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Para economistas, Estado deve reduzir custeio
Na crise, governo deve concentrar despesas em investimentos, afirmam palestrantes do Fórum Nacional
DA SUCURSAL DO RIO
Encerrada ontem no Rio, a
21ª edição do Fórum Nacional
gerou pelo menos um consenso: o país deve conter, nestes
tempos de crise, o crescimento
dos gastos de custeio da máquina pública, a fim de liberar mais
recursos para investimentos e
reforçar seu caixa para poder
manter as políticas anticíclicas
adotadas até agora com relativo
sucesso pelo governo.
Entre os presentes aos debates, compartilharam de tal opinião os economistas Raul Velloso, Affonso Celso Pastore e
João Paulo dos Reis Velloso
-que preside o Inae (Instituto
Nacional de Altos Estudos),
responsável pelo fórum.
"O problema é que o investimento público está desaparecendo e ele é indispensável neste momento para fomentar a
economia", avalia Reis Velloso.
Em 1987, um ano antes de a
Constituição "cidadã" de 1988
criar uma série de vinculações
orçamentárias, 16% da despesa
pública total era destinada aos
investimentos. Esse percentual
caiu para 3% nos primeiros
anos do governo Lula e só se recuperou para a faixa atual de
5% a 6% graças ao aumento
"excepcional" da arrecadação
nos últimos dois anos, segundo
Raul Velloso.
Especializado em finanças
públicas, o economista diz que
85% das despesas da União são
referentes a pagamento a pessoas. Nesse bolo estão a folha
de pagamento, os programas
sociais e o INSS -que responde, sozinho, por 21% do total.
Isso, diz, "engessa" o Orçamento e impede a expansão das
atuais políticas anticíclicas levadas adiante pelo governo
-como as desonerações fiscais
promovidas para estimular setores importantes da economia. "Como a receita não vai
subir por causa da crise, temos
de conter gastos de custeio",
concorda Reis Velloso.
Para o economista Affonso
Celso Pastore, o governo acertou ao adotar políticas de estímulo à economia e só teve fôlego para tal graças a medidas
questionadas por muitos no
passado. Citou a "desdolarização" da dívida pública e o acúmulo de reservas cambiais.
"Muitos diziam: "Não vale a
pena fazer isso porque é muito
caro". Mas foram medidas importantes e que agora permitem a adoção de políticas anticíclicas", afirmou.
O presidente do Ipea, Marcio
Pochmann, disse ainda que o
ajuste promovido possibilitou
o reajuste real do salário mínimo e a expansão do número de
beneficiários do programa Bolsa Família. Ambos, diz, geraram uma massa adicional de
consumo, que também contribuiu para conter o desaquecimento da economia provocado
pela crise.
Bolsa Família
Ontem, no último dia do fórum, os programas sociais do
governo foram debatidos. O ex-secretário de Planejamento da
Presidência da República Roberto Cavalcanti de Albuquerque analisou como positiva a
transferência pública de renda
por meio da Previdência Social
e do Bolsa Família. No entanto,
em sua avaliação, a inserção
dos mais pobres na economia
só será assegurada "através da
ocupação".
Para ele, é necessário superar
as desvantagens enfrentadas
pelas camadas mais populares,
principalmente no que se refere à escolaridade.
Cláudio de Moura Castro, ex-chefe da área social do Banco
Interamericano de Desenvolvimento, ressaltou, em sua palestra, que, além da escolarização
maior, é necessário oferecer
também uma educação de qualidade à população.
Segundo ele, os estudos sociais devem analisar esse aspecto para avaliar melhor o
motivo das desvantagens enfrentadas pelos mais pobres.
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