São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2010

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Execução de Belo Monte preocupa governo

Incerteza gira em torno da formação final do grupo vencedor e da maneira como projeto será viabilizado com perspectiva de lucro menor

Planalto esperava que grupo mais forte, encabeçado pela Andrade Gutierrez, ganhasse licitação; vencedor diz que preço ofertado é factível

VALDO CRUZ
LEILA COIMBRA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O resultado do leilão da hidrelétrica de Belo Monte, com deságio de 6%, e as perspectivas de mudança no consórcio Norte Energia criaram dúvidas no mercado e em parte do governo sobre a obra. Na avaliação do governo Lula, o consórcio terá um "lucro menor", mas terá de honrar os compromissos assumidos.
A avaliação, feita por um auxiliar direto de Lula, mostra a preocupação do governo com o valor ofertado pelo consórcio liderado por Chesf, Bertin e construtora Queiroz Galvão, que surpreendeu o governo. "Esperávamos que o grupo mais forte ganhasse e ofertasse o preço mais baixo possível", diz esse assessor.
Na fase de negociação, a equipe de Lula espera que os vencedores do leilão subcontratem, para execução das obras, ao menos duas das três grandes empreiteiras que ficaram de fora do projeto: Andrade Gutierrez, Norberto Odebrecht e Camargo Corrêa. As duas últimas desistiram de participar da disputa por discordarem do preço da energia, mas em seguida abriram negociações com a Andrade para integrar o consórcio caso ela fosse a vencedora.
A avaliação de técnicos do governo e de analistas é que, sem ao menos uma dessas empresas na construção, a obra corre riscos. Afinal, elas não só são as que têm maior experiência nesse tipo de obra como são as que mais conhecem o projeto.
No consórcio vencedor, a única empresa que tem experiência na construção de hidrelétricas é a Queiroz Galvão. O problema é que ela sozinha nunca atuou num projeto da magnitude de Belo Monte e, além disso, ameaça sair do grupo ganhador do leilão.
O consórcio Norte Energia, que enfrenta divisões internas com a ameaça da Queiroz Galvão de se retirar do grupo, ganhou o leilão com a oferta de preço de R$ 78 pelo megawatt-hora, valor 6,02% abaixo do teto fixado de R$ 83.
Maurício Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), disse que essa tarifa não poderá ser alterada, mesmo que o investidor venha a ter futuramente aumento nos custos de construção da usina.
"O contrato não permite revisão de seu equilíbrio financeiro. É um risco que o empreendedor assume."
Na terça, logo após o leilão, o consórcio disse que o preço ofertado era factível e que bancaria o custo do projeto, estimado em R$ 19 bilhões pelo governo. "Minhas avaliações, com as equipes técnicas do consórcio, mostram que dá para fazer a obra com a tarifa colocada", afirmou José Ailton de Lima, diretor de engenharia e construção da Chesf.
Além das empreiteiras, o consórcio vencedor negociará com os fundos de pensão Petros e Funcef para entrarem como sócios estratégicos. A entrada tem o patrocínio do governo, para dar "musculatura" financeira aos ganhadores.
O Norte Energia deve buscar também fazer sociedade com autoprodutores de energia, como CSN e Gerdau, além de equacionar a situação da Queiroz Galvão, que pediu prazo de sete dias para decidir se permanece no consórcio.


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