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Medidas podem atingir venda de veículos
Entre as propostas, está a redução do tempo de financiamento, que hoje se estende a até 7 anos, para um prazo em torno de 3 anos
Mantega terá encontros com representantes dos setores considerados mais problemáticos, entre os quais o de bancos e o de aço
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Fazenda
quer se antecipar a uma possível alta de juros por parte do
Banco Central e adotará medidas alternativas para tentar reduzir o crescimento do mercado de crédito, principal fonte
de sustentação do consumo. A
estratégia foi acertada com o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que não quer que o BC aumente os juros e interrompa o
atual ciclo de crescimento, como aconteceu em 2004.
Na época, diante de uma demanda aquecida, o BC elevou a
taxa Selic (referência para economia) para conter a inflação, e
o ritmo de expansão da produção nacional caiu de 5,7% para
3,2% no ano seguinte. Na ata da
última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), os
diretores do BC reforçaram a
ameaça de uma alta de juros.
Desta vez, o ministro Guido
Mantega (Fazenda) quer evitar
a repetição do "stop and go",
um movimento recorrente na
economia brasileira caracterizado por ciclos intercalados de
crescimento e estagnação.
Em recente reunião com a
área econômica, Lula perguntou quais as soluções para evitar pressão nos preços neste
ano e, sobretudo, na virada para
2009, fora a elevação dos juros.
Além de medidas para desacelerar a concessão de financiamentos, foi proposta a adoção
de incentivos à exportação.
Nessa linha, o ministro Miguel Jorge (Indústria e Comércio) deverá anunciar no início
do próximo mês uma política
de incentivo às vendas externas
e a idéia é que contemple as exportações de veículos. Esse é
um dos segmentos que mais
preocupam o governo por causa do aumento dos prazos dos
financiamentos concedidos.
Segundo a Folha apurou,
Mantega já tem sugestões da
sua equipe para conter o crédito nesse setor e em outros que
crescem mais rápido. Porém,
antes de defini-las, fará discussões com os setores que considera mais problemáticos.
Na quarta-feira, está previsto
um encontro com os presidentes dos principais bancos privados e com o presidente da Febraban (Federação Brasileira
dos Bancos), Fábio Barbosa.
Uma das sugestões é exigir
mais capital das instituições financeiras para fazer frente a
empréstimos considerados pelo governo longos demais. O
que tem assustado a equipe
econômica é que os prazos dos
financiamentos estão sendo esticados de tal forma que as garantias perdem o valor antes de
o consumidor pagar a dívida.
É o que acontece com um
carro financiado em sete anos
(84 meses), como já se verifica
no mercado. Nos cálculos do
governo, nesse período, o carro
se desvaloriza muito rapidamente e perde, pelo menos,
metade do seu valor antes de a
dívida ter sido quitada. A avaliação é que isso pode colocar
em risco a qualidade das carteiras de crédito dos bancos e,
portanto, esse prazo pode ser
reduzido para 36 meses.
Apesar de reconhecer que o
impulso ao consumo está sendo maior do que a capacidade
da economia de oferecer bens e
serviços, Mantega considera
que um aumento dos juros seria como "fazer quimioterapia"
no paciente. Além de travar a
economia, seria um atrativo
para capital externo especulativo, valorizaria o real diante do
dólar e puniria ainda mais os
exportadores.
O ministro reconhece que
crescimento econômico em
torno de 5%, 5,5% ao ano é sustentável, mas as últimas projeções apontam para a casa dos
6%. Se esse ritmo continuar,
poderá haver problemas mais à
frente. No entanto, Mantega
avalia que, como o Brasil ainda
está numa situação favorável,
apesar da turbulência internacional, o remédio a ser adotado
pode vir em doses homeopáticas e não precisa ser imediato.
Segundo relato de assessores
que participaram recentemente de reunião na Fazenda para
discutir o assunto, Mantega teria dito que "a hora em que está
tudo bem é a hora de se prevenir para o futuro".
Além da reunião com banqueiros, Mantega terá um encontro, na segunda-feira, com
representantes do Instituto
Brasileiro de Siderurgia. A
preocupação do ministro, neste caso, é avaliar a capacidade
de expansão da oferta para evitar o risco de falta do produto e
conter mais possíveis pressões
inflacionárias. Na sexta-feira, o
ministro debaterá a situação
com empresários do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Segundo a Folha apurou, o
ministro não está preocupado
com a inflação deste ano, que,
em sua avaliação, está sob controle. Sua preocupação maior é
com o aumento de preços e os
anos de 2009 e 2010.
Outra preocupação é que o
país receba uma enxurrada de
dólares, como resultado da
queda no juro dos EUA -o que
agravaria o quadro de "derretimento" da moeda americana,
expressão que ele já usou para
a queda do dólar.
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