São Paulo, sábado, 22 de maio de 2010

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ROBERTO RODRIGUES

Aviso trágico


O vazamento no golfo do México é mais um elemento para avaliar as extraordinárias vantagens da agroenergia

FAZ UM mês que começou o vazamento de petróleo no golfo do México, com o acidente trágico da explosão na plataforma de prospecção submarina operada pela BP (British Petroleum), em que 11 trabalhadores morreram e 17 ficaram feridos.
Está evidente a dificuldade para conter o vazamento localizado na boca do poço a 1.500 metros da superfície do mar, um terço da profundidade do nosso pré-sal, que está entre 5.000 e 7.000 metros. Felizmente a Petrobras tem a melhor experiência entre as petroleiras do mundo todo na exploração em plataforma continental.
Nem o governo americano nem a BP anteciparam esse desastre e, para mitigar os danos, a BP aplicou enormes quantidades de dispersante no mar -a maior parte diretamente no local do vazamento-, tentando evitar que parcela do petróleo chegasse à superfície marinha. Essa operação é polêmica, pois técnicos especialistas acreditam que o dispersante aplicado é tóxico, piorando a questão ambiental.
O acidente deve superar em gravidade o que ocorreu no Alasca com o petroleiro Exxon Valdez, em 1989, quando 42 milhões de litros vazaram, matando milhares de pássaros e animais marinhos, destruindo várias empresas pesqueiras e de turismo, com efeitos negativos visíveis até hoje.
O desastre do golfo do México ainda não está medido porque as informações são extremamente díspares: alguns analistas afirmam que o vazamento pode ser da ordem de 800 mil litros de petróleo por dia; mas outros informam que ele pode chegar a 15 milhões de litros por dia.
Diante de tamanha diferença -que pode ser debitada à impossibilidade de saber o que é certo ou ao fato de não haver interesse em publicar o número correto-, fica difícil calcular de maneira adequada os prejuízos decorrentes.
Se imaginarmos, entretanto, um valor médio entre esses números possíveis, que seria da ordem de 240 milhões a 250 milhões de litros neste mês, e considerando o preço do petróleo a US$ 83 o barril, o prejuízo direto até agora, só em perdas econômicas, já é de US$ 125 milhões, além da plataforma perdida, que valia outros US$ 350 milhões.
Estima-se que cada dia de vazamento represente US$ 10 milhões em perdas de produtos e custos operacionais na contenção do vazamento; e que as perdas econômicas em turismo e pesca podem chegar a US$ 5,5 bilhões; e não há condições de saber o brutal impacto ambiental do evento. No entanto, é notório que a mancha de petróleo já cobre 6.500 km2, uma enormidade.
Caso esse derramamento fosse de etanol, produto totalmente miscível com água e biodegradável, as consequências seriam enormemente menos impactantes e custosas.
Corrigindo para densidade e conteúdo energético do vazamento de petróleo, a Unica calcula que o volume corresponderia a 400 milhões de litros de etanol hidratado, o que seria produzido em 60 mil hectares, onde milhares de empregos seriam gerados sequestrando CO2 e produzindo um biocombustível que emite 89% menos CO2 que a gasolina derivada do petróleo.
Oxalá a BP consiga conter o derramamento o mais rápido possível, para reduzir as perdas já formidáveis.
Mas esse é mais um elemento para avaliar as extraordinárias vantagens da agroenergia sobre o combustível fóssil e para pensar nos riscos existentes na exploração a grandes profundidades.


ROBERTO RODRIGUES , 67, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura (governo Lula). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.

rr.ceres@uol.com.br


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