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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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Empresários dizem que manter taxa em 26,5% põe em xeque a expansão prevista para o próximo ano

Juros já comprometem 2004, diz indústria

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A manutenção dos juros nos atuais patamares já põe em xeque a expectativa de produção industrial para o início de 2004. A avaliação foi feita ontem pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que representa 129 sindicatos patronais no país. Lideranças do varejo informaram também que a expansão do setor no começo do próximo ano já está "contaminada" pelo mau desempenho deste ano.
"Em 2003, já não devemos crescer o 1% esperado. Ficamos no zero a zero. Para o próximo ano, a expansão está em xeque", afirma Abram Szajman, presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
Em nota divulgada por Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp, "juros caros e crédito escasso empobrecem o país, comprometendo a produção num horizonte que já inclui os primeiros meses de 2004". Para ele, há "excesso de conservadorismo".
A manutenção da taxa em 26,5% ao ano causou perplexidade entre outros empresários ouvidos pela Folha. "O mundo não trabalha com taxas nesses patamares nem usa os juros como mecanismo único de controle inflacionário. Vai ver nós somos os únicos que estamos certos e o mundo todo está errado", disse Carlos de Paiva Lopes, da Abinee, entidade da área eletrônica.
Esse setor acumula ociosidade de até 30% nas fábricas. Isso por causa das vendas em queda, resultado na forte retração na renda.
Na avaliação de Bóris Tabacof, presidente do conselho deliberativo da Bracelpa, o governo está dando um "tiro no pé". Ele não acredita que a possibilidade de um novo repique inflacionário seja a razão principal para a manutenção dos juros nos atuais níveis.
"O empresário estrangeiro que investe no país aplica o dinheiro por causa de nosso mercado consumidor. Com o consumo nos atuais níveis baixíssimos, o governo dá um tiro no pé. Ele afugenta esse capital", diz. " Para fazer isso, [o governo] deve ter razões ligadas à necessidade de passar uma imagem de severidade ao mercado internacional. E quem paga a conta somos nós."

Ano perdido
Nos setores responsáveis pelas indústrias de base e de bens de capital também houve forte reação negativa. Como esse setor empresta recursos para investimento, acaba pagando juros elevados se a taxa não cai. "Acho que prevaleceu uma prudência, talvez excessiva [do BC], ao considerar o panorama negro internacional que está mostrando que vai vir tempestade", disse José Augusto Marques, presidente da Abdib (reúne a área de infra-estrutura).
Assim como a Fiesp, o empresário Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq, da área de máquinas e equipamentos, diz que não há necessidade de usar os juros para controlar possíveis soluços na inflação. "Não temos inflação de demanda, mas inflação de custo, provocada pelo descontrole da taxa cambial. Se persistir a decisão de manter os juros elevados, poderemos caminhar para uma recessão", disse.
Empresários do varejo consideram "praticamente perdido" o ano de 2003. E discutem se há chance de expansão em 2004. Segundo o IBGE, em março o varejo no país atingiu um dos mais baixos níveis de vendas da história.
Guilherme Afif Domingos, da Associação Comercial de São Paulo, diz que a decisão do Copom representa a "continuação do saque ao setor produtivo". (Colaboraram Claudia Rolli e Fatima Fernandes)


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