São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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PARCIMÔNIA RADICAL

Heron do Carmo afirma que repique inflacionário deste início de ano é sazonal e não justifica manter juros

Para economista, BC mantém "fama de mau"

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O Banco Central segurou a taxa de juros em 16,5% porque quis "manter a fama de mau porque o repique inflacionário que os índices estão mostrando não justificava a interrupção na queda na taxa da Selic". A avaliação é de Heron do Carmo, professor da Universidade de São Paulo e vice-presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo.
Para o economista, o BC está em uma saia justa porque as reuniões mensais do Copom são uma armadilha. Os técnicos do banco decidem os destinos dos juros com base nos dados conjunturais disponíveis no mês. E, neste mês, a inflação mostra sinais de elevação. Essa alta, no entanto, é puramente sazonal, acrescenta.
Heron diz que as evidências são de que a taxa de inflação está sob controle. "Ficou um pouco acima do esperado, mas a tendência é de queda." O Banco Central deve olhar a inflação a médio prazo e não no mês a mês, diz.
O BC usa um excesso de cautela que pode ser prejudicial a médio prazo. O não-recuo de meio ponto percentual, como o esperado pelo mercado, pode aumentar o risco de elevação da inflação no futuro devido ao efeito da taxa de juros sobre a dívida pública, acrescenta.
O economista da Fipe diz que o BC está muito preocupado com a credibilidade da instituição "e estamos pagando caro por isso". Assim como o BC usa a inflação interna para manter a taxa de juro elevada, poderia olhar para o cenário externo, que está com juros reduzidos. Nessa outra ótica, a queda do juros deveria continuar, afirma.
O que está assustando o Banco Central são os mais recentes índices de inflação. A elevação da taxa vem ocorrendo desde dezembro, quando a inflação ficou acima do previsto. Naquele mês, aumentos de cigarros e de tarifas ônibus -este em três capitais brasileiras- fizeram a taxa do IPCA subir para 0,52%, contra 0,34% em novembro.
O Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) também mostrou repique no mês passado. A taxa foi de 0,42%, acima do 0,27% do mês anterior.
As primeiras pesquisas deste ano voltaram a mostrar elevação da inflação, mas é uma alta já prevista e ocorre em produtos e itens que sempre sobem neste período do ano: educação, recreação e lazer e alimentos.

Forte, mas passageiro
Apesar de os reajustes desses itens sazonais ocorrer com uma intensidade superior à prevista, como ocorre com educação, têm efeitos passageiros sobre a inflação, segundo a Fipe, que já reviu a inflação deste mês de 0,5% para 0,7%.
Outro índice que mostra uma aceleração nos preços é o IGP-10 (Índice Geral de Preços, da Fundação Getúlio Vargas, cuja pesquisa terminou no dia 10 deste mês).
A FGV apurou uma taxa de 0,76% no IGP-10 para janeiro, acima do 0,59% de dezembro. As maiores pressões vêm do Índice de Preços ao Consumidor, que teve elevação de 0,63%. Em dezembro era 0,37%. Neste item, educação, o vilão do mês em todos os índices, mostra aumento de 1,9%.
Ou seja: todas as taxas que medem inflação apontam reajuste maior em itens pontuais. E, embora haja uma indicação de possível recuperação da demanda, os dados ainda não mostram pressões que ameacem a inflação, segundo economistas.


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