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PARCIMÔNIA RADICAL
Heron do Carmo afirma que repique inflacionário deste início de ano é sazonal e não justifica manter juros
Para economista, BC mantém "fama de mau"
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O Banco Central segurou a taxa
de juros em 16,5% porque quis
"manter a fama de mau porque o
repique inflacionário que os índices estão mostrando não justificava a interrupção na queda na taxa
da Selic". A avaliação é de Heron
do Carmo, professor da Universidade de São Paulo e vice-presidente do Conselho Regional de
Economia de São Paulo.
Para o economista, o BC está em
uma saia justa porque as reuniões
mensais do Copom são uma armadilha. Os técnicos do banco
decidem os destinos dos juros
com base nos dados conjunturais
disponíveis no mês. E, neste mês,
a inflação mostra sinais de elevação. Essa alta, no entanto, é puramente sazonal, acrescenta.
Heron diz que as evidências são
de que a taxa de inflação está sob
controle. "Ficou um pouco acima
do esperado, mas a tendência é de
queda." O Banco Central deve
olhar a inflação a médio prazo e
não no mês a mês, diz.
O BC usa um excesso de cautela
que pode ser prejudicial a médio
prazo. O não-recuo de meio ponto percentual, como o esperado
pelo mercado, pode aumentar o
risco de elevação da inflação no
futuro devido ao efeito da taxa de
juros sobre a dívida pública,
acrescenta.
O economista da Fipe diz que o
BC está muito preocupado com a
credibilidade da instituição "e estamos pagando caro por isso".
Assim como o BC usa a inflação
interna para manter a taxa de juro
elevada, poderia olhar para o cenário externo, que está com juros
reduzidos. Nessa outra ótica, a
queda do juros deveria continuar,
afirma.
O que está assustando o Banco
Central são os mais recentes índices de inflação. A elevação da taxa
vem ocorrendo desde dezembro,
quando a inflação ficou acima do
previsto. Naquele mês, aumentos
de cigarros e de tarifas ônibus
-este em três capitais brasileiras- fizeram a taxa do IPCA subir para 0,52%, contra 0,34% em
novembro.
O Índice de Preços ao Consumidor da Fipe (Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas) também mostrou repique no mês
passado. A taxa foi de 0,42%, acima do 0,27% do mês anterior.
As primeiras pesquisas deste
ano voltaram a mostrar elevação
da inflação, mas é uma alta já prevista e ocorre em produtos e itens
que sempre sobem neste período
do ano: educação, recreação e lazer e alimentos.
Forte, mas passageiro
Apesar de os reajustes desses
itens sazonais ocorrer com uma
intensidade superior à prevista,
como ocorre com educação, têm
efeitos passageiros sobre a inflação, segundo a Fipe, que já reviu a
inflação deste mês de 0,5% para
0,7%.
Outro índice que mostra uma
aceleração nos preços é o IGP-10
(Índice Geral de Preços, da Fundação Getúlio Vargas, cuja pesquisa terminou no dia 10 deste
mês).
A FGV apurou uma taxa de
0,76% no IGP-10 para janeiro, acima do 0,59% de dezembro. As
maiores pressões vêm do Índice
de Preços ao Consumidor, que teve elevação de 0,63%. Em dezembro era 0,37%. Neste item, educação, o vilão do mês em todos os
índices, mostra aumento de 1,9%.
Ou seja: todas as taxas que medem inflação apontam reajuste
maior em itens pontuais. E, embora haja uma indicação de possível recuperação da demanda, os
dados ainda não mostram pressões que ameacem a inflação, segundo economistas.
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