São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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ARTIGO

Retorno do Brasil supera 1.000%

JOHN AUTHERS
DO "FINANCIAL TIMES"

É fácil desconsiderar o Brasil. Afinal, os mercados estão animados pelo índice Standard & Poor's 500 (S&P 500) ter batido um recorde histórico. Mesmo assim, o Brasil merece mais atenção, por ter oferecido aos investidores retornos líquidos superiores a 1.000%, em termos de dólares, em menos de cinco anos.
Na semana passada, a Standard & Poor's melhorou a classificação da dívida soberana brasileira. Agora, os papéis do país estão apenas um grau abaixo da categoria investimento.
Isso serviu como catalisador para que o real brasileiro concluísse uma longa recuperação, superando a marca dos US$ 0,50 pela primeira vez desde 2000. O real avançou em 100% diante do dólar, com relação à sua marca de maior baixa recente, em outubro de 2002, quando se tornou claro que o esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva conquistaria a presidência. Os títulos do país agora estão sendo vendidos com ágio de rendimento de apenas 140 pontos básicos (1,4 ponto percentual) diante dos papéis do Tesouro dos Estados Unidos, de acordo com o J. P. Morgan; esse é o menor ágio já registrado, e fica bem abaixo dos 2.400 pontos básicos que esse indicador registrava quando Lula foi eleito. O índice Bovespa, referência das Bolsas brasileiras, avançou em 520% desde que Lula foi eleito, ou espantosos 1.146% em termos de dólares.
Em longo prazo, essa recuperação se deve aos progressos brasileiros quanto à disciplina fiscal e monetária. A onda de vendas nos dias que antecederam a vitória de Lula intensificou a recuperação: acontece que os mercados estavam completamente errados sobre ele.
Em curto prazo, o episódio revela alguma coisa sobre o poder das agências de classificação de crédito. Uma promoção dos papéis brasileiros ao grau de investimento que o Citigroup prevê para o segundo semestre do ano que vem permitiria que investidores institucionais norte-americanos e europeus, que em termos práticos transferem às agências de classificação de crédito a responsabilidade pela avaliação de riscos, investissem em papéis públicos brasileiros. Mas o mercado está adiante das agências.
Quando os títulos da dívida pública mexicana receberam classificação de investimento, cinco anos atrás, deflagrando uma alta prolongada, os papéis do país estavam sendo negociados com ágio de 300 pontos básicos diante dos títulos do Tesouro norte-americano. O ágio brasileiro já está abaixo da metade dessa marca, ainda que o país não tenha recebido classificação de investimento.
Os mercados agora estão mais confiantes em suas conclusões sobre os papéis de dívida emergente, sem esperar pelas agências. Resta determinar se isso é ou não um ponto positivo.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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