São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2000

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PACOTE DA DISCÓRDIA
Ministro permanece no cargo após promessa de implementação de medidas que geraram crise com Maciel
FHC convence Tápias a ficar no governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
E DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, recuou da ameaça de pedir demissão e decidiu ontem ficar no cargo, mesmo sem conseguir derrubar o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, com quem se desentendeu na sexta-feira passada.
Segundo a Folha apurou, Tápias foi ao encontro do presidente FHC ontem à tarde disposto a pedir demissão, mas foi convencido a ficar, mediante a promessa de que as medidas que deram origem à crise com Everardo serão implementadas "em caráter de emergência".
Essas medidas fazem parte de um pacote de estímulo à exportação, lançado na sexta-feira passada por Tápias no Rio. Naquele dia, Everardo contrariou o ministro do Desenvolvimento ao dizer que teria "dificuldades técnicas" para implementar a proposta de revisão do sistema de ressarcimento dos tributos PIS e Cofins cobrados durante o processo de fabricação de produtos de exportação. Maciel chegou a declarar: "Estou com um pepino na mão".
Depois da reunião entre Tápias e FHC, que se realizou no Palácio da Alvorada e que contou ainda com os ministros Pedro Malan (Fazenda) e Pedro Parente (Casa Civil), foi divulgada uma nota sobre o pacote de medidas que deu origem ao imbróglio.
O comunicado, feito para tentar agradar a Tápias, diz que as maioria das medidas será implementada "no decorrer deste ano". Promete ainda dar mais poder à Camex (Câmara de Comércio Exterior). Diz que Everardo "encontra-se inteiramente alinhado com a orientação do governo". E, por último, nega que Tápias tenha cogitado sair do governo.
Apesar de o final do conflito sugerir vitória de Tápias, a posição do ministro do Desenvolvimento nos bastidores é mais frágil do que a de Everardo.
Fernando Henrique, por exemplo, nunca pensou em demitir o secretário da Receita por causa de Tápias. O presidente, de acordo com assessores, julga o secretário "naturalmente atrevido", mas um técnico competente.
Everardo contou ainda com o reforço de Malan, que reservadamente descrê da eficácia das medidas do pacote de Tápias, e do vice-presidente, Marco Maciel, de quem é afilhado político.
O presidente fez questão de manter Tápias apenas para não trocar pela quarta vez um ministro do Desenvolvimento em menos de dois anos. Isso sepultaria politicamente a pasta que decidiu criar para seu segundo mandato a fim de agradar a empresários descontentes com a política da equipe econômica. O Desenvolvimento, porém, nunca foi o prometido contrapeso à Fazenda.
FHC também não gostou do estilo "ou ele ou eu" de Tápias. No Panamá, disse "esse negócio de "ou ele ou eu" não se põe ao presidente da República".

Exagero
Para auxiliares de FHC, a reação de Tápias foi exagerada. Segundo eles, o ministro se sente cobrado pelos empresários e resolveu mostrar que não podia ser desautorizado justamente quando conseguiu convencer o governo a adotar medidas pontuais em benefício dos exportadores.
Na prática, o confronto com Everardo serviu para que Tápias obtivesse uma sinalização maior de que as medidas sairão do papel. As declarações de Everardo, no dia em que lançava o pacote, colocavam isso em xeque.
Amigos de Tápias avaliam que ele não está satisfeito com o ministério e acreditam que a paz acertada ontem é temporária. O ministro já teria visto que será difícil se impor à Fazenda e estaria apenas esperando a reforma ministerial prevista para março do ano que vem para ir embora.



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