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Sem caixa, redes varejistas já dão calote
Asfixiados pela falta de crédito e pelo consumo menor, lojistas deixam de pagar a indústrias, que acionam seguradoras
Atingidas pela retração, concessionárias de carros e redes de eletroeletrônicos e têxteis negociam a sua venda para grupos maiores
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Nos primeiros 19 dias de dezembro, a seguradora de crédito Coface teve de pagar a 103
companhias que forneceram
seus produtos, mas não receberam de seus clientes. Do total,
80% das empresas que não
honraram seus compromissos
eram redes de varejo -concessionárias de carros, pequenas
cadeias de supermercados, eletroeletrônicos e têxteis, que
compraram, mas não conseguiram pagar aos fornecedores.
Nos meses anteriores, a Coface tinha pago, em média, 60
sinistros ao mês. Até o fim de
dezembro, a seguradora espera
ter 115 deles, sendo que o volume de reservas -a quantia de
dinheiro que separa para pagar
as perdas dos segurados- foi
quatro vezes superior às reservas médias do ano. "Houve quebras de grandes varejistas regionais e, por isso, as reservas
aumentaram", diz Fernando
Blanco, presidente da Coface,
que detém quase 50% do mercado de seguro de crédito no
país. "Alguns deles tinham faturamento anual de R$ 300 milhões a R$ 500 milhões."
Na Crédito y Caución, que
também segura valores que serão recebidos pelas empresas,
houve 20 sinistros de agosto a
novembro, 125% a mais do que
no mesmo período de 2007. A
maior parte, foram pequenos
varejistas das áreas de eletroeletrônicos e têxtil.
Como parte do mesmo cenário, as grandes redes têm recebido ofertas de cadeias pequenas que querem ser compradas.
As mesmas oportunidades têm
sido oferecidas a fundos de investimento e estão em consultorias que têm mandatos de negociação para vendê-las.
"Como a economia vinha
crescendo forte, os varejistas
estavam muito estocados, com
o caixa baixo e dívidas bancárias altas", afirma Blanco. "Mas
os bancos chamaram o crédito
que concediam, os consumidores pararam de comprar e o varejo vive um momento de asfixia de liquidez."
Apesar de a maioria dos especialistas não acreditar em uma
quebradeira generalizada no
setor nem esperar a derrocada
imediata de uma grande rede
de varejo, os sinais de crise estão por todos os lados.
A inadimplência no comércio, medida pelo número de
inscritos no SCPC (Serviço
Central de Proteção ao Crédito), não só cresceu em dezembro como, pela primeira vez
desde 2003, teve número
maior de novos registros do
que de pessoas que renegociam
a dívida. Além disso, tanto as
consultas para vendas à vista
(pelo Usecheque) como as feitas para vendas a prazo (no
SPC) caíram em novembro.
A queda na venda de carros
de 29,5% em novembro em relação a outubro também foi forte, apesar de parcialmente minimizada pela redução do IPI
anunciada pelo governo.
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