São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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Aposta já embutia conservadorismo

DA REPORTAGEM LOCAL

Os analistas que projetavam corte de 0,5 ponto percentual na Selic já consideravam em suas análises os fatos de o BC ter um perfil conservador e de os mais recentes índices de inflação terem ficado acima do que se esperava. Por isso, a decisão surpreendeu os que apostavam na manutenção do "gradualismo" da instituição.
José Antonio Pena, economista-chefe do BankBoston, classificou a decisão como um ""excesso de parcimônia". Segundo ele, as previsões do mercado já consideravam o fato de índices de preços de dezembro e janeiro terem ficado acima da expectativa.
Além disso, esses índices devem ser analisados ao lado da desvalorização do dólar em relação ao real registrada nos últimos meses. "Se for mantido esse dólar a R$ 2,84, o ano vai fechar com uma taxa de inflação abaixo da meta do próprio BC", afirma Pena.
"Começo a achar que o peso que se dá ao modelo (de metas de inflação) e fator câmbio é menor do que se imaginava. O Banco Central usou de uma excessiva dose de parcimônia", disse o economista do Boston.
A economista Lídia Goldenstein, sócia da MB Associados, concorda e diz que todas as previsões foram feitas levando em conta o perfil conservador do BC. Em sua opinião, a manutenção dos juros fará com que o ritmo de retomada da atividade econômica seja ainda mais lento que o atual.
"Os dados que têm saído mostram que a recuperação econômica não é vigorosa", afirma Goldenstein. A economista acrescenta que a alta de determinados índices de preços, como o IPCA de dezembro, não indicam um descontrole da inflação.
Apesar de ter se surpreendido, o ex-presidente do BC Gustavo Loyola avalia a decisão como uma parada estratégica na trajetória de redução da Selic iniciada pelo BC há sete meses.
Loyola acredita que a instituição ainda avalia os efeitos da redução sobre a atividade econômica. O economista lembra que os picos de inflação enfrentados pelo Brasil em anos recentes foram provocados pela alta excessiva do dólar e não pela explosão da demanda.
Com a cotação da moeda sob controle, o BC está agora avaliando os riscos de uma alta de preços por pressão de demanda, afirma.
Um dos riscos de inflação de demanda que deve estar sendo avaliado pelo BC pode ser causado justamente por uma ação do governo. Segundo Sandra Utsumi, economista-chefe do BES Investimento, o movimento de resgate de títulos da dívida pública cambial pelo governo implica o aumento do dinheiro em circulação. Afinal, para retirar os papéis do mercado, o Tesouro paga o que deve aos detentores da dívida.
"O BC pode estar analisando os efeitos disso, assim como o dos indicadores de inflação dos últimos dias. Isso pode explicar essa pausa na queda de juros", diz.
A expectativa do mercado agora é a divulgação da ata da reunião de ontem na próxima semana.


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