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CONJUNTURA
Valor de outubro é quase o dobro do que havia sido registrado em setembro e o maior desde dezembro de 98
Contas externas têm déficit de US$ 3,5 bi
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O rombo sofrido pelas contas
externas brasileiras no mês passado foi o maior desde dezembro de
1998, quando o país ainda vivia os
efeitos da crise russa.
Em outubro, o déficit em transações correntes -principal indicador das contas externas do
país- ficou em US$ 3,48 bilhões,
mais do que o dobro do resultado
de US$ 1,59 bilhão de setembro.
Em dezembro de 98, o nervosismo com a moratória decretada
pela Rússia em agosto fez muitas
empresas estrangeiras com sede
no Brasil intensificarem o envio
de lucros para as matrizes.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, a piora no resultado de outubro é consequência de grande volume de juros referentes à dívida externa que o
Brasil precisou pagar no mês.
Lopes apontou ainda o fraco desempenho da balança comercial
para explicar o aumento do déficit. Segundo ele, o aumento das
importações em outubro reflete a
antecipação das compras das empresas para fim-de-ano.
Nos últimos 12 meses, o déficit
em transações correntes ficou em
US$ 24,68 bilhões, ou 4,19% do
Produto Interno Bruto brasileiro.
Um dos piores índices da América Latina. Na maioria dos países
da região o déficit equivale a cerca
de 3% do PIB local.
As transações correntes revelam a dependência do país em relação aos capitais externos. A conta inclui comércio exterior, serviços (juros da dívida externa, remessa de lucros) e transferências
unilaterais (dinheiro remetido ao
país por brasileiros que moram
no exterior).
Quando o país gasta mais do
que arrecada nessas operações, é
preciso que empréstimos ou investimentos estrangeiros cubram
a diferença. Em horas de crise, as
fontes de capital externo "secam"
e países com alto déficit em conta
corrente enfrentam dificuldades.
Para Lopes, importante é que,
mesmo que o déficit esteja elevado, a tendência é de queda. Em
1999, o déficit chegou a representar 5% do PIB brasileiro.
O governo chegou a prever que
o déficit de 2000 fosse ficar em
3,5% do PIB. Essa estimativa foi
revista depois que o IBGE divulgou que o PIB deste ano ficaria
menor do que o esperado porque
a inflação do período ficou abaixo
do previsto.
Viagens
Os gastos feitos por brasileiros
durante viagens ao exterior em
outubro aumentaram 64% em relação ao mesmo mês de 1999, chegando a US$ 208 milhões.
Lopes disse que isso é um sinal
de que os gastos com viagens internacionais estão "voltando à
normalidade".
No ano passado, essas despesas
caíram devido à desvalorização
do real, em janeiro. Como as viagens internacionais ficaram muito caras, os gastos no exterior reduziram.
As remessas de lucros para o exterior também registraram forte
alta no mês passado se comparadas ao ano passado. Em outubro
deste ano, as empresas estrangeiras enviaram US$ 126 milhões para o exterior.
No ano passado, em vez de enviarem parte de seu lucro para as
matrizes, muitas empresas preferiram reinvestir o dinheiro nas
próprias subsidiárias brasileiras.
Essas companhias receberam
US$ 335 milhões em outubro de
1999.
Lopes afirmou que o resultado
do ano passado foi "atípico" e que
os números do mês passado estão
dentro do esperado.
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