São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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Telefônica pressiona CVM contra Vivendi

Espanhóis querem que autarquia conclua investigação da compra da GVT pelos franceses, um negócio de R$ 7,7 bilhões

Telefônica acredita que supostas irregularidades da operação possam ser comprovadas e não descarta cancelamento do negócio

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

A disputa pelo controle da GVT, adquirida pelos franceses da Vivendi, ainda não acabou para a Telefônica. A operadora espanhola pressiona a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para que a investigação seja concluída e que o Ministério Público Federal entre no caso.
O órgão seria o único capaz de exigir a reversão do negócio na Justiça. A Telefônica sabe que a chance é pequena, mas não descarta a possibilidade.
Da CVM os espanhóis esperam a condenação da Vivendi. Isso daria força a um processo movido por ela contra os franceses exigindo indenizações.
Na sexta passada, o presidente da Telefônica, Antônio Carlos Valente, e o secretário-geral da empresa, Gustavo Fleichman, reuniram-se com Maria Helena Santana, presidente da CVM, e entregaram carta em que formalizam novas acusações contra a Vivendi.
Em 13 de novembro, o grupo francês anunciou a aquisição do controle (57,5% das ações) da GVT por R$ 7,7 bilhões, sendo 37,9% em ações efetivamente adquiridas pela própria Vivendi e 19,6% em opções de compra, garantidas pelo fundo inglês Tyrus. Com o anúncio, a Telefônica, que fizera oferta para adquirir a GVT em leilão público, ficou fora da disputa.
Os espanhóis, no entanto, acreditam que o fundo não tinha como garantir a entrega dos papéis -fato que não daria o controle da GVT à Vivendi naquele momento, atrapalhando o leilão da Telefônica, que ocorreria seis dias depois. Antes das suspeitas dos espanhóis, a CVM já havia aberto processo para investigar a operação.
Na carta da Telefônica à CVM, a operadora diz ter feito investigações para descobrir quais acionistas venderam papéis da GVT à Vivendi, como antecipado pela Folha.
Naquele momento, o objetivo era rastrear quem vendeu as ações ao Tyrus. Esses papéis não estavam em posse do fundo, mas de outras instituições. Porém, segundo a Vivendi, havia garantias firmes de venda ao Tyrus, que, mais tarde, faria o repasse aos franceses.
A Telefônica diz na carta que o Tyrus transferiu só 6,632% desses papéis, em 17 de novembro, e não informou a CVM dos direitos de compra dos 12,968% restantes, uma obrigação imposta pela lei brasileira.
Os espanhóis também levantam suspeitas sobre o repasse de 11,6 milhões de ações da GVT à Vivendi (8,477% do total), no último dia 7. A Telefônica insinua que esses papéis teriam sido vendidos por instituições diferentes daquelas com quem o Tyrus fechou contrato antes de 13 de novembro.

Proibição de compra
A espanhola também acusa o Tyrus de estar impedido de comprar ações da GVT em nome da Vivendi. Isso porque, para a venda, os acionistas da GVT alteraram o estatuto da companhia retirando cláusulas conhecidas como "poison pills" (pílulas do veneno). Elas exigiam que o comprador pagasse 25% acima do mais alto valor das ações nos últimos 12 meses.
As cláusulas caíram, mas os acionistas da GVT passaram a exigir que o comprador fosse uma operadora de telefonia e exibisse fôlego para adquirir 100% do capital da companhia.
O Tyrus é um fundo criado em novembro por um ex-diretor do Lehman Brothers, Tony Chedraoui, com US$ 300 milhões. Semanas antes da compra da GVT, ele conseguiu um aporte de US$ 500 milhões e teria gasto quase tudo na aquisição dos 19,6% das ações da GVT. O Tyrus não respondeu até o fechamento desta edição.
A Vivendi afirma que está segura de que não há nenhuma irregularidade na participação do Tyrus. Mas não respondeu ao principal questionamento da Folha: o Tyrus detinha o direito de compra sobre ações da GVT em posse de terceiros em 13 de novembro?
A CVM diz que as informações prestadas pela Vivendi ainda não foram suficientes e que as investigações continuam. O caso é importante porque é a primeira vez que uma empresa é adquirida do mercado, e não dos controladores. Se confirmadas as acusações, a Vivendi poderá ter causado danos não só à Telefônica, mas ao mercado brasileiro.


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