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Construção civil volta a depender do governo
SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de ter vivido, entre
2007 e 2008, os melhores dias
dos últimos dez anos e ter puxado o crescimento da economia, a construção civil volta a
depender de políticas públicas.
O pacote habitacional preparado pelo governo, que deve ser
apresentado nesta semana, é a
única esperança do setor para
reverter a desaceleração e expandir-se em tempos de crise.
"Sem o pacote, corremos o risco de voltar ao patamar de cinco anos atrás, quando não havia
crédito nem garantias", afirma
Rogério Zylbersztajn, vice-presidente da RJZ-Cyrela.
Com expansão de 8%, o setor
puxou o crescimento de 5,1%
do PIB no ano passado, o melhor desempenho depois dos
setores bancários e de serviços
de informação. Foi o melhor resultado desde 1998.
Mas, por ser dependente do
crédito e das expectativas do
consumidor sobre o futuro, a
construção civil foi fortemente
atingida pela crise. No último
trimestre de 2008, expandiu-se
em apenas 2,1% em relação a
igual trimestre de 2007, atrás
de outros sete setores (na comparação, o PIB cresceu 1,3%).
A situação continua delicada
neste início de ano. "Observamos grande queda no volume
de vendas, o que tem levado as
construtoras a segurar novos
empreendimentos", diz Bruno
Oliveira, analista de construção
do banco Safra. "O governo surge como o único agente capaz
de suprir a necessidade das
construtoras. Sem o pacote, as
perspectivas são complicadas."
"O mercado imobiliário é ativo, capaz de responder rapidamente ao estímulo e, assim, minimizar os efeitos da crise", defende Paulo Simão, presidente
da Câmara Brasileira da Indústria da Construção.
O governo está sensível aos
argumentos. Como apurou recentemente a Folha, Lula deposita no setor as esperanças
de que o PIB não afunde. O déficit habitacional chega a 8 milhões de residências. O pacote
fomentaria a capacidade de
compra da baixa renda, que
tem pouco acesso ao crédito.
Esse público é alvo de 600 das
2.000 construtoras do país.
A expectativa é que o Tesouro Nacional entre com R$ 6,5
bilhões em incentivos. "Uma
política destinada a esse público pressupõe destinar recursos
a fundo perdido", afirma Kazuo
Nakano, arquiteto do Instituto
Pólis, que estuda políticas urbanas no país.
O setor pode ser ainda mais
beneficiado se for confirmado
o aumento no limite dos financiamentos pelo Sistema Financeiro da Habitação, dos atuais
R$ 350 mil para R$ 600 mil.
Especialistas criticam a formatação do pacote. "Está se resumindo a uma questão economicista, para atender um setor
que sempre dependeu do governo", diz Nakano. "Tratando
só de crédito, sem considerar a
ocupação urbana e a infraestrutura, o pacote vai levar à
criação de periferias sem estrutura, que teremos de resolver
no futuro", adverte.
Depois do período de contração entre 1998 e 2003, a construção entrou em um ciclo de
crescimento em 2004. O setor
foi incentivado pela criação de
mecanismos que permitiam a
retomada do imóvel dos inadimplentes, a queda nos juros e
o crescimento da economia.
A euforia do mercado de capitais também atingiu o setor.
Desde 2005, 22 construtoras
chegaram à Bolsa e levantaram
recursos. Os problemas começaram quando as empresas, para cumprir os planos de investimento, começaram a comprar terrenos a preços elevados
e lançar projetos que acabaram
encalhando. "A média-alta e a
alta renda demonstraram sinais de esgotamento", afirma
Nakano. "Daí o desespero para
atingir a baixa renda."
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