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ARTIGO
Retorno do Brasil supera 1.000%
JOHN AUTHERS
DO "FINANCIAL TIMES"
É fácil desconsiderar o Brasil.
Afinal, os mercados estão animados pelo índice Standard &
Poor's 500 (S&P 500) ter batido um recorde histórico. Mesmo assim, o Brasil merece mais
atenção, por ter oferecido aos
investidores retornos líquidos
superiores a 1.000%, em termos de dólares, em menos de
cinco anos.
Na semana passada, a Standard & Poor's melhorou a classificação da dívida soberana
brasileira. Agora, os papéis do
país estão apenas um grau abaixo da categoria investimento.
Isso serviu como catalisador
para que o real brasileiro concluísse uma longa recuperação,
superando a marca dos US$
0,50 pela primeira vez desde
2000. O real avançou em 100%
diante do dólar, com relação à
sua marca de maior baixa recente, em outubro de 2002,
quando se tornou claro que o
esquerdista Luiz Inácio Lula da
Silva conquistaria a presidência. Os títulos do país agora estão sendo vendidos com ágio de
rendimento de apenas 140 pontos básicos (1,4 ponto percentual) diante dos papéis do Tesouro dos Estados Unidos, de acordo com o J. P. Morgan; esse
é o menor ágio já registrado, e
fica bem abaixo dos 2.400 pontos básicos que esse indicador
registrava quando Lula foi eleito. O índice Bovespa, referência
das Bolsas brasileiras, avançou
em 520% desde que Lula foi
eleito, ou espantosos 1.146%
em termos de dólares.
Em longo prazo, essa recuperação se deve aos progressos
brasileiros quanto à disciplina
fiscal e monetária. A onda de
vendas nos dias que antecederam a vitória de Lula intensificou a recuperação: acontece
que os mercados estavam completamente errados sobre ele.
Em curto prazo, o episódio
revela alguma coisa sobre o poder das agências de classificação de crédito. Uma promoção
dos papéis brasileiros ao grau
de investimento que o Citigroup prevê para o segundo semestre do ano que vem permitiria que investidores institucionais norte-americanos e europeus, que em termos práticos
transferem às agências de classificação de crédito a responsabilidade pela avaliação de riscos, investissem em papéis públicos brasileiros. Mas o mercado está adiante das agências.
Quando os títulos da dívida
pública mexicana receberam
classificação de investimento,
cinco anos atrás, deflagrando
uma alta prolongada, os papéis
do país estavam sendo negociados com ágio de 300 pontos básicos diante dos títulos do Tesouro norte-americano. O ágio
brasileiro já está abaixo da metade dessa marca, ainda que o
país não tenha recebido classificação de investimento.
Os mercados agora estão
mais confiantes em suas conclusões sobre os papéis de dívida emergente, sem esperar pelas agências. Resta determinar
se isso é ou não um ponto positivo.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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