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VIZINHO EM CRISE
Pacto viabiliza ajuda do FMI, mas compromete o governo argentino a liberar verba social a Províncias
De la Rúa arranca acordo e congela gastos
JOSÉ ALAN DIAS
DE BUENOS AIRES
Após oito dias de negociações, o
governo da Argentina conseguiu
ontem firmar pacto com os governadores do Partido Justicialista (de oposição) para congelar
gastos pelos próximos cinco anos.
O impasse ameaçava outro
acordo, este com o FMI (Fundo
Monetário Internacional), que
considera o congelamento ponto
fundamental para formalizar um
socorro ao país.
Até obter o acordo, o governo
fez várias concessões à oposição.
Na semana passada, concordou
em transferir US$ 225 milhões a
mais às Províncias para gastos sociais. Depois, fixou um mínimo
para o repasse mensal de verbas
nos próximos anos. É a garantia
aos governadores de que uma
eventual queda na arrecadação federal não afetará as somas a que
têm direito. Em 2001, o repasse
mínimo mensal para as Províncias será de US$ 1,364 bilhão.
As negociações haviam sido interrompidas na sexta porque os
justicialistas não aceitavam congelar gastos sociais. Só firmaram
o pacto, ontem, depois de incluírem cláusula adicional prevendo
que, em ""situações de emergência", poderão recorrer ao governo
para verbas nestas áreas.
Entre os 14 governadores justicialistas houve uma dissidência:
Nestor Kirchner, de Santa Cruz,
se negou a assinar o pacto. Kirchner comanda uma das Províncias
com as contas menos fragilizadas
-deverá fechar o ano com déficit
de US$ 14,3 milhões e comprometendo só 6% da arrecadação com
pagamento de dívidas contra 98%
de Rio Negro, por exemplo.
Assim, o pacto inclui os demais
23 governadores (13 justicialistas,
sete da Aliança que elegeu o presidente De la Rúa, um da UCR, e
dois de partidos provinciais). Seria enviado ontem mesmo ao
Congresso, onde precisa ser ratificado por dois terços dos votantes,
e às legislaturas provinciais.
Aprovado, será lei e todos deverão segui-la -até Kirchner.
Mas os problemas do governo
não terminaram.
O presidente Fernando de la
Rúa não havia decidido até ontem
se vai promover por decreto a reforma da Previdência ou se a enviará ao Congresso.
A proposta privatiza o sistema
de Previdência na Argentina
-todos os novos trabalhadores
seriam obrigados a ingressar no
sistema privado- e aumenta de
60 para 65 anos a idade de aposentadoria das mulheres, além de
eliminar a complementação, chamada PBU, que o governo paga
aos aposentados.
O problema é a resistência na
Frepaso, um dos partidos da
Aliança governamental. Para
aprovar a reforma, também ponto básico para o FMI, De la Rúa já
negocia concessões.
O governo poderá ter hoje uma
amostra do efeito que o pacto
com os governadores pode ter
contra as pressões sobre o país.
Vai oferecer ao mercado US$ 550
milhões -a previsão era de US$
1,05 bilhão- em Letras e Bônus
do Tesouro. Licitando US$ 100
milhões em bônus na quinta-feira, pagou taxas de 13,37%.
A taxa de risco do país, que recuara a 841 pontos na quarta-feira, foi a 880 pontos na sexta, ao
pararem as negociações com a
oposição.
Em um mês, o risco argentino
chegou a 203 pontos acima da
média do dos demais países
emergentes. A diferença havia
caído a 53 pontos depois do anuncio do pacote econômico e voltara
a aumentar no vaivém das discussões com a oposição.
Os papéis oferecidos agora são
US$ 250 milhões em Letras com
vencimento em 91 dias e US$ 300
milhões em bônus de dois anos e
meio, mas estes terão taxa fixa de
11,75%.
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