São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2000

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CONJUNTURA
Valor de outubro é quase o dobro do que havia sido registrado em setembro e o maior desde dezembro de 98
Contas externas têm déficit de US$ 3,5 bi

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O rombo sofrido pelas contas externas brasileiras no mês passado foi o maior desde dezembro de 1998, quando o país ainda vivia os efeitos da crise russa.
Em outubro, o déficit em transações correntes -principal indicador das contas externas do país- ficou em US$ 3,48 bilhões, mais do que o dobro do resultado de US$ 1,59 bilhão de setembro.
Em dezembro de 98, o nervosismo com a moratória decretada pela Rússia em agosto fez muitas empresas estrangeiras com sede no Brasil intensificarem o envio de lucros para as matrizes.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, a piora no resultado de outubro é consequência de grande volume de juros referentes à dívida externa que o Brasil precisou pagar no mês.
Lopes apontou ainda o fraco desempenho da balança comercial para explicar o aumento do déficit. Segundo ele, o aumento das importações em outubro reflete a antecipação das compras das empresas para fim-de-ano.
Nos últimos 12 meses, o déficit em transações correntes ficou em US$ 24,68 bilhões, ou 4,19% do Produto Interno Bruto brasileiro. Um dos piores índices da América Latina. Na maioria dos países da região o déficit equivale a cerca de 3% do PIB local.
As transações correntes revelam a dependência do país em relação aos capitais externos. A conta inclui comércio exterior, serviços (juros da dívida externa, remessa de lucros) e transferências unilaterais (dinheiro remetido ao país por brasileiros que moram no exterior).
Quando o país gasta mais do que arrecada nessas operações, é preciso que empréstimos ou investimentos estrangeiros cubram a diferença. Em horas de crise, as fontes de capital externo "secam" e países com alto déficit em conta corrente enfrentam dificuldades.
Para Lopes, importante é que, mesmo que o déficit esteja elevado, a tendência é de queda. Em 1999, o déficit chegou a representar 5% do PIB brasileiro.
O governo chegou a prever que o déficit de 2000 fosse ficar em 3,5% do PIB. Essa estimativa foi revista depois que o IBGE divulgou que o PIB deste ano ficaria menor do que o esperado porque a inflação do período ficou abaixo do previsto.

Viagens
Os gastos feitos por brasileiros durante viagens ao exterior em outubro aumentaram 64% em relação ao mesmo mês de 1999, chegando a US$ 208 milhões.
Lopes disse que isso é um sinal de que os gastos com viagens internacionais estão "voltando à normalidade".
No ano passado, essas despesas caíram devido à desvalorização do real, em janeiro. Como as viagens internacionais ficaram muito caras, os gastos no exterior reduziram.
As remessas de lucros para o exterior também registraram forte alta no mês passado se comparadas ao ano passado. Em outubro deste ano, as empresas estrangeiras enviaram US$ 126 milhões para o exterior.
No ano passado, em vez de enviarem parte de seu lucro para as matrizes, muitas empresas preferiram reinvestir o dinheiro nas próprias subsidiárias brasileiras. Essas companhias receberam US$ 335 milhões em outubro de 1999.
Lopes afirmou que o resultado do ano passado foi "atípico" e que os números do mês passado estão dentro do esperado.



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