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CONTAS PÚBLICAS
Resultado ficou no vermelho pela primeira vez desde 2004; queda do dólar contribuiu para desempenho
Remessa cresce e deixa conta externa negativa
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As remessas de lucros feitas pelos bancos no começo deste ano
deixaram as contas externas no
vermelho pela primeira vez desde
2004. Em janeiro, o saldo das
transações correntes -que inclui
bens e serviços negociados pelo
Brasil com outros países- ficou
negativo em US$ 452 milhões.
Esse déficit quebrou uma série
de 13 meses seguidos de saldos
positivos. Em boa parte, isso se
deve à queda do dólar, que fez
com que muitas multinacionais
instaladas no país optassem por
antecipar o envio de dividendos
para suas matrizes no exterior.
No mês passado, as remessas de
lucros somaram US$ 1,540 bilhão,
314% acima do valor registrado
em janeiro de 2005. De acordo
com o Banco Central, instituições
financeiras foram as que mais
mandaram dinheiro para fora: foram US$ 584 milhões.
"Houve antecipação por força
da apreciação cambial", diz o chefe do Departamento Econômico
do BC, Altamir Lopes.
Com a valorização do câmbio,
as empresas podem, com uma
mesma quantidade de reais, comprar um volume maior de dólares
para enviar para suas matrizes.
Assim, quanto maior a queda da
moeda dos EUA, maior o estímulo para que se antecipem as remessas de lucros ao exterior.
Apesar disso, Lopes diz que o
câmbio não é o único fator que
explica o maior envio de dividendos para fora do país. Por um lado, o próprio investimento estrangeiro recebido pelo Brasil nos
últimos anos justificaria esse aumento -se investem mais, as
multinacionais querem também
receber mais lucros.
Além disso, o crescimento da
economia, apesar de tímido em
2005, faria com que empresas instaladas por aqui tivessem ganhos
maiores, o que também se traduziria em maiores remessas.
De qualquer forma, Lopes afirma que, por enquanto, o setor privado deve continuar enviando
uma grande quantidade de recursos para o exterior.
"É natural que essas remessas se
mantenham elevadas. Não vemos
nenhum ponto de inflexão no
curto prazo", diz ele.
Piora esperada
Para o economista-chefe do
BNP Paribas, Alexandre Lintz, já
se esperava uma ligeira piora nos
números referentes à conta de
transações correntes. Com o real
valorizado, afirma, os produtos
brasileiros ficam menos competitivos no exterior -situação agravada pela expectativa de desaceleração da economia mundial.
"Não é de hoje que todos os
itens [que fazem parte das transações correntes], excluindo a balança, vem apresentando uma
piora. Chega uma hora em que a
contribuição do comércio [para
as contas externas] começa a se
estabilizar", diz o economista.
Composição
A balança comercial é um dos
principais itens da conta de transações correntes. Além dela, esse
indicador é composto pela balança de serviços (que inclui as remessas de lucros, além de gastos
com viagens internacionais e despesas com juros da dívida externa, entre outros) e pelas transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no
exterior, e vice-versa).
No balanço de serviços e rendas,
a conta turismo registrou resultado ligeiramente positivo -diferentemente do que vinha ocorrendo-, com ingresso de dólares
recorde para um mês de janeiro
(leia texto nesta págna).
Apesar do saldo negativo de janeiro, a expectativa do BC é que as
transações correntes voltem a
apresentar números melhores
nos próximos meses. "Não é porque tivemos um resultado deficitário em janeiro que teremos um
desvio daquela tendência de saldos positivos", afirma Lopes.
Esse otimismo está baseado,
justamente, no desempenho bastante favorável que tem sido alcançado pela balança comercial.
Apesar do dólar em queda, o saldo entre exportações e importações ainda se mantém bastante
elevado: em janeiro, o superávit
foi de US$ 2,844 bilhões.
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