São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem caixa, redes varejistas já dão calote

Asfixiados pela falta de crédito e pelo consumo menor, lojistas deixam de pagar a indústrias, que acionam seguradoras

Atingidas pela retração, concessionárias de carros e redes de eletroeletrônicos e têxteis negociam a sua venda para grupos maiores

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos primeiros 19 dias de dezembro, a seguradora de crédito Coface teve de pagar a 103 companhias que forneceram seus produtos, mas não receberam de seus clientes. Do total, 80% das empresas que não honraram seus compromissos eram redes de varejo -concessionárias de carros, pequenas cadeias de supermercados, eletroeletrônicos e têxteis, que compraram, mas não conseguiram pagar aos fornecedores.
Nos meses anteriores, a Coface tinha pago, em média, 60 sinistros ao mês. Até o fim de dezembro, a seguradora espera ter 115 deles, sendo que o volume de reservas -a quantia de dinheiro que separa para pagar as perdas dos segurados- foi quatro vezes superior às reservas médias do ano. "Houve quebras de grandes varejistas regionais e, por isso, as reservas aumentaram", diz Fernando Blanco, presidente da Coface, que detém quase 50% do mercado de seguro de crédito no país. "Alguns deles tinham faturamento anual de R$ 300 milhões a R$ 500 milhões."
Na Crédito y Caución, que também segura valores que serão recebidos pelas empresas, houve 20 sinistros de agosto a novembro, 125% a mais do que no mesmo período de 2007. A maior parte, foram pequenos varejistas das áreas de eletroeletrônicos e têxtil.
Como parte do mesmo cenário, as grandes redes têm recebido ofertas de cadeias pequenas que querem ser compradas. As mesmas oportunidades têm sido oferecidas a fundos de investimento e estão em consultorias que têm mandatos de negociação para vendê-las.
"Como a economia vinha crescendo forte, os varejistas estavam muito estocados, com o caixa baixo e dívidas bancárias altas", afirma Blanco. "Mas os bancos chamaram o crédito que concediam, os consumidores pararam de comprar e o varejo vive um momento de asfixia de liquidez."
Apesar de a maioria dos especialistas não acreditar em uma quebradeira generalizada no setor nem esperar a derrocada imediata de uma grande rede de varejo, os sinais de crise estão por todos os lados.
A inadimplência no comércio, medida pelo número de inscritos no SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), não só cresceu em dezembro como, pela primeira vez desde 2003, teve número maior de novos registros do que de pessoas que renegociam a dívida. Além disso, tanto as consultas para vendas à vista (pelo Usecheque) como as feitas para vendas a prazo (no SPC) caíram em novembro.
A queda na venda de carros de 29,5% em novembro em relação a outubro também foi forte, apesar de parcialmente minimizada pela redução do IPI anunciada pelo governo.


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Tiros no Natal de 1929
Próximo Texto: Crédito farto compensava ineficiências
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.