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Analistas vêem solidez em plena turbulência
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Enquanto alguns especialistas consideram que o anúncio
de que o Brasil tem dólares suficientes para cobrir a dívida
externa acelera a concessão do
"investment grade" [dado a
países com baixo risco de darem calote em suas dívidas], há
quem afirme que o fato tem um
simbolismo maior que efeito
prático para economia.
O resultado seria simbólico
porque o ganho nessa área -a
melhora da avaliação do país-
já viria sendo capitalizado há
dois anos. "A mudança importante foi entre março e abril de
2006, quando o setor público se
tornou credor em dólar", disse
Alexandre Schwartsman, diretor do Banco Central de outubro de 2003 a abril de 2006.
Segundo ele, o ano de 2006
foi mais marcante em razão de
o setor público ter sido a grande
ameaça para os investidores: o
medo seria de um calote do governo, não das empresas.
Rumores de que a concessão
do "grau de investimento"
acontecerá em breve correram
no mercado nos últimos dias,
mas as agências de risco não os
confirmaram. Enquanto a
Moody's traçou um cenário
cauteloso, a Fitch e a Standard
& Poor's deixaram o governo
animados, apurou a Folha.
Outros ex-diretores do BC
dizem que, para o mercado, o
Brasil já tem o "grau de investimento". "Do ponto de vista do
investidor, não há mais por que
temer o Brasil", diz Emílio Garofalo, diretor em 1992 e 1993.
Garofalo lembra que o Brasil
vive uma conjuntura econômica muito diferente do passado.
"[Na época em que estava no
BC], as reservas não chegavam
nem a 10% da dívida externa."
Carlos Langoni, diretor de
1980 a 1983, diz que o dado põe
o Brasil em situação mais confortável para enfrentar eventual desaceleração da economia mundial. "O maior teste
foram os meses de turbulência
externa que o Brasil atravessou
praticamente incólume."
Langoni diz que, do ponto de
vista da vulnerabilidade, o Brasil já está melhor do que países
que já têm o "grau de investimento" e elogia a estratégia do
Banco Central de aproveitar a
liquidez internacional para aumentar as reservas em dólares.
O ex-diretor, que estava no
BC quando a dívida externa foi
renegociada em 1982, avalia
que a conjuntura interna e externa é bastante diversa. "Sofri
na carne o que é um país sem
reservas. A moratória causa um
impacto recessivo muito grande e praticamente exclui o Brasil da possibilidade de atrair investimentos externos."
Ajustes internos
Langoni adverte que há ajustes internos a fazer. Para ele, é
preciso reduzir o peso da dívida
pública em relação ao PIB. "Vamos em breve ter um patamar
abaixo de 40% e caminhar para
a média dos países que hoje têm
o "grau de investimento", que é
de 30%."
Alkimar Moura, diretor do
BC em 1987, quando o governo
Sarney decretou moratória da
dívida, e, depois, de 1994 a 1997,
afirma que o resultado é "muito
bom", mas tem mais importância financeira que econômica.
"Financeiramente indica que
o país superou os traumas de
endividamento de anos e anos,
que o risco-país pode cair e pode antecipar o "investment grade". Tudo isso tem de ser pesado contra o fato de que um
emergente, precisando crescer,
precisaria absorver poupança
interna para investir."
Moura pondera que a situação do Brasil como credor pode
se reverter. "Obviamente toda
essa entrada de capitais vai se
refletir na taxa de câmbio, torna o real valorizado, o que provavelmente atingirá a balança
comercial, reduzirá o superávit
ou provocará déficit." Ele avalia
que, para financiar o déficit, teria que captar dinheiro e voltar
a ser devedor líquido.
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