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Aposta já embutia conservadorismo
DA REPORTAGEM LOCAL
Os analistas que projetavam
corte de 0,5 ponto percentual na
Selic já consideravam em suas
análises os fatos de o BC ter um
perfil conservador e de os mais recentes índices de inflação terem
ficado acima do que se esperava.
Por isso, a decisão surpreendeu os
que apostavam na manutenção
do "gradualismo" da instituição.
José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston, classificou
a decisão como um ""excesso de
parcimônia". Segundo ele, as previsões do mercado já consideravam o fato de índices de preços de
dezembro e janeiro terem ficado
acima da expectativa.
Além disso, esses índices devem
ser analisados ao lado da desvalorização do dólar em relação ao
real registrada nos últimos meses.
"Se for mantido esse dólar a R$
2,84, o ano vai fechar com uma taxa de inflação abaixo da meta do
próprio BC", afirma Pena.
"Começo a achar que o peso
que se dá ao modelo (de metas de
inflação) e fator câmbio é menor
do que se imaginava. O Banco
Central usou de uma excessiva
dose de parcimônia", disse o economista do Boston.
A economista Lídia Goldenstein, sócia da MB Associados,
concorda e diz que todas as previsões foram feitas levando em conta o perfil conservador do BC. Em
sua opinião, a manutenção dos
juros fará com que o ritmo de retomada da atividade econômica
seja ainda mais lento que o atual.
"Os dados que têm saído mostram que a recuperação econômica não é vigorosa", afirma Goldenstein. A economista acrescenta que a alta de determinados índices de preços, como o IPCA de
dezembro, não indicam um descontrole da inflação.
Apesar de ter se surpreendido, o
ex-presidente do BC Gustavo Loyola avalia a decisão como uma
parada estratégica na trajetória de
redução da Selic iniciada pelo BC
há sete meses.
Loyola acredita que a instituição
ainda avalia os efeitos da redução
sobre a atividade econômica. O
economista lembra que os picos
de inflação enfrentados pelo Brasil em anos recentes foram provocados pela alta excessiva do dólar
e não pela explosão da demanda.
Com a cotação da moeda sob
controle, o BC está agora avaliando os riscos de uma alta de preços
por pressão de demanda, afirma.
Um dos riscos de inflação de demanda que deve estar sendo avaliado pelo BC pode ser causado
justamente por uma ação do governo. Segundo Sandra Utsumi,
economista-chefe do BES Investimento, o movimento de resgate
de títulos da dívida pública cambial pelo governo implica o aumento do dinheiro em circulação.
Afinal, para retirar os papéis do
mercado, o Tesouro paga o que
deve aos detentores da dívida.
"O BC pode estar analisando os
efeitos disso, assim como o dos
indicadores de inflação dos últimos dias. Isso pode explicar essa
pausa na queda de juros", diz.
A expectativa do mercado agora
é a divulgação da ata da reunião
de ontem na próxima semana.
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