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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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Para Arturo Porzecanski, do ABN Amro, 2003 é um ano de ajustes e seria precipitado cortar juro agora

BC ganha credibilidade, diz analista dos EUA

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O economista-chefe para mercados emergentes do banco ABN Amro, Arturo Porzecanski, diz que a decisão do Copom de manter a taxa básica de juros é boa para a imagem do Banco Central.
"A credibilidade do BC cresceu tremendamente", afirma Porzecanski, 53, em referência à pressão por juros mais baixos por que o BC passou nas últimas semanas.

Folha - O que o sr. achou da decisão do Copom?
Arturo Porzecanski -
Achei ótima. A inflação ainda está bem acima dos objetivos originais, já tínhamos que ter inflação de menos de 4%. Segundo, o fato de o BC [decidir] de forma unânime, apesar das pressões enormes da comunidade empresarial e do vice-presidente, deixa-nos impressionados. A credibilidade do BC cresceu tremendamente.
A reação inicial no mercado de câmbio e no mercado de títulos foi nessa direção. A seriedade do BC do Henrique Meirelles contrasta com aquela do BC do Armínio Fraga, em particular no último ano, no qual os agregados monetários e a inflação fugiram do controle. Assim como o Ministério da Fazenda com o Palocci é muito mais ortodoxo do que o Ministério da Fazenda com Malan, estamos observando a mesma coisa no BC. Diria que vamos quebrar essa onda inflacionária.

Folha - Quando?
Porzecanski -
Nos próximos meses. Acho que pode ser na próxima reunião de junho ou na de julho, o BC vai ter espaço para começar a baixar os juros e vai poder fazê-lo sabendo que essa decisão foi baseada não na observação de um mês de inflação em queda, mas de pelo menos dois meses. E o mercado vai saber que não foi feito por pressão política.

Folha - Qual o tamanho desse espaço até o final do ano?
Porzecanski -
Minha impressão é que, como eles nem colocaram o viés para baixo, provavelmente vão começar a caminhar na direção dos cortes de maneira conservadora. Acho que eles vão ser bem pragmáticos.

Folha - Qual o preço dessa batalha contra a inflação? Quanto os juros nesse patamar vão afetar o crescimento do país?
Porzecanski -
2003, como Lula falou, é um ano de transição. Basicamente, tudo o que não foi feito pelo governo Cardoso em 2002 tem que ser feito agora -mais juros. Quando você perde a luta contra a inflação, é muito mais difícil controlar. Minha opinião é que este é um ano para fazer todos os ajustes e depois recolher os frutos, com crescimento mais acelerado, inflação de um dígito, sem preocupações com rolagem da dívida pública

Folha - Como vai se desenrolar a pressão sobre o BC?
Porzecanski -
Evidentemente, eles tiveram convicção própria e também, provavelmente, apoio do presidente Lula e do Ministério da Fazenda, espaço político para fazer o que tinha que ser feito. Minha experiência é que, por ter pagado esse preço de adiar por um ou dois meses a queda de juros, todo mundo vai recolher benefícios, porque a queda dos juros vai ser liderada pelo mercado e irá muito mais longe do que uma queda artificial.


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