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Empresários dizem que manter taxa em 26,5% põe em xeque a expansão prevista para o próximo ano
Juros já comprometem 2004, diz indústria
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A manutenção dos juros nos
atuais patamares já põe em xeque
a expectativa de produção industrial para o início de 2004. A avaliação foi feita ontem pela Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que representa 129 sindicatos patronais no
país. Lideranças do varejo informaram também que a expansão
do setor no começo do próximo
ano já está "contaminada" pelo
mau desempenho deste ano.
"Em 2003, já não devemos crescer o 1% esperado. Ficamos no zero a zero. Para o próximo ano, a
expansão está em xeque", afirma
Abram Szajman, presidente da
Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
Em nota divulgada por Horacio
Lafer Piva, presidente da Fiesp,
"juros caros e crédito escasso empobrecem o país, comprometendo a produção num horizonte
que já inclui os primeiros meses
de 2004". Para ele, há "excesso de
conservadorismo".
A manutenção da taxa em
26,5% ao ano causou perplexidade entre outros empresários ouvidos pela Folha. "O mundo não
trabalha com taxas nesses patamares nem usa os juros como mecanismo único de controle inflacionário. Vai ver nós somos os
únicos que estamos certos e o
mundo todo está errado", disse
Carlos de Paiva Lopes, da Abinee,
entidade da área eletrônica.
Esse setor acumula ociosidade
de até 30% nas fábricas. Isso por
causa das vendas em queda, resultado na forte retração na renda.
Na avaliação de Bóris Tabacof,
presidente do conselho deliberativo da Bracelpa, o governo está
dando um "tiro no pé". Ele não
acredita que a possibilidade de
um novo repique inflacionário seja a razão principal para a manutenção dos juros nos atuais níveis.
"O empresário estrangeiro que
investe no país aplica o dinheiro
por causa de nosso mercado consumidor. Com o consumo nos
atuais níveis baixíssimos, o governo dá um tiro no pé. Ele afugenta
esse capital", diz. " Para fazer isso,
[o governo] deve ter razões ligadas à necessidade de passar uma
imagem de severidade ao mercado internacional. E quem paga a
conta somos nós."
Ano perdido
Nos setores responsáveis pelas
indústrias de base e de bens de capital também houve forte reação
negativa. Como esse setor empresta recursos para investimento, acaba pagando juros elevados
se a taxa não cai. "Acho que prevaleceu uma prudência, talvez excessiva [do BC], ao considerar o
panorama negro internacional
que está mostrando que vai vir
tempestade", disse José Augusto
Marques, presidente da Abdib
(reúne a área de infra-estrutura).
Assim como a Fiesp, o empresário Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq, da área de
máquinas e equipamentos, diz
que não há necessidade de usar os
juros para controlar possíveis soluços na inflação. "Não temos inflação de demanda, mas inflação
de custo, provocada pelo descontrole da taxa cambial. Se persistir
a decisão de manter os juros elevados, poderemos caminhar para
uma recessão", disse.
Empresários do varejo consideram "praticamente perdido" o
ano de 2003. E discutem se há
chance de expansão em 2004. Segundo o IBGE, em março o varejo
no país atingiu um dos mais baixos níveis de vendas da história.
Guilherme Afif Domingos, da
Associação Comercial de São
Paulo, diz que a decisão do Copom representa a "continuação
do saque ao setor produtivo".
(Colaboraram Claudia Rolli e Fatima Fernandes)
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