São Paulo, sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

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Analistas vêem solidez em plena turbulência

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Enquanto alguns especialistas consideram que o anúncio de que o Brasil tem dólares suficientes para cobrir a dívida externa acelera a concessão do "investment grade" [dado a países com baixo risco de darem calote em suas dívidas], há quem afirme que o fato tem um simbolismo maior que efeito prático para economia.
O resultado seria simbólico porque o ganho nessa área -a melhora da avaliação do país- já viria sendo capitalizado há dois anos. "A mudança importante foi entre março e abril de 2006, quando o setor público se tornou credor em dólar", disse Alexandre Schwartsman, diretor do Banco Central de outubro de 2003 a abril de 2006.
Segundo ele, o ano de 2006 foi mais marcante em razão de o setor público ter sido a grande ameaça para os investidores: o medo seria de um calote do governo, não das empresas.
Rumores de que a concessão do "grau de investimento" acontecerá em breve correram no mercado nos últimos dias, mas as agências de risco não os confirmaram. Enquanto a Moody's traçou um cenário cauteloso, a Fitch e a Standard & Poor's deixaram o governo animados, apurou a Folha.
Outros ex-diretores do BC dizem que, para o mercado, o Brasil já tem o "grau de investimento". "Do ponto de vista do investidor, não há mais por que temer o Brasil", diz Emílio Garofalo, diretor em 1992 e 1993.
Garofalo lembra que o Brasil vive uma conjuntura econômica muito diferente do passado. "[Na época em que estava no BC], as reservas não chegavam nem a 10% da dívida externa."
Carlos Langoni, diretor de 1980 a 1983, diz que o dado põe o Brasil em situação mais confortável para enfrentar eventual desaceleração da economia mundial. "O maior teste foram os meses de turbulência externa que o Brasil atravessou praticamente incólume."
Langoni diz que, do ponto de vista da vulnerabilidade, o Brasil já está melhor do que países que já têm o "grau de investimento" e elogia a estratégia do Banco Central de aproveitar a liquidez internacional para aumentar as reservas em dólares.
O ex-diretor, que estava no BC quando a dívida externa foi renegociada em 1982, avalia que a conjuntura interna e externa é bastante diversa. "Sofri na carne o que é um país sem reservas. A moratória causa um impacto recessivo muito grande e praticamente exclui o Brasil da possibilidade de atrair investimentos externos."

Ajustes internos
Langoni adverte que há ajustes internos a fazer. Para ele, é preciso reduzir o peso da dívida pública em relação ao PIB. "Vamos em breve ter um patamar abaixo de 40% e caminhar para a média dos países que hoje têm o "grau de investimento", que é de 30%."
Alkimar Moura, diretor do BC em 1987, quando o governo Sarney decretou moratória da dívida, e, depois, de 1994 a 1997, afirma que o resultado é "muito bom", mas tem mais importância financeira que econômica.
"Financeiramente indica que o país superou os traumas de endividamento de anos e anos, que o risco-país pode cair e pode antecipar o "investment grade". Tudo isso tem de ser pesado contra o fato de que um emergente, precisando crescer, precisaria absorver poupança interna para investir."
Moura pondera que a situação do Brasil como credor pode se reverter. "Obviamente toda essa entrada de capitais vai se refletir na taxa de câmbio, torna o real valorizado, o que provavelmente atingirá a balança comercial, reduzirá o superávit ou provocará déficit." Ele avalia que, para financiar o déficit, teria que captar dinheiro e voltar a ser devedor líquido.


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