São Paulo, sexta, 22 de janeiro de 1999

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ECONOMIA REAL
Empresa diz que ato é colaboração com Plano Real; Ford, que também aumentou, não se manifesta
GM recua e reduz o reajuste dos carros

Evelson de Freitas/Folha Imagem
Metalúrgicos em ato de solidariedade aos demitidos da Ford em frente da fábrica da Volkswagen; Ford abriu negociação sobre cortes


ARTHUR PEREIRA FILHO
da Reportagem Local

A General Motors recuou e decidiu reduzir os índices de aumento dos carros anunciados há três dias.
O reajuste máximo agora será de 5,5%, quase seis pontos percentuais a menos do que os 11,37% da tabela anterior. Os novos preços passam a valer a partir de segunda.
O reajuste dos carros da linha Corsa foi mantido em 1,99%. A picape S10 sobe 4,41%. O Vectra ficará 5,38% mais caro. Para os demais modelos, vale o índice de 5,5%.
"Revisamos os preços para demonstrar o apoio da GM ao Plano Real", disse José Carlos Pinheiro Neto, diretor de Assuntos Corporativos da montadora e presidente da Anfavea, a associação dos fabricantes de veículos.
Segundo Pinheiro Neto, o novo índice de reajuste não cobre os novos custos provocados pela desvalorização do real. "Vamos arcar com o prejuízo."

Ganhos espúrios
A decisão da GM de elevar os preços em até 11% foi criticada por membros do governo FHC, entre eles o ministro Pimenta da Veiga (Comunicações).
Pimenta disse que a GM reajustou seus preços "de forma abusiva" e que o governo "agirá duramente com quem tiver esse tipo de procedimento". Ele não disse que punições podem ser adotadas.
"No momento em que o Brasil tem dificuldades, uma empresa que convive conosco há muito anos (a GM) age de forma contrária aos interesses de nossa economia. Não posso deixar de manifestar meu repúdio a essa atitude equivocada", afirmou.
Para ele, a GM se valeu do "esforço que o governo está fazendo para equilibrar a economia para ter ganhos escusos".
Pinheiro Neto disse que, durante reunião de diretoria realizada ontem de manhã, a GM avaliou que o anúncio do aumento de até 11% não foi "oportuno". "Não imaginávamos que a medida poderia ser interpretada como uma atitude contra o governo."

Fatos novos
Para o diretor da GM, o surgimento de "fatos novos" também colaborou para decisão da montadora de rever a tabela. "A aprovação do plano de renovação da frota em nível estadual é uma demonstração de boa vontade."
A Folha apurou que a General Motors foi pressionada pelo governo a cancelar os reajustes de até 11%, considerados abusivos.
O Ministério da Fazenda teria ameaçado cancelar o acordo, já praticamente fechado, para redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre 120 mil carros em estoque, caso a GM insistisse em manter o reajuste de 11%. Além disso, o governo encerraria as negociações para abrir mão de parte do IPI e viabilizar o programa de renovação de frota.
Para atender aos pedidos de redução de impostos, o governo estaria exigindo também que a Ford voltasse atrás nos reajustes anunciados anteontem -entre 2% e 11%- e abrisse negociações com os 2.800 trabalhadores demitidos em São Bernardo.
Pinheiro Neto nega que a decisão da montadora seja resultado de pressões do governo. "Não estamos esperando nada em troca."
A direção da Ford não quis falar sobre o assunto. Segundo assessores da empresa, o diretor de Assuntos Governamentais da montadora, Célio Batalha, estava "incomunicável" ontem.
A Volkswagen e a Fiat ainda não aumentaram os preços dos carros.


Colaborou a Sucursal de Brasília



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