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PARCIMÔNIA RADICAL
Comércio classifica Selic mantida como decepcionante
Decisão coloca crescimento em xeque, reclama indústria
DA REPORTAGEM LOCAL
O setor produtivo protestou
contra a decisão do Banco Central
de manter inalterada a taxa básica
de juros. A medida foi qualificada
como "contracionista", pela Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e "coloca em
dúvida a retomada do crescimento", na análise da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Horacio Lafer Piva, presidente
da Fiesp, avalia que o enorme ingresso de capitais, seja o direcionado para a Bolsa de Valores, seja
o exibido pelas captações de empresas brasileiras (o que minimiza pressões sobre o câmbio), e a
alta capacidade ociosa da indústria oferecem condições "absolutamente favoráveis para a continuidade da queda dos juros".
"Ao surpreender a todos e resolver mantê-los, o Banco Central
irá provocar um ajuste de expectativas que terá efeito contracionista sobre a atividade econômica. Certamente, um custo desnecessário para a sociedade brasileira", sustentou Piva.
De acordo com o presidente da
Fiesp, o reaquecimento da economia está sendo contido pelo que
classificou de "um mercado de
trabalho em frangalhos e por uma
carga tributária elevadíssima".
"Vemos o desemprego manter-se em nível recorde, o poder de
compra dos salários demorar a se
recuperar e a participação do trabalho informal continuar a crescer", lembra Piva. Para concluir:
"Esse quadro abre espaço para a
queda dos juros, sem ameaçar o
cumprimento da meta de inflação. Mas teimamos em não aproveitar a oportunidade e agimos
em sentido inverso, contendo
ainda mais a produção".
O presidente da CNI, Armando
Monteiro Neto, afirma que a manutenção dos juros provoca
"grande apreensão e, sobretudo,
frustração". "O Brasil precisa de
uma agenda de crescimento. Essa
decisão coloca em dúvida a retomada desse crescimento", diz.
De acordo com ele, os indicadores de janeiro não expressam um
repique de inflação. "A inflação
de janeiro não é preocupante,
pois o crescimento da demanda é
moderado e não indica aumento
de pressão inflacionária", disse.
Júlio Sérgio Gomes de Almeida,
diretor do Iedi (Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial), considerou a decisão
como "um exagero". "Ou o Banco
Central tem uma informação de
que os empresários estão com o
dedo no gatilho para provocar
uma onda de remarcações de preços ou não dá para entender."
Se o mercado financeiro esperava uma queda, ainda que pequena, nos juros, a decisão do BC de
manter inalterada a Selic é incompreensível para o comércio.
Para o economista Marcel Solimeo, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), "a expectativa do mercado financeiro de que
os juros caíssem meio ponto é
prova de que não havia razão para
esse conservadorismo".
Para Abram Szajman, presidente da Fecomercio SP (Federação
do Comércio do Estado de São
Paulo), a decisão do BC foi "decepcionante". "Para os investidores dentro e fora do país, fica a dúvida se a inflação realmente está
controlada ou se pode haver algum repique. Sem contar que a
taxa de juros real permanece entre as mais altas do mundo."
Falta de ousadia
Os sindicalistas disseram que
decisão do BC inibe o crescimento da economia, e, por conseqüência, a geração de empregos.
"A manutenção dos juros inibe a
tendência de crescimento econômico apresentada neste início do
ano", diz nota assinada pelo presidente da CUT, Luiz Marinho.
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, diz que "Lula
está mais preocupado em mostrar
para o mundo que é responsável,
conservador e quer atrair o capital
estrangeiro".
(JOSÉ ALAN DIAS, FÁTIMA FERNANDES E MAELI PRADO)
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