São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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PARCIMÔNIA RADICAL

Decisão do BC de não alterar Selic mantém taxa real do país em 9,95% ao ano, a maior do planeta

Brasil segue líder, com folga, de juros reais

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a decisão de não alterar a taxa Selic, o Banco Central manteve o Brasil folgado na liderança do ranking de países com maiores juros reais do mundo. A taxa brasileira continua sendo de 9,95%, baixa em relação ao histórico do país, mas muito elevada para padrões internacionais -segundo cálculo feito pela consultoria Global Invest- e para a necessidade de crescimento da economia.
Se a conta considerar, em vez da Selic, os juros prefixados de 12 meses, que caíram ontem para 15,19%, a taxa real é menor: 8,7%. Mas a expectativa do mercado é que essa taxa sofra correção para cima hoje, afinal quando foram encerrados os negócios no mercado ontem, analistas eram unânimes na expectativa de algum corte da Selic.
Independentemente do cálculo usado, no entanto, economistas afirmam que os juros brasileiros seguem muito altos para serem capazes de colocar o país na rota do crescimento sustentado.
Para reduzir a taxa de desemprego, considerado um dos principais problemas do país, por exemplo, o economista-chefe do Itaú, Tomás Málaga, diz que a economia brasileira precisa crescer muito acima dos cerca de 4% esperados para 2004.
Quanto mais altos os juros reais -indicador considerado o termômetro usado por empresários e investidores para decidir suas estratégias- mais demorada tende a ser a retomada.
"Com os juros ainda altos e o risco-país baixo, os investidores tendem a preferir continuar aplicando recursos no mercado financeiro, comprando títulos, do que investindo no setor produtivo", diz Alex Agostini, economista da Global Invest.

Dívida
Outro aspecto negativo relacionado à manutenção da Selic diz respeito aos custos de financiamento do setor público. Com os juros reais mais elevados do mundo, em um momento de taxas internacionais muito baixas, a tendência é que o Brasil continue atraindo forte fluxo de recursos de fora.
Isso tende a manter a taxa de câmbio apreciada. Do ponto de vista do controle inflacionário, esse movimento é positivo. Mas a estratégia já anunciada pelo BC é de aproveitar essa valorização para recompor suas reservas internacionais e, na opinião analistas, evitar também que uma apreciação excessiva do real prejudique a balança comercial.
O problema, ressalvam economistas, é que, ao comprar dólares no mercado, a autoridade monetária coloca mais reais em circulação na economia.
Para evitar que isso se converta em pressões inflacionárias, o governo tende a retirar parte desses recursos injetados na economia emitindo títulos da dívida.
"Essa esterilização é necessária para se evitar um aumento excessivo da base monetária. O problema disso é que o custo dessa dívida, a esse nível de taxas de juros, ainda é muito alto", diz Alexandre Maia, economista-chefe da Gap Asset Management.


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