São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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PARCIMÔNIA RADICAL

Comércio classifica Selic mantida como decepcionante

Decisão coloca crescimento em xeque, reclama indústria

DA REPORTAGEM LOCAL

O setor produtivo protestou contra a decisão do Banco Central de manter inalterada a taxa básica de juros. A medida foi qualificada como "contracionista", pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e "coloca em dúvida a retomada do crescimento", na análise da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp, avalia que o enorme ingresso de capitais, seja o direcionado para a Bolsa de Valores, seja o exibido pelas captações de empresas brasileiras (o que minimiza pressões sobre o câmbio), e a alta capacidade ociosa da indústria oferecem condições "absolutamente favoráveis para a continuidade da queda dos juros".
"Ao surpreender a todos e resolver mantê-los, o Banco Central irá provocar um ajuste de expectativas que terá efeito contracionista sobre a atividade econômica. Certamente, um custo desnecessário para a sociedade brasileira", sustentou Piva.
De acordo com o presidente da Fiesp, o reaquecimento da economia está sendo contido pelo que classificou de "um mercado de trabalho em frangalhos e por uma carga tributária elevadíssima".
"Vemos o desemprego manter-se em nível recorde, o poder de compra dos salários demorar a se recuperar e a participação do trabalho informal continuar a crescer", lembra Piva. Para concluir: "Esse quadro abre espaço para a queda dos juros, sem ameaçar o cumprimento da meta de inflação. Mas teimamos em não aproveitar a oportunidade e agimos em sentido inverso, contendo ainda mais a produção".
O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, afirma que a manutenção dos juros provoca "grande apreensão e, sobretudo, frustração". "O Brasil precisa de uma agenda de crescimento. Essa decisão coloca em dúvida a retomada desse crescimento", diz.
De acordo com ele, os indicadores de janeiro não expressam um repique de inflação. "A inflação de janeiro não é preocupante, pois o crescimento da demanda é moderado e não indica aumento de pressão inflacionária", disse.
Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial), considerou a decisão como "um exagero". "Ou o Banco Central tem uma informação de que os empresários estão com o dedo no gatilho para provocar uma onda de remarcações de preços ou não dá para entender."
Se o mercado financeiro esperava uma queda, ainda que pequena, nos juros, a decisão do BC de manter inalterada a Selic é incompreensível para o comércio.
Para o economista Marcel Solimeo, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), "a expectativa do mercado financeiro de que os juros caíssem meio ponto é prova de que não havia razão para esse conservadorismo".
Para Abram Szajman, presidente da Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), a decisão do BC foi "decepcionante". "Para os investidores dentro e fora do país, fica a dúvida se a inflação realmente está controlada ou se pode haver algum repique. Sem contar que a taxa de juros real permanece entre as mais altas do mundo."

Falta de ousadia
Os sindicalistas disseram que decisão do BC inibe o crescimento da economia, e, por conseqüência, a geração de empregos. "A manutenção dos juros inibe a tendência de crescimento econômico apresentada neste início do ano", diz nota assinada pelo presidente da CUT, Luiz Marinho.
Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, diz que "Lula está mais preocupado em mostrar para o mundo que é responsável, conservador e quer atrair o capital estrangeiro". (JOSÉ ALAN DIAS, FÁTIMA FERNANDES E MAELI PRADO)


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