda e estaria
apenas esperando a reforma ministerial prevista para março do
ano que vem para ir embora.
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