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PARCIMÔNIA RADICAL
Decisão do BC de não alterar Selic mantém taxa real do país em 9,95% ao ano, a maior do planeta
Brasil segue líder, com folga, de juros reais
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a decisão de não alterar a
taxa Selic, o Banco Central manteve o Brasil folgado na liderança do
ranking de países com maiores
juros reais do mundo. A taxa brasileira continua sendo de 9,95%,
baixa em relação ao histórico do
país, mas muito elevada para padrões internacionais -segundo
cálculo feito pela consultoria Global Invest- e para a necessidade
de crescimento da economia.
Se a conta considerar, em vez da
Selic, os juros prefixados de 12
meses, que caíram ontem para
15,19%, a taxa real é menor: 8,7%.
Mas a expectativa do mercado é
que essa taxa sofra correção para
cima hoje, afinal quando foram
encerrados os negócios no mercado ontem, analistas eram unânimes na expectativa de algum corte da Selic.
Independentemente do cálculo
usado, no entanto, economistas
afirmam que os juros brasileiros
seguem muito altos para serem
capazes de colocar o país na rota
do crescimento sustentado.
Para reduzir a taxa de desemprego, considerado um dos principais problemas do país, por
exemplo, o economista-chefe do
Itaú, Tomás Málaga, diz que a
economia brasileira precisa crescer muito acima dos cerca de 4%
esperados para 2004.
Quanto mais altos os juros reais
-indicador considerado o termômetro usado por empresários
e investidores para decidir suas
estratégias- mais demorada tende a ser a retomada.
"Com os juros ainda altos e o
risco-país baixo, os investidores
tendem a preferir continuar aplicando recursos no mercado financeiro, comprando títulos, do
que investindo no setor produtivo", diz Alex Agostini, economista da Global Invest.
Dívida
Outro aspecto negativo relacionado à manutenção da Selic diz
respeito aos custos de financiamento do setor público. Com os
juros reais mais elevados do mundo, em um momento de taxas internacionais muito baixas, a tendência é que o Brasil continue
atraindo forte fluxo de recursos
de fora.
Isso tende a manter a taxa de
câmbio apreciada. Do ponto de
vista do controle inflacionário, esse movimento é positivo. Mas a
estratégia já anunciada pelo BC é
de aproveitar essa valorização para recompor suas reservas internacionais e, na opinião analistas,
evitar também que uma apreciação excessiva do real prejudique a
balança comercial.
O problema, ressalvam economistas, é que, ao comprar dólares
no mercado, a autoridade monetária coloca mais reais em circulação na economia.
Para evitar que isso se converta
em pressões inflacionárias, o governo tende a retirar parte desses
recursos injetados na economia
emitindo títulos da dívida.
"Essa esterilização é necessária
para se evitar um aumento excessivo da base monetária. O problema disso é que o custo dessa dívida, a esse nível de taxas de juros,
ainda é muito alto", diz Alexandre
Maia, economista-chefe da Gap
Asset Management.
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