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Para Arturo Porzecanski, do ABN Amro, 2003 é um ano de ajustes e seria precipitado cortar juro agora
BC ganha credibilidade, diz analista dos EUA
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O economista-chefe para mercados emergentes do banco ABN
Amro, Arturo Porzecanski, diz
que a decisão do Copom de manter a taxa básica de juros é boa para a imagem do Banco Central.
"A credibilidade do BC cresceu
tremendamente", afirma Porzecanski, 53, em referência à pressão por juros mais baixos por que
o BC passou nas últimas semanas.
Folha - O que o sr. achou da decisão do Copom?
Arturo Porzecanski - Achei ótima. A inflação ainda está bem acima dos objetivos originais, já tínhamos que ter inflação de menos de 4%. Segundo, o fato de o
BC [decidir] de forma unânime,
apesar das pressões enormes da
comunidade empresarial e do vice-presidente, deixa-nos impressionados. A credibilidade do BC
cresceu tremendamente.
A reação inicial no mercado de
câmbio e no mercado de títulos
foi nessa direção. A seriedade do
BC do Henrique Meirelles contrasta com aquela do BC do Armínio Fraga, em particular no último ano, no qual os agregados
monetários e a inflação fugiram
do controle. Assim como o Ministério da Fazenda com o Palocci é
muito mais ortodoxo do que o
Ministério da Fazenda com Malan, estamos observando a mesma coisa no BC. Diria que vamos
quebrar essa onda inflacionária.
Folha - Quando?
Porzecanski - Nos próximos meses. Acho que pode ser na próxima reunião de junho ou na de julho, o BC vai ter espaço para começar a baixar os juros e vai poder fazê-lo sabendo que essa decisão foi baseada não na observação
de um mês de inflação em queda,
mas de pelo menos dois meses. E
o mercado vai saber que não foi
feito por pressão política.
Folha - Qual o tamanho desse espaço até o final do ano?
Porzecanski - Minha impressão é
que, como eles nem colocaram o
viés para baixo, provavelmente
vão começar a caminhar na direção dos cortes de maneira conservadora. Acho que eles vão ser bem
pragmáticos.
Folha - Qual o preço dessa batalha contra a inflação? Quanto os juros nesse patamar vão afetar o
crescimento do país?
Porzecanski - 2003, como Lula
falou, é um ano de transição. Basicamente, tudo o que não foi feito
pelo governo Cardoso em 2002
tem que ser feito agora -mais juros. Quando você perde a luta
contra a inflação, é muito mais difícil controlar. Minha opinião é
que este é um ano para fazer todos
os ajustes e depois recolher os frutos, com crescimento mais acelerado, inflação de um dígito, sem
preocupações com rolagem da dívida pública
Folha - Como vai se desenrolar a
pressão sobre o BC?
Porzecanski - Evidentemente,
eles tiveram convicção própria e
também, provavelmente, apoio
do presidente Lula e do Ministério da Fazenda, espaço político
para fazer o que tinha que ser feito. Minha experiência é que, por
ter pagado esse preço de adiar por
um ou dois meses a queda de juros, todo mundo vai recolher benefícios, porque a queda dos juros
vai ser liderada pelo mercado e irá
muito mais longe do que uma
queda artificial.
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