|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Telefônica pressiona CVM contra Vivendi
Espanhóis querem que autarquia conclua investigação da compra da GVT pelos franceses, um negócio de R$ 7,7 bilhões
Telefônica acredita que supostas irregularidades
da operação possam ser
comprovadas e não descarta
cancelamento do negócio
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
A disputa pelo controle da
GVT, adquirida pelos franceses
da Vivendi, ainda não acabou
para a Telefônica. A operadora
espanhola pressiona a CVM
(Comissão de Valores Mobiliários) para que a investigação seja concluída e que o Ministério
Público Federal entre no caso.
O órgão seria o único capaz
de exigir a reversão do negócio
na Justiça. A Telefônica sabe
que a chance é pequena, mas
não descarta a possibilidade.
Da CVM os espanhóis esperam a condenação da Vivendi.
Isso daria força a um processo
movido por ela contra os franceses exigindo indenizações.
Na sexta passada, o presidente da Telefônica, Antônio Carlos Valente, e o secretário-geral
da empresa, Gustavo Fleichman, reuniram-se com Maria
Helena Santana, presidente da
CVM, e entregaram carta em
que formalizam novas acusações contra a Vivendi.
Em 13 de novembro, o grupo
francês anunciou a aquisição
do controle (57,5% das ações)
da GVT por R$ 7,7 bilhões, sendo 37,9% em ações efetivamente adquiridas pela própria Vivendi e 19,6% em opções de
compra, garantidas pelo fundo
inglês Tyrus. Com o anúncio, a
Telefônica, que fizera oferta
para adquirir a GVT em leilão
público, ficou fora da disputa.
Os espanhóis, no entanto,
acreditam que o fundo não tinha como garantir a entrega
dos papéis -fato que não daria
o controle da GVT à Vivendi
naquele momento, atrapalhando o leilão da Telefônica, que
ocorreria seis dias depois. Antes das suspeitas dos espanhóis,
a CVM já havia aberto processo
para investigar a operação.
Na carta da Telefônica à
CVM, a operadora diz ter feito
investigações para descobrir
quais acionistas venderam papéis da GVT à Vivendi, como
antecipado pela Folha.
Naquele momento, o objetivo era rastrear quem vendeu as
ações ao Tyrus. Esses papéis
não estavam em posse do fundo, mas de outras instituições.
Porém, segundo a Vivendi, havia garantias firmes de venda
ao Tyrus, que, mais tarde, faria
o repasse aos franceses.
A Telefônica diz na carta que
o Tyrus transferiu só 6,632%
desses papéis, em 17 de novembro, e não informou a CVM dos
direitos de compra dos
12,968% restantes, uma obrigação imposta pela lei brasileira.
Os espanhóis também levantam suspeitas sobre o repasse
de 11,6 milhões de ações da
GVT à Vivendi (8,477% do total), no último dia 7. A Telefônica insinua que esses papéis
teriam sido vendidos por instituições diferentes daquelas
com quem o Tyrus fechou contrato antes de 13 de novembro.
Proibição de compra
A espanhola também acusa o
Tyrus de estar impedido de
comprar ações da GVT em nome da Vivendi. Isso porque, para a venda, os acionistas da
GVT alteraram o estatuto da
companhia retirando cláusulas
conhecidas como "poison pills"
(pílulas do veneno). Elas exigiam que o comprador pagasse
25% acima do mais alto valor
das ações nos últimos 12 meses.
As cláusulas caíram, mas os
acionistas da GVT passaram a
exigir que o comprador fosse
uma operadora de telefonia e
exibisse fôlego para adquirir
100% do capital da companhia.
O Tyrus é um fundo criado
em novembro por um ex-diretor do Lehman Brothers, Tony
Chedraoui, com US$ 300 milhões. Semanas antes da compra da GVT, ele conseguiu um
aporte de US$ 500 milhões e
teria gasto quase tudo na aquisição dos 19,6% das ações da
GVT. O Tyrus não respondeu
até o fechamento desta edição.
A Vivendi afirma que está segura de que não há nenhuma irregularidade na participação
do Tyrus. Mas não respondeu
ao principal questionamento
da Folha: o Tyrus detinha o direito de compra sobre ações da
GVT em posse de terceiros em
13 de novembro?
A CVM diz que as informações prestadas pela Vivendi
ainda não foram suficientes e
que as investigações continuam. O caso é importante
porque é a primeira vez que
uma empresa é adquirida do
mercado, e não dos controladores. Se confirmadas as acusações, a Vivendi poderá ter causado danos não só à Telefônica,
mas ao mercado brasileiro.
Texto Anterior: Autopeças não acompanham ciclo de recuperação em 2010 Próximo Texto: GVT chega ao Rio em 2010 e a SP em 2011 Índice
|