São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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CONTAS PÚBLICAS

Resultado ficou no vermelho pela primeira vez desde 2004; queda do dólar contribuiu para desempenho

Remessa cresce e deixa conta externa negativa

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As remessas de lucros feitas pelos bancos no começo deste ano deixaram as contas externas no vermelho pela primeira vez desde 2004. Em janeiro, o saldo das transações correntes -que inclui bens e serviços negociados pelo Brasil com outros países- ficou negativo em US$ 452 milhões.
Esse déficit quebrou uma série de 13 meses seguidos de saldos positivos. Em boa parte, isso se deve à queda do dólar, que fez com que muitas multinacionais instaladas no país optassem por antecipar o envio de dividendos para suas matrizes no exterior.
No mês passado, as remessas de lucros somaram US$ 1,540 bilhão, 314% acima do valor registrado em janeiro de 2005. De acordo com o Banco Central, instituições financeiras foram as que mais mandaram dinheiro para fora: foram US$ 584 milhões.
"Houve antecipação por força da apreciação cambial", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Com a valorização do câmbio, as empresas podem, com uma mesma quantidade de reais, comprar um volume maior de dólares para enviar para suas matrizes. Assim, quanto maior a queda da moeda dos EUA, maior o estímulo para que se antecipem as remessas de lucros ao exterior.
Apesar disso, Lopes diz que o câmbio não é o único fator que explica o maior envio de dividendos para fora do país. Por um lado, o próprio investimento estrangeiro recebido pelo Brasil nos últimos anos justificaria esse aumento -se investem mais, as multinacionais querem também receber mais lucros.
Além disso, o crescimento da economia, apesar de tímido em 2005, faria com que empresas instaladas por aqui tivessem ganhos maiores, o que também se traduziria em maiores remessas.
De qualquer forma, Lopes afirma que, por enquanto, o setor privado deve continuar enviando uma grande quantidade de recursos para o exterior.
"É natural que essas remessas se mantenham elevadas. Não vemos nenhum ponto de inflexão no curto prazo", diz ele.

Piora esperada
Para o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, já se esperava uma ligeira piora nos números referentes à conta de transações correntes. Com o real valorizado, afirma, os produtos brasileiros ficam menos competitivos no exterior -situação agravada pela expectativa de desaceleração da economia mundial.
"Não é de hoje que todos os itens [que fazem parte das transações correntes], excluindo a balança, vem apresentando uma piora. Chega uma hora em que a contribuição do comércio [para as contas externas] começa a se estabilizar", diz o economista.

Composição
A balança comercial é um dos principais itens da conta de transações correntes. Além dela, esse indicador é composto pela balança de serviços (que inclui as remessas de lucros, além de gastos com viagens internacionais e despesas com juros da dívida externa, entre outros) e pelas transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior, e vice-versa).
No balanço de serviços e rendas, a conta turismo registrou resultado ligeiramente positivo -diferentemente do que vinha ocorrendo-, com ingresso de dólares recorde para um mês de janeiro (leia texto nesta págna).
Apesar do saldo negativo de janeiro, a expectativa do BC é que as transações correntes voltem a apresentar números melhores nos próximos meses. "Não é porque tivemos um resultado deficitário em janeiro que teremos um desvio daquela tendência de saldos positivos", afirma Lopes.
Esse otimismo está baseado, justamente, no desempenho bastante favorável que tem sido alcançado pela balança comercial. Apesar do dólar em queda, o saldo entre exportações e importações ainda se mantém bastante elevado: em janeiro, o superávit foi de US$ 2,844 bilhões.


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